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MARGARETH 60 ANOS

'Levei muitos nãos, mas não parei', analisa Margareth Menezes ao completar aos 60 anos

Em entrevista ao iBahia, artista revisitou momentos importantes da vida e carreira que colaboraram para transforma-la na artista dos dias de hoje

Bianca Andrade • 13/10/2022 às 7:25 • Atualizada em 13/10/2022 às 9:38 - há XX semanas

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					'Levei muitos nãos, mas não parei', analisa Margareth Menezes ao completar aos 60 anos
Foto: Victoria Dowling/ iBahia

Se dizem que 30 é a idade do sucesso, 60 seria o ápice do êxito em vida? O número pode não significar muita coisa para quem está abaixo desta idade, mas nesta quinta (13), o time dos 60 ganha uma nova integrante.

É de Boa Viagem, mais precisamente da região da Península de Itapagipe, Salvador, que vem a protagonista dessa história. O dia 13 de outubro marca o nascimento de uma das maiores artistas do Brasil, responsável por colaborar com a construção de um dos movimentos musicais mais característicos da Bahia e por marcar o estado de forma ainda mais especial no mundo com seu trabalho. Dia 13 de outubro é dia de Margareth Menezes.

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Para a artista, a data e principalmente a idade são indicativos que há muita vida pela frente e muita coisa para aprender. Em entrevista ao iBahia, a cantora fez uma avaliação do que significa esses 60 anos, profissionalmente falando e como a chegada de mais uma primavera afeta o pessoal.

"Eu já fiz coisas fantásticas e agradeço mesmo essa estrela que brilha aí, que continua trabalhando para isso, para poder ainda conhecer outras coisas. Porque a vida é o que nos alimenta. Quando a gente achar que não precisa mais aprender mais nada bicho… Para mim, no meu caso, é caixão e tampa. Então, até onde eu tiver forças para essa vitalidade, essa alegria de gostar de viajar, gostar de ver as coisas da vida, de curtir, poder ver o movimento da galera nova, isso para mim é bom demais".


				
					'Levei muitos nãos, mas não parei', analisa Margareth Menezes ao completar aos 60 anos
Foto: Victoria Dowling/ iBahia

Em homenagem aos 60 anos de Margareth Menezes, o iBahia traz uma entrevista especial com a artista. Maga recebeu a equipe do site em casa, em Salvador, para um bate-papo descontraído sobre vida e obra, marcos importantes de sua carreira, a conquista de um espaço para mulheres negras na arte, novos nomes da música, Carnaval, Axé Music e futuro. Confira na íntegra:

Maga, muita gente não sabia que você tinha começado na arte pelo teatro. Quero saber para você como foi isso de iniciar como atriz, onde você foi saltando a timidez para poder se apresentar nos palcos como cantora.

A música sempre esteve na minha vida, aos 15 anos eu ganhei meu primeiro violão e participava de festivais na escola, lá tinha uma dupla com Silas Henrique. Em um certo momento, a escola começou a ter aula de teatro com o professor Reinaldo Nunes e na época foi muito bacana, porque eu comecei eu entrei no grupo, e foi ele a pessoa que me despertou no sentido do meu potencial não era uma coisa só da música. Era da música e também tinha um potencial de atriz. Foi muito valioso, não posso nunca negar essa minha passagem pelo teatro porque me enriqueceu. Acho que todo artista devia ter essa oportunidade de passar por aulas de teatro para entender que força é essa.

Logo após essa fase, vem seu primeiro grande estouro na música, a gravação de 'Faraó - Divindade do Egito', uma música que faz parte da história da Bahia e da música baiana no mundo. Eu queria saber se você imaginava que aquela música ganharia a representatividade que ela tem hoje:

Não não mesmo. Olha na época, eu cantava na noite e fazia teatro, e quando a eu recebi o convite do Djalma (Oliveira) eu na verdade não estava nem em casa naquela época, não sabia nada de Faraó, já tinha ouvido aquele negócio rodava aí disse 'rapaz, essa música Faraó…' eu achei estranho. Eu não queria fazer. Eu fui lá e tal conversar para dizer 'olha cara, eu não tô muito afim de gravar essa música', mas li e decidi gravar. Eu não ganhei nenhum dinheiro disso, mas no ano seguinte eu fui convidada contratada pela Polygram, minha primeira gravadora oficial. Ai já foi um legado uma resposta dessa música para minha vida.

Eu nunca parei para dizer 'Ah não, vou desistir de ser artista que é difícil'. Cara. Se você ficar nessa você não vence em nenhum tipo de opção que você fizer da vida. Se opcionou, é isso! Você sente dentro do seu coração, então você tem que ir buscar. Às vezes ali tem uma barreira, mas qual é a outra forma que eu tenho para fazer isso acontece? Às vezes pode demorar um pouco mais, mas você não pode perder o seu foco.

