No Dia Nacional da Consciência Negra, o professor Anativo Oliveira, 43 anos, perguntou ao filho João Victor, 12, como a data havia sido trabalhada na escola onde o garoto estuda. “Ele me disse que ninguém nem tocou no assunto”, contou o pai, decepcionado. A saída encontrada por Anativo para mostrar ao filho a importância desse dia para a etnia de ambos foi levar o garoto ao Afro Fashion Day, evento promovido durante todo o dia de ontem pelo CORREIO, para celebrar a cultura negra.
A programação do evento, que foi realizado na Praça da Cruz Caída, no Centro Histórico, incluiu concorridas oficinas de maquiagem e turbantes, estandes com produtos de vestuário e artesanato, venda de quitutes baianos e um desfile com 40 modelos e artistas vestindo peças produzidas por marcas baianas. “É uma grande comemoração do Dia da Consciência Negra e de Salvador, que é uma cidade totalmente inclusiva. Todo mundo tem sua semana da moda e a nossa tinha que ser afro”, afirmou Sergio Costa, diretor executivo do CORREIO e idealizador do projeto.
(Foto: Arisson Marinho/Correio) |
Artistas O ator Érico Brás, que apresentou o desfile, afirmou que o evento marca uma nova época na nossa história. “O CORREIO está de parabéns por incentivar iniciativas de empreendedorismo da população negra. Isso é de extrema importância”, comentou.
O cantor Ninha, que desfilou durante o Afro Fashion Day, chamou a atenção para a importância de encarar a data como um momento não só de celebração, mas também de reflexão sobre a condição do negro nos dias de hoje. “Esse evento tem tudo a ver com nós, negros. Hoje é um dia em que devemos parar e refletir sobre tudo que acontece com o negro. Somos rejeitados em determinadas coisas, mas iniciativas como essa, do CORREIO, podem ajudar na mudança”, considerou.
Apesar de já ter desfilado anteriormente, Lincoln Sena, vocalista da banda Duas Medidas, afirmou que o simbolismo da data fez com que o desfile de ontem ganhasse um significado especial. “Já tinha feito alguns trabalhos como modelo, mas hoje é um momento especial, uma data simbólica. Estou com as pernas tremendo”, admitiu o rapaz, que ressaltou a importância da participação da população em atividades relacionadas à cultura negra. “O que a gente precisa é estar se organizando e participando. As ideias já existem, mas precisam ser cada vez mais apoiadas”, defendeu.
Já Denny, vocalista da Timbalada, ressaltou o caráter universal do Afro Fashion Day, que, ao valorizar os negros, contemplou a população do país. “Esse evento e esse dia são importantes para pessoas que não conhecem ver os negros lindos desfilar. Não é um evento de negros, é um evento de baianos, de brasileiros”, resumiu. Adile Reis, secretária-executiva da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), chamou a atenção para a oportunidade que o evento proporcionou à população em ver artistas e modelos negros como protagonistas de um desfile. “Essa é uma oportunidade importante para os negros, principalmente as mulheres, entenderem que elas podem ocupar todos os espaços sociais”, declarou Adile, que representou o governo do estado, que apoiou o evento. A secretária municipal de Reparação, Ivete Sacramento, representou a prefeitura, que também apoiou o Afro Fashion Day.
Vida LongaPela empolgação dos modelos e artistas e também do público, que lotou o desfile e participou ativamente das oficinas e dos estandes, o Afro Fashion Day terá vida longa. “Uma iniciativa como essa já era para ter acontecido há muito tempo. A nossa cultura é muito forte, temos muito potencial”, afirmou o cantor Tony Salles, vocalista da banda Parangolé, outro participante do desfile. Segundo Sergio Costa, a intenção é dar continuidade ao evento nos próximos anos. “A gente espera que seja um evento que entre no calendário da cidade”, concluiu.
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