A literatura é uma ferramenta capaz de transformar mundos, mostrar outras perspectivas e ampliar conhecimentos. E foi através dessa arte que os autores Gut Simon, Ana Ester, Bob Luiz Botelho e Tania Afonso decidiram construir o livro “Semente de Vida: rejeição e aceitação de filhos/as/es LGBTI+ em lares cristãos”, que aborda a relação entre a religiosidade e a população LGBTI+.
Para além de falarem apenas sobre o assunto, eles produziram um projeto baseado na pesquisa, através de uma escuta ativa, buscando compreender e analisar as famílias cristãs que possuem filhos da comunidade, e como que se dá o processo de aceitação e da rejeição dessas crianças e jovens.
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Em entrevista ao Fervo das Cores, do portal iBahia, o comunicador social Gut Simon, que é católico e bissexual, detalhou como foi o processo de construção do livro e destacou o diálogo com especialistas da saúde mental, teologia, ciências políticas, para entender de que forma a religiosidade atravessa o debate das identidades LGBTI+.
“Para nós foi muito importante entrar nesse campo de pesquisa, olhando para as dores que atravessam tanto quem está sendo agredido, sofrendo a violência, como para quem muitas das vezes acaba sendo o causador dessa violência. O que a gente compreendeu, escutando esses dois lados, foi a influência de um discurso fundamentalista religioso cristão, que vem há séculos reproduzindo a ideia de condenação a essas identidades, que LGBT’s não merecem o reino dos céus, por exemplo, ou até mesmo a associação com o pecado”, disse.
Infelizmente, a interpretação de alguns discursos religiosos acaba gerando padrões de comportamentos, que causam prejuízos sociais, psicológicos, incalculáveis. Isso pode ser visto, inclusive, no ciclo de violência que rodeia a comunidade LGBTI+ diariamente.
Simon destacou que isso gera um sentimento de não pertencimento à família, à sociedade. “Isso começa na família e depois é reproduzido nas escolas, no ambiente de trabalho, no acesso à saúde, na falta de representatividade na política, assim como na falta de políticas públicas para essa população. E todo esse ciclo, que vai se retroalimentando, culmina em violência. Ou seja, conseguimos notar que o que acontece no micro, nesses lares cristãos, acaba repercutindo na sociedade e vice-versa”, apontou.
Diferentemente do que acontece em muitos lares cristãos, Gut Simon foi bem aceito quando assumiu a bissexualidade. Apesar da experiência que chama de “fora da curva”, ele testemunhou de perto casos complemente diferentes com amigos.
“Vi muitos sendo rechaçado nas suas igrejas ou sofrendo violências físicas... Então, isso tudo me levou a questionar sobre qual era a raiz desse desconhecimento ou por qual motivo nós, LGBT’s, somos tão ameaçadores na sociedade, sendo que a gente só quer ser quem a gente é, amar quem a gente ama. Então, acho que a pesquisa vem disso, de o quanto esse medo ele acabou sendo influenciado por uma visão de um Deus que é rígido, que é hierárquico, e para trazer luz para a necessidade da gente propagar uma outra visão de Deus, que celebra, que nos entende como imagem e semelhando d’Ele”.
Apesar de não classificarem o livro como sendo um projeto religioso, a produção apresenta um compilado de declarações de lideranças, coletivos e organizações, que buscam mostrar a visão de um Deus que celebra e afirma a diversidade.
Durante o bate-papo, Gut enfatizou que ‘Semente de Vida’ tem dois objetivos: “O primeiro é de denunciar essa crescente violência contra a comunidade LGBTI+, e o quanto isso é inflamado por um discurso religioso. E a segunda intenção do livro é fazer um anúncio, trazer luz para todo um campo progressista religioso, que já vem propagando uma nova imagem de Deus, que celebra a nossa existência. Então, o nosso objetivo é fortalecer as nossas alianças, dizendo que essa defesa dos nossos direitos precisa passar por essa camada mais sútil, mais objetivo dos afetos”.
E complementou: “Esse livro é um convite para que a gente entenda que precisa trazer a religião para esse debate. Acho que as últimas eleições deixaram muito claro o quando é fundamental trazer o debate para essa ceara também, e a gente tem muito o que aprender com as lideranças, organizações, coletivos, influenciadores religiosos, que veem fazendo um trabalho muito bonito de acolher na base e de ecoar um Deus que celebra a diversidade”.
Os interessados em conhecer mais detalhes sobre o livro podem conferir as informações no perfil do Instagram @livrosementedevida ou no site www.editorasabercriativo.com.br. A produção literária custa R$69,80.
SOBRE AS PESSOAS AUTORAS:
Gut Simon é comunicador social e ativista LGBTI+. Bissexual, homem cisgênero e católico, possui ampla experiência com advocacy, mobilização e comunicação de causas sociais no Terceiro Setor.
Ana Ester é Jornalista, teóloga, mestra e doutora em Ciências da Religião. Pessoa lésbica e cisgênera, é clériga ordenada pelas Igrejas da Comunidade Metropolitana e co-chair na Global Interfaith Network.
Bob Luiz Botelho é Reverendo pela Iglesia Antigua de las Americas. Gay, cisgênero, teólogo, geógrafo, pesquisador em diversidade e cofundador do Evangélicxs Pela Diversidade.
Tania Afonso é Mestre em Linguística e doutora em Educação pela UFMG. Mulher cisgênera e heterossexual, é mãe de uma criança arco-íris de nove anos de idade.
Confira:
Elson Barbosa
Elson Barbosa
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