Margareth Menezes

				
					'Levei muitos nãos, mas não parei', analisa Margareth Menezes ao completar aos 60 anos
Foto: Margareth Menezes Site Oficial

Em uma viagem pela sua discografia, é possível perceber que com o tempo você foi se sentindo mais a vontade para expor sua arte através de suas composições. Como foi para você ocupar esse espaço, além de estar nos palcos cantando, como intérprete, poder compor suas próprias músicas?

Eu ganhei meu violão aos 15 anos, e sempre fazia música. Algum momento eu segurei um pouco porque como eu estourei interpretando música de outras pessoas, eu gravei Lazzo, Lenine, Milton Nascimento. Eu tinha timidez com as minhas músicas. A mulher negra, a gente não era muito incentivada a botar nossas composições. Mas a composição para mim sempre foi muito intuitiva, nunca fui assim aquele exercício de ser compositora. Aí Brown, sempre Brown, irmão massa, ele falou 'Você tem que botar suas músicas' e eu botei cinco músicas minhas no Afropopbrasileiro. Hoje eu já tenho um cardápio bom de músicas e agora no Autêntico que eu tive mais oportunidade mas ousadia de colocar também.

Lembro de uma declaração sua em uma entrevista, na qual você fala justamente sobre a mulher negra não ter esse espaço para se projetar com o trabalho. Para quem consome música, é possível perceber que o cenário está em expansão, mesmo que ainda não seja o ideal. Para quem produz, você como artista, percebe que vivemos tempos diferentes agora, ou ainda é um processo que ainda falta muito para conquistar?

Olha, eu acho que já vivemos alguns tempos diferentes sim, mas eu acho o seguinte, que precisa ainda a própria comunidade negra entender que podemos ajudar a potencializar os artistas negros, independente da mídia, nós podemos já fazer isso. Porque nós ainda precisamos entender como que como usar as ferramentas digitais para isso. A gente tá conseguindo aumentar cada vez mais os seguidores, potencializar as redes sociais, mas o pessoal ainda não entende o valor disso. De como é legal você seguir o artista que você gosta, você chegar lá e dá like, porque isso é o novo ambiente, né? Que traz o retorno financeiro para o artista. (...) Eu tô vendo já gente de 30 anos assumindo os comandos das coisas, então vamos assumir mesmo com essa ideia nova de vida, não deixar essa velharia que está aí querendo retroceder, retroagir as conquistas tão importantes que já tiveram e que não tínhamos antes. Essas conquistas sociais são conquistas pós ditadura, que as pessoas não imaginam nem como é difícil viver em ditadura. Porque você não sabe o que você pode ter feito para algum momento receber uma voz de prisão. Então assim, é preciso que as pessoas comecem a entender o que significa isso.


				
					'Levei muitos nãos, mas não parei', analisa Margareth Menezes ao completar aos 60 anos
Foto: Saulo Brandão

Recentemente vi nas redes sociais Di Cerqueira comemorando que tinha se apresentado com você, e você cita novos nomes da música brasileira Iza, Ludmilla, MC Sophia, como destaques. Queria saber como é para você ser referência para a nova geração.

Eu vejo uma continuidade de várias coisas, porque eu também tive as referências. Tive Gil, tive Caetano que me deram oportunidades. Gil me deu muitas oportunidades em vários momentos. Outros artistas também, Elba, Betânia, Alcione e outras figuras, então assim eu vejo como é importante isso. É claro que não dá para fazer com todo mundo, porque tem um limite também e você vê pessoas que começam a se envolve com a música, mas depois não vai. Já tem outras pessoas que tem aquele fogo que você já sabe que ali não tem jeito. (...) Eu não penso eu vou fazer na minha vida, me descobrindo, também eu levei muitos não, né? Mas eu não parei então, eu acho que essa que é a grande coisa, né não ter parado e ter continuado afirmando e buscando um espaço para trazer também essa essa coisa do afro.

Ninguém falava de Afropop em 92, eu comecei a falar porque quando eu fui lá (nos Estados Unidos) em turnê, eles colocaram cantora Margareth Menezes, chegou uma cantora 'Margareth Brazilian African Pop', eu me vi naquela identidade sonora, naquela identidade de comportamento. Que eu era exatamente isso, uma artista negra contemporânea fazendo uma coisa que não era folclore pelo folclore. Quando eu cheguei no Brasil eu traduzi e registrei para não fugir daqui, para poder estabelecer um pertencimento nosso, eu mulher negra representando isso nesse lugar e começamos a falar de afro-pop.

