A designer de acessórios Leila Boavista: a baiana trabalhou para Vivienne Westwood, Prada e Missoni |
Quais são os acessórios que você produz? No momento, produzo colares, pulseiras e acessórios para o cabelo, desde de tiaras casuais até para casamento. Mas em breve estarei também lançando outros tipos de acessórios como bolsas e cintos. Que materiais utiliza? Quais os diferenciais deles? Onde eles podem ser encontrados em Salvador? A maioria dos materiais são naturais, como o algodão e a seda, mas trabalho também com o poliéster - que é ótimo em termos de ecologia. Os produtos acabaram de chegar ao Brasil. Já vendo em lojinhas exclusivas de Paris, Copenhague e Helsinki - em Salvador, por enquanto, as vendas estão sendo feitas diretamente por mim - por e-mail ([email protected]) ou telefone (8751-2218), até a minha loja virtual ficar pronta. Farei um Bazar de Carnaval na terça e na quarta-feira, das 14h às 19h, na Cristal Coiffer, que fica no Shopping Cidade (Itaigara). Haverá peças da coleção atual, “The Bird Collecton”, que foi inspirada em pássaros e também uma linha mais sofisticada, feita em seda, inspirada em Orixás. Já tenho pedidos de lojas Copenhagen para o verão de lá. Vou passar o Carnaval trabalhando. O que tem de inovador em seu trabalho? Meu trabalho teve muito êxito na Europa justamente por levar para acessórios materiais geralmente usados em roupas. Meus acessórios foram definidos como contemporâneos justamente porque quase não uso metal - material comum na manufatura de acessórios. Além disso, eu mesma produzo a estampa e o look gráfico da peça apenas com a utilização da linha e combinação de cores. Tudo é feito à mão, como uma mini obra de arte. Isso permite que a peça seja realmente única e exclusiva. Integrei o design social e o slow fashion (“moda devagar”, e livre-tradução para o português), que normalmente são associados a produtos feitos de materiais reciclados, a uma estética de luxo. O que significa slow fashion? De que maneira isso está ligado ao seu trabalho? O slow fashion é um movimento que nasceu na Europa, em contraponto ao fast fashion. É inspirado no slow food (o inverso do fast food. É uma moda de qualidade, tanto no sentido estético quanto na manufatura - o slow fashion é produzido em pequena escala e oferece soluções sustentáveis na produção e consumo de moda. É um movimento que vai contra a produção exagerada e massiva da moda, que gera muito desperdício e tem uma mão de obra mais barata. Ao invés disso, o slow fashion é uma moda mais “devagar”, feita sem a pressa da indústria, que tem que seguir calendários e agendas. O slow fashion valoriza o trabalho manual, a perfeição, a história do produto e o seu valor ético, porque tem como requisito a produção local, gerando assim uma economia regional mais forte. Isso é a alma da minha moda, pois procuro fazer um design que vai além das tendências, produzo localmente e tenho a intenção de oferecer à cliente uma maneira de consumir melhor, com mais consciência do impacto das compras. Penso globalmente e por isso participarei de feiras de moda sustentável em Berlim, Barcelona e Copenhage este ano. Contudo, produzo localmente, utilizo fornecedores e mão de obra daqui de Salvador, tentando assim fortalecer a economia local. Meus produtos levam horas para serem feitos. Uma tiara pode demorar de 6 a 8 horas para ser manufaturada. O slow fashion me permite ter um relacionamento mais íntimo com o meu produto, já que não me limito ao processo de design mas atuo diretamente também na produção e execução das peças.
