As primeiras imagens dos atentados de 11 de Setembro de 2001 foram fornecidas pela televisão. A cena das duas torres do World Trade Center em chamas e, depois, desmoronando como blocos de papel, rodou o mundo e contribuiu para sedimentar na memória de milhões os maiores ataques terroristas da história. No entanto, o atentado nos EUA foi o primeiro acontecimento global que a opinião pública não só acompanhou pela TV, como usou em massa a internet como fonte de informação.
Um estudo elaborado pelo professor Ramón Salaverría, da Universidade de Navarra, revela que a cobertura online dos ataques foi decisiva para o desenvolvimento dos jornais na web. De acordo com ele, cerca de 80% das 500 palavras mais procuradas no dia estavam relacionadas ao atentado.Na semana seguinte ao ataque, os sites de notícias norte-americanos registraram 11,7 milhões de acesso por dia, praticamente o dobro da semana anterior à da queda das torres, que contou com seis milhões de acessos. O portal da rede britânica BBC passou de 142 mil acessos diários para mais de 500 mil e a norte-americana CNN tornou-se o sexto site mais visitado dos EUA com 4,6 milhões de visitantes por dia.Para o professor Sérgio Amadeu, da Universidade Federal do ABC e um dos principais ativistas da internet no Brasil, o atentado evidenciou a importância da comunicação em rede e as possibilidades que ela oferece no processo de acesso, produção e divulgação de informações."No dia, o acesso físico a ilha foi praticamente inviabilizado, e a comunicação tradicional se tornou bastante instável. Então, os jornalistas buscaram, por meio da internet, estabelecer contato com as pessoas que estavam lá. Isso demonstrou, de maneira bem clara, que as informações em rede circulam mais rápido e, em alguns casos, ela é a melhor maneira de descobrir detalhes de algum acontecimento", afirmou Amadeu. Formas de comunicaçãoLuis Egypto, redator-chefe do Observatório da Imprensa, explica que a internet modificou a forma tradicional de comunicação, que delimitava quem iria produzir e quem iria consumir as notícias. A lembrança feita por Amadeu, de que parte das informações sobre o que acontecia em Nova York chegou aos jornalistas por e-mail, é um dos indicadores das mudanças apontadas por Egypto, que ocorrem na forma como se produz informação devido ao amadurecimento do jornalismo online. Segundo ele, atualmente, é a internet e, não mais os jornais impressos, que a sociedade procura para encontrar o hard news – as notícias mais recentes, em jargão jornalístico. “Hoje é a internet que tem a primazia da notícia”, analisou. Plataformas como o Twitter e o Facebook são classificadas por Amadeu como fontes essenciais de informação, principalmente em áreas de conflito ou em locais que os jornalistas não conseguem chegar. “Nos recentes acontecimentos no Oriente Médio e no Norte da África, Twitter e Facebook ofereceram uma quantidade de informações com uma vivacidade incrível. Cabe agora aos jornalistas se organizarem e usarem esses conteúdos”, observou o professor. BlogsIdelber Avelar, professor da Universidade de Tulane, em Nova Orleans (Estados Unidos), explica que os textos em blogs novaiorquinos, postados logo após a queda das torres, são o primeiro exemplo de cobertura massiva na internet sobre um fato histórico. “Naquela hora de muita confusão, em que as redes de TV não sabiam o que fazer a não ser reprisar ad nauseam as imagens dos aviões se chocando contra as torres, os blogs trouxeram uma perspectiva pessoal, mais arejada, com detalhes, em tempo real.”, recordou Avelar. Para ele, como a maior parte dos blogs é pessoal, a objetividade e neutralidade de jornalistas em grandes veículos foram colocadas em xeque. “Porém, os blogs ainda não conseguem sair do círculo vicioso de somente comentar, avaliar e criticar notícias apuradas pela grande mídia”, disse. A saída, segundo Avelar, “é a criação de uma estrutura profissionalizada, que dependa da obtenção de fontes de financiamento.” Farra tecnológica “A agilidade da rede, a capacidade de disseminação de conteúdo e a velocidade são elementos extremamente atrativos”, avaliou Egypto. Ele aponta que a convergência das diferentes mídias no meio online criou uma “farra tecnológica” que tem atraído cada vez mais pessoas. Salaverría atesta que, a partir do 11 de setembro, os meios de comunicação online passaram a se preocupar em construir uma narrativa que integrasse texto, imagem e som, ao invés de, por exemplo, apenas publicar uma notícia com texto e um áudio sem estabelecer um elo entre estas duas mídias. "Após o 11 de setembro, observou-se que alguns meios de comunicação online começaram a produzir informações, usando diferente mídias, que compartilhavam o mesmo código e produziam um discurso único", mostra o estudo. Credibilidade Os erros de informação ocasionados pela velocidade com que são produzidas as notícias nos meios online, bem como ações de grupos que inventam e espalham notícias falsas, criaram uma imagem de que os meios de comunicação online teriam menos credibilidade que a televisão ou jornal impresso. Tanto Amadeu como Egypto afirmam que, após o aperfeiçoamento das redações e o desenvolvimento do jornalismo online, a cobertura dos fatos feitos pelas mídias na internet gozam, perante o público, do mesmo nível de credibilidade que qualquer outra mídia. Para Egypto, o anonimato e o descomprometimento de alguns usuários geram um certo clima de desconfiança na rede. Porém, avalia que os meios onlines já estão bem organizados e em relação a credibilidade eles se igualam as outras plataformas. Segundo Amadeu, a credibilidade é uma preocupação que sempre vai existir no jornalismo. “Assim como há jornais com mais ou menos credibilidade, há sites e blogs nos quais se dá para confiar e nos quais não. Depende do público escolher qual ele prefere”. Espaço em disputaO juiz Demócrito Filho, diretor do Instituto Brasileiro de Direito da Informática, comenta que depois dos atentados de 11 de setembro, aconteceu um movimento – em diversos países – em prol da criação de mecanismos que controlassem o tráfego na internet. Na avaliação do juiz, isso poderia resultar no fim da privacidade na rede. “A campanha contra o terrorismo apresenta indicadores que as liberdades civis (na internet) podem ser ameaçadas. Após o ataque, vários países passaram a discutir a aplicação de procedimentos que exigem a identificação do usuário e permitem a investigação dos seus e-mails.” Filho considera que a resistência de grupos que lutam pela democracia na internet tem conseguido impedir que ideias mais invasivas sejam aplicadas. Amadeu também considera a internet um espaço em disputa, no qual ainda não é possível saber exatamente o que virá. Ele explica que a internet está fundamentada no Princípio da Neutralidade, onde quem controla a estrutura física da rede deve ser neutro em relação ao conteúdo. "Se os grandes grupos de telefonia, cabo e comunicação conseguirem quebrar o Princípio da Neutralidade, a internet como conhecemos vai mudar muito. Por exemplo, eles podem deixar um site mais veloz ou mais lento, para favorecer um parceiro ou prejudicar um concorrente", alertou. *As informações são do Opera Mundi
Informação na rede foi a que mais cresceu |
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