Autor de um dos maiores sucesso da literatura afro-brasileira nos últimos 5 anos, o geógrafo e doutor em estudos étnicos e africanos pela Ufba, Itamar Vieira Junior lança na quinta-feira (4) o segundo livro da trilogia que compõe Torto Arado, a obra Salvar o Fogo, no Teatro Jorge Amado, com ingressos esgotados para o evento.
A capital baiana foi a cidade escolhida para receber o primeiro encontro da book tour, e não por acaso. Em suas obras, o soteropolitano faz questão de ter a Bahia como cenário para contar histórias como as das irmãs Bibiana e Belonísia, em Torto Arado, e agora a de Moisés em Salvar o Fogo.
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Após uma viagem pelo Japão, o autor desembarcou em Salvador para dar início a book tour e durante a passagem pela capital baiana, Itamar Vieira Junior, conversou com o iBahia sobre a nova obra e a repercussão de seu trabalho ao redor do mundo. Confira o bate-papo:
Depois do sucesso de Torto Arado, houve uma pressão para lançar Salvar o Fogo e obter o mesmo alcance e sucesso com a obra?
Não teve pressão nenhuma. Assim, teve um momento que eu achei que Torto Arado poderia provocar um bloqueio meu mesmo, talvez um bloqueio criativo, porque eu vi a coisa crescer tanto, mas depois eu disse 'não tô parado agora é dos leitores', daqui da porta para fora de minha casa, pertence aos leitores. E aqui em casa eu nem penso mais em Torto Arado (risos). Eu estou pensando nas histórias que eu tenho que contar, nas coisas que eu tenho que fazer. Então é bom.
Eu disse que não penso em Torto Arado, mas está saindo as edições estrangeiras, e aí eu tenho que viajar para falar do livro. Mas eu não me senti pressionado, até porque, eu falei comigo mesmo assim, eu preciso continuar a escrever. É uma coisa que eu já fazia antes de Torto Arado, eu já tinha livros publicados, já escrevia desde a infância, e é uma coisa que eu preciso continuar fazendo. Então, nenhum livro vai me parar.
Salvar o Fogo é o segundo livro da trilogia, e a curiosidade que fica do leitor é saber o que liga essas duas histórias, já que não é uma continuação?
O que de fato essa trilogia tenta dar conta é sobre a relação de homens e mulheres com a terra com seu território com o lugar onde vive ou onde nasceram. Então é isso, é a paisagem de fundo de todas essas histórias. Mas além disso, Salvar o Fogo traz uma personagem que os leitores vão encontrar ao longo da leitura, que é uma personagem conhecida que mostra a partir dessa aparição dela no romance que muitas coisas estão ligadas em rede, que as histórias não são solitárias, há um emaranhado de Trama de enredo na vida de todos, Então a gente vai ter essa percepção a medida que a gente lê a história.
Torto Arado saiu das páginas dos livros para ganhar os palcos, com adaptação de Aldri Anunciação e o streaming, em série da HBO Max com produção de Heitor Dhalia. Você terá participação nesses dois projetos?
Eu sou uma pessoa muito acessível e recebi convites para participar das adaptações, mas eu não quis nenhum compromisso profissional de adaptar ou de participar da adaptação. Se os artistas, os diretores e dramaturgos que estão adaptando essa história quiserem trocar ideias comigo ou conversar comigo, eu sempre estou disponível, eu não quis assumir o compromisso o compromisso de adaptar porque eu acho que exigir muito de mim, e segundo, porque eu ia abrir mão de outras coisas, de escrever por exemplo. Eu não quis, foi uma questão de prioridade mesmo. Pra mim é importante ter tempo para a escrita que é cada vez mais escasso.
E como é ver seu livro ganhando vida em outros formatos? Com o lançamento de Salvar o Fogo, existe a possibilidade desse livro também ser adaptado?
É uma curiosidade do leitor, sua e minha também (risos). É um desejo. Eu também estou curioso para saber como é que vai ficar a peça de teatro, como é que vai ficar a série. Já tem uma peça circulando na Europa e nos Estados Unidos é uma adaptação da Cristiane Jatahy, essa foi a única que eu tive a oportunidade de ver a adaptação e gostei muito da interpretação que ela deu a história. Tem uma canção do Rubel inspirada no no livro, então eu pude também ver essa parte bonita, da arte que gera arte e foi uma experiência muito interessante.
Você está rodando o mundo para divulgar não só Salvar o Fogo, como também Torto Arado, que ganha versões em outras línguas, como é conciliar a agenda
Eu gosto muito de ter esse contato, de falar de literatura. Durante muito tempo em minha vida, eu era um leitor solitário, procurava pessoas para conversar sobre aquilo que eu lia e não encontrava. Então, parece que nesses encontros eu consigo fazer tudo aquilo que estava reprimido, mas tem ocorrido muita coisa ao mesmo tempo, né? Isso de fato me deixa um pouco cansado e eu não quero comprometer o tempo que tenho e que preciso ler e escrever, mas estou conseguindo administrar tudo isso e confesso que são experiências maravilhosas muito ricas, você estar em lugares diferentes e ainda é encontrar públicos diferentes falando sobre aquilo que você escreveu.
Com Salvar o Fogo já nas livrarias, quais são os próximos passos de Itamar Vieira Jr? O que os leitores podem esperar para os próximos anos?
Em 2023 eu estou ocupado com a chegada de Salvar o Fogo, mas já tem projetos em andamento de escrita, e espero ter tempo para avançar, para concluir. Eu acho que os leitores podem esperar uma pessoa inquieta, que sempre no tempo certo estará entregando algo novo para eles.