De onde vem a inspiração para fazer os acessórios? E as coleções? Tudo me inspira, tenho uma cabeça cheia de estorinhas. Tenho uma estética tribal, mas com linguagem mais fashion e me inspiro muito em deusas, guerreiras, vikings... Nada de princesas! (risos) Em termos de cores, tudo pode me inspirar, de signos até pássaros tropicais. Absolutamente tudo. As coleções são feitas duas vezes ao ano - uma para o verão e outra para o inverno. Já fiz coleção inspirada no período Renascentista, devido aos seis meses morando em Florença (na Itália). A mais nova foi inspirada em pássaros tropicais - ou seja, tudo pode acontecer! Como foi a sua estada na Europa? Morei 13 anos na Europa e estou em fase de transição - ainda moro lá e aqui. Por causa da expansão da BOAVISTA, pretendo ficar mais tempo aqui, produzindo, e só ir para a Europa a trabalho. Antes era ao contrário, morava lá e trabalhava aqui - mas o projeto está crescendo e requer que eu fique mais tempo aqui. O que me levou à Europa foi a história e a vontade de explorar um pouquinho o mundo, estudar moda e conhecer outras culturas. Essa viagem me deu tudo o que eu sou hoje, crescimento pessoal e profissional, estudo, muitas viagens, oportunidades de trabalho e lições de vida. Em termos de trabalho, foi ótimo pois trabalhei com grandes marcas com a Missoni, Vivienne Westwood, Prada... Participei dos principais eventos de moda da Europa, como Paris Fashion Week, London Fashion Week e Milan Fashion Week. A única coisa difícil que encarei lá foi a saudade da família e do Brasil. Como foram os trabalhos com Vivienne Westwood e na EBI? Trabalhar com Vivienne Westwood foi como realizar um sonho! Trabalhei com ela e o time dela em Londres e em Paris. Foi no estúdio dela que realmente percebi como é importante ter uma atitude sustentável e responsável perante a produção de moda. Vivienne, que é ativista do Greenpeace, estava todo o tempo lá, doutrinando a gente. O padrão de qualidade era muito alto e eu aprendi muitíssimo nos 6 meses que passei lá. Trabalhei no setor de Haute Couture, como assistente, e tudo era feito com muita precisão e perfeição. Vivienne é exigente. Assim que cheguei lá, ela me disse: “Aqui, somente a perfeição é permitida”. Foi trabalhando lá que eu aprimorei a minha paixão por produtos de alta qualidade. Mas foi no estúdio da EBI, em Florença, na Itália, que reforcei meu amor pelos trabalhos manuais. Passei seis meses fazendo bolsas de luxo e todos os tipos de trabalhos manuais para Prada, Miu Miu, Chanel, Valentino e Jimmy Choo. Paciência, foco e perfeccionismo eram centrais no meu trabalho. E isso eu trouxe comigo. Aprendi muitas técnicas manuais e trabalhei com profissionais excelentes. Foi uma experiência fantástica! Há semelhanças entre o design escandinavo e o brasileiro? O que um pode melhorar com o outro? Não vejo semelhança. São designs completamente diferentes. Aqui gostamos de nos expressar com cores, somos extrovertidos. O próprio clima propicia decotes e mostrar mais o corpo. Eles são mais sombrios, discretos e se cobrem mais devido ao frio. O escandinavo se concentra em simplicidade e função. A gente, em estética. Eles podem aprender a ser mais coloridos e divertidos e nós podemos aprender a ser mais minimalistas e práticos. Acho que foi justamente por isso que estou tendo êxito em Copenhague. As mulheres estão tendo acesso a produtos coloridos e divertidos, sem perder a simplicidade.
Além dos femininos, faz também acessórios masculinos ou unissex? Não. O meu universo é profundamente feminino, me inspiro em deusas, mulheres guerreiras. Mas já tem homem usando minhas tiaras. Você é irmã do cantor Manno Góes. Todos em sua família trabalham com arte?Minha mãe estudou artes plásticas e meu pai sempre escreveu poesias. Minha avó paterna tocava piano e minha avó materna costurava. Manno compunha e tocava. Na minha casa, a estética sempre teve importância, seja na literatura, na música ou nas artes visuais. Na faculdade de direito, eu me destacava mais pelos looks do que pelas notas. Tinha cabelo vermelho e usava muita roupa em preto e branco. Tive um professor que me dizia: “Leila, você está na faculdade errada!”. Tanto que terminei a faculdade e um mês depois já estava em Londres, fazendo cursos de moda. Matéria original: Correio 24h Dinamarca com Bahia: Leila Boavista estudou moda na Europa e cria acessórios sustentáveis
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