No período de Carnaval, as cores do arco-íris, representando a diversidade, sobretudo a comunidade LGBTQIAPN+, se misturam ao brilho e colorido da festa, que está de volta após o hiato de dois anos em razão da pandemia da Covid-19. No entanto, quando a representatividade é analisada a fundo na celebração, principalmente nos lugares de destaque, a ausência dessas pessoas também fica em evidência.
A drag queen Nininha Problemática é cantora, soteropolitana e trabalha com essa arte há seis anos. Agora, será a primeira vez que ela vai subir em um palco no Carnaval de Salvador com o devido destaque. A drag está na programação do Palco Brisa, no Espaço Cultural Barroquinha, e na Varanda da Folia, na Praça Castro Alves.
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Em entrevista ao Fervo das Cores, do Portal iBahia, a artista destacou a felicidade em ver o trabalho sendo reconhecido na cidade onde nasceu e cresceu. “É a realização de um sonho estar nesses dias de Carnaval. Para mim é ser porta-voz e representar uma massa que diariamente é invisibilizada, silenciada. Então, ter uma bixa preta em cima de um palco, cantando e dando voz a outras bixas pretas, é muito forte, simbólico demais”, disse.
Nininha ainda reforçou que há uma ausência de grandes referências da comunidade no estado. “A última referência forte LGBTQIAP+ que a Bahia teve é a Leo Kret do Brasil. Entre ela e o meu surgimento existe um buraco, uma lacuna, que não foi ocupada. Então, eu estar nesse lugar de levar essa representatividade para a nova geração, de mostrar que é possível, é muito importante”.
Com mais de 200 mil seguidores nas redes sociais, a drag, que já tem parcerias musicais com Léo Kret, Pepita e Miguella Magnata, enfatizou que promete aproveitar a oportunidade de estrear na festa momesca.
“Primeira vez sendo convidada pela Prefeitura de Salvador, primeira vez que vou estar realmente como uma artista, cantora, respeita, no Carnaval. No dia do lançamento da festa, ter meu nome citado pelo prefeito da cidade, Bruno Reis, para mim foi uma grande importância. Então, está sendo uma responsabilidade muito grande estar nesse lugar, que eu pretendo aproveitar com bastante sabedoria, dedicação, arte, muito close e looks icônicos”.
Uma das maiores alegrias de Nininha é perceber o apoio que vem recebendo nos últimos dias, após o anúncio da participação na festa. “Eu estou vendo as pessoas celebrando também, pois elas sabem da minha luta, de quantas coisas tenho aberto mão para mostrar que meu trabalho é bom, que tem relevância para o mercado musical. Então, para mim, é estar chegando lá”.
E complementou: “Eu ainda não cheguei, pois há coisas muito maiores para conquistar, mas esse já é um grande começo para mostrar para a galera que está me dando uma oportunidade que eu tenho demanda”.
Carreira
Para chegar nessa fase da carreira, Nininha passou por um processo de transição profissional, já que inicialmente seu trabalho era conhecido pelas produções de humor na internet. A ideia de mudar para a área musical surgiu após perceber a carência de drags que levassem o ritmo baiano para o mundo.
“Acabei caindo meio que de paraquedas no cenário musical, após um período trabalhando apenas na internet. A ideia surgiu pela necessidade mesmo de ver pessoas como eu representadas dentro da música, que Pabllo Vittar, como drag queen, acabou abrindo portas. Eu acompanho a carreira dela desde o começo, porém eu não via ninguém fazendo algo parecido aqui na minha comunidade, trazendo o ritmo da Bahia, que é o pagodão, a quebradeira, com essa vertente da favela”.
E seguiu dizendo: “Foi um processo muito longo e árduo para começar a ser levada a sério no cenário musical, até aqui na Bahia, porque as pessoas me viam apenas como uma personagem de humor. Então, para ser levada a sério foi bem difícil, tanto que eu conheço muitas pessoas da música baiana, porém não tenho essa abertura para fazer colaborações”.
Mesmo com todas as adversidades, a cantora reforçou que a persistência é o caminho para o sucesso. “Não podemos desistir dos nossos sonhos. Sem é mais difícil para pessoas como nós, que é preta, de periferia. Quando é LGBTQIAP+ é mais difícil ainda, porque são vários recortes, várias camadas, e tem muitas pessoas que não querem que a gente ocupe esses espaços. Porém, nossa ancestralidade é de luta, é de garra. Nós somos herdeiros de um povo muito rico culturalmente, então nós nascemos para lutar e para vencer”, enfatizou.
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Elson Barbosa
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