Margareth Menezes

				
					'Levei muitos nãos, mas não parei', analisa Margareth Menezes ao completar aos 60 anos
Foto: Margareth Menezes Site Oficial

Você tem participação em diversos momentos importantíssimos da cultura local, como a criação do 'Gran Circo Troca de Segredos', o movimento Afropopbrasileiro, e sua participação no Carnaval, que por si só já é história. Qual foi a sensação ao subir no trio elétrico pela primeira vez e fazer parte da festa?

Eu tava começando ali batalhar e tinha o baterista de Sarajane, que era o Bocão e ele disse que ela tava procurando uma vocalista. Eu fiquei durante seis meses fazendo backing para Sara e foi a primeira vez que eu subi no trio. Depois disso, quando eu gravei a música Faraó eu fui convidada para puxar um trio. A primeira emoção foi inesquecível, porque é muito forte, você tá ali em cima de um caminhão comandando. Aí você às vezes olha não tem ninguém você começa a ficar grilado com aquilo, será que eu sou tudo bom e tal, mas é uma grande escola cantar no trio elétrico.

Quando você pensa e fala da Axé Music, qual a análise que você faz do cenário atual?

É um movimento que aconteceu. Assim como Tropicália. Eu acho que ele tá aí, posto dentro da música popular brasileira. Eu não tenho essa preocupação 'Ah, que o Axé vai acabar', porque outras gerações vão vir e podem vir com outros legados a somar. Eu não tenho essa preocupação porque eu acho que a gente não pode ter essa visão de achar que a Bahia só pode ser isso, que música de Carnaval só pode ser isso. Eu acho isso um absurdo, porque anterior a mim vieram outras pessoas que construíram isso. Vieram Novos Baianos, vieram A Cor do Som, coisas que já vieram de afoxé, ijexás. A gente vai dizer que tudo isso é uma só coisa? Eu acho que não. Acho que é um movimento que contempla muitas coisas, tem os seus protagonistas, o seu legado, mas não é só isso. Se a gente fizer isso, para mim, na minha visão é você querer a tirar a liberdade da criação espontânea que a própria população faz. Isso é um legado da Bahia, dessa Bahia contemporânea que estamos falando. E uma coisa que eu tô achando muito legal é que essa juventude não está preocupada com isso sabe? Eles mesmos dão a nomenclatura do seu trabalho. Tem muita gente aí fazendo suas coisas e se autodenominando. O axé está está vivo e vai viver sempre.

Você teve alguns trabalhos na TV, o Canto da Sereia na Globo, teve A Casa de Vó na Wolo TV. Uma curiosidade do público é saber se você estará na TV novamente?

Tô fazendo 60, mas eu não sentei nada. O Alex Pinto, que o produtor tá com a gente agora estava falando sobre essa minha momento assim 'Sessenta não, duas vezes trinta'. Bateria tá carregada (Risos). Eu acho que tem muito a ver com minha vitalidade, a maneira como a gente se organiza, se reinventa. Claro que eu já passei por muitas coisas difíceis, tive muitos momentos de solidão também e dores né, mas eu não sei se pelo fato de eu ter nascido dia 13 de outubro, vizinho do Dia das Crianças, eu tenho facilidade de superar. Claro que a gente tem as tristezas, preocupações para caramba, né? Mas eu amo a vida e eu amo tá ativa, sabe para mim o movimento gera movimento.

Qual a avaliação que você faz desses 30 + 30, qual é a Margareth de hoje, qual foi a Margareth de 30 anos atrás, e o que é que você sente que mudou, tanto profissional quanto pessoal?

Acho que hoje eu só tô menos assim, não quero guerra com ninguém. Acho que eu estou mais madura para colocar minha visão. Eu não sou uma pessoa que desqualifico o ser humano. Eu sempre tive muito cuidado com isso. Às vezes eu posso não concordar ter a minha opinião, mas nunca foi a pessoa de atacar a imagem. Isso é uma coisa também que eu combati muito, às vezes não fui bem interpretada nesse lugar. Até hoje eu não acho bacana falar de músicas que fala fale que possa soar como uma violência, a questão de você diminuir ser humano. Eu nunca gostei e isso me custou também em algum momento algum entendimento, né? Mas eu acho que isso foi a melhor coisa que eu fiz para mim. Então hoje eu sou mais madura com isso. Eu continuo produzindo, agora já com outras outros projetos também uma visão mais madura é o que eu acho que agora o que eu posso fazer é aproveitar bem a música, né? E desses meus 60 anos de experiência produzir outras coisas abrir outras frentes. É isso que eu estou buscando.

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