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LITERATURA

Obra modernista, Macunaíma ganha adaptação para HQ

Criado em 1928 pelo modernista Mário de Andrade, o "herói sem nenhum caráter" ganhou os traços da dupla mineira Ângelo Abu e Dan-X

• 30/01/2016 às 20:30 • Atualizada em 26/08/2022 às 20:03 - há XX semanas

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Batman, Superman, Capitão América, Homem-Aranha... Todos esses heróis, criados nos Estados Unidos, fizeram fama nos quadrinhos. Agora é a vez de um herói literário brasileiro ganhar as páginas de uma HQ. Ou, melhor, herói não. Na verdade, o maior anti-herói brasileiro, Macunaíma, chega à arte sequencial. Criado em 1928 pelo modernista Mário de Andrade (1893-1945), o “herói sem nenhum caráter” ganhou os traços da dupla mineira Ângelo Abu e Dan-X, em Macunaíma em Quadrinhos (Peirópolis/R$ 39/80 págs.).
Foto: Divulgação
Os autores, acertadamente, optaram por manter o texto original, afinal a linguagem é a principal característica desse clássico. “Fizemos um recorte, juntando algumas frases de forma que fizessem sentido. Reduzimos o texto, cortamos umas coisas, mas não mudamos as palavras, nem criamos nada. Fomos muito fiéis”, diz Abu. Essa fidelidade é exigência da editora em toda a coleção dedicada à adaptação dos clássicos da literatura.
Marco modernista
A publicação de Macunaíma em Quadrinhos dá continuidade ao projeto da Peirópolis de transpor os clássicos para a nona arte, como já havia feito com Dom Quixote, do espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616), e A Divina Comédia, do italiano Dante Alighieri (1265-1321), entre outras obras. “Recebi o convite da editora há mais ou menos cinco anos. E me disseram que eu devia escolher algo com que tivesse afinidade”, lembra Abu, 41 anos.
Para o quadrinista, havia poucas releituras daquele texto que é um dos símbolos do Modernismo brasileiro, marca da cultura brasileira no início do século XX.
O filme, de 1969, dirigido por Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988) e com Grande Otelo (1915-1993) como protagonista, era um das poucas derivações do livro. O trabalho da dupla mineira distancia-se muito do filme.
Abu aponta ainda outros motivos para ter escolhido o livro de Mário de Andrade: “Macunaíma é um dos maiores marcos do Modernismo. E há uma grande demanda por produtos derivados dele, principalmente nas escolas”.
Além disso, lembra o desenhista, temas como racismo e a violência contra a mulher já eram apresentados há quase cem anos por Mário de Andrade. “Ele fazia uma crítica social com muito escárnio e humor, que continua atual”, acrescenta.
Foto: Divulgação
O roteiro e os desenhos foram divididos de forma praticamente equitativa entre os dois autores. Em alguns momentos, nota-se uma falta de unidade entre os traços, que é proposital, segundo Abu.
Rapsódia
Essa falta de unidade, diz o autor, está relacionada ao formato do livro original, considerado uma rapsódia, devido à variedade de gêneros literários presentes nele.
“Da mesma maneira que o livro é muito variado, achamos que o quadrinho deveria manter essa variação no traço. O personagem está sempre em mutação: uma hora é criança, outra hora, adulto, depois, homem de novo. Achamos que essa mutação também deveria estar presente em nosso traço”, defende Abu. Por isso, em alguns momentos, há imagens que remetem a pinturas dos anos 30; outras remetem aos mangás contemporâneos. O leitor vai notar claramente, na versão em quadrinhos de Macunaíma, a influência da arte plástica modernista . Dois desenhos de Abu e Dan-X chamam especialmente a atenção por serem inspirados por pinturas do Modernismo: o primeiro lembra muito o cartaz da Semana de Arte Moderna, de 1922; o outro representa a cerimônia de batizado de Macunaíma, tema de um quadro da pintora Tarsila do Amaral (1886-1973).
A adaptação em quadrinhos traz ainda um divertido “extra”, que é o making of da elaboração da HQ. O leitor vai ver Abu e Dan-X como personagens de uma saga desde a criação até a publicação. A maior virtude da história que mostra os bastidores é a linguagem adotada pelo narrador, que incorpora as características do livro original.
Estão presentes neologismos, além da linguagem popular e coloquial, que marcam a obra modernista de Mário de Andrade. Para dizer que Abu foi procurar trabalho na editora, por exemplo, o narrador diz: “Matutou e resolveu que ia fingir de artista pra campear trabalho na tapera máquina de fazer livros”. “Depois de trabalharmos tanto tempo com o livro, acabamos incorporando a linguagem”, diz Abu.
Correio24horas

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