Luciana Rebouças[email protected] o assunto sendo turismo, ele não deixa de citar repetidamente temas referentes à infraestrutura. Mas a justificativa é lógica: “Quando a cidade está preparada para quem vive nela, está preparada para o turista. Não temos que focar na melhoria para o turista. Temos que focar na melhoria para nós brasileiros”. Para Carlos Alberto Amorim Ferreira, presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav) por dois mandatos, de 2007 a 2011, os investimentos nas cidades estão diretamente ligados na atração de turistas. Atualmente sócio da Ancoradouro Rio de Janeiro, Ferreira, mais conhecido como Kaká, lembra que é a “primeira vez que muitas pessoas estão viajando pelo país” e a Bahia, que, segundo ele, já foi modelo nesse segmento, precisa recuperar seus equipamentos turísticos - especialmente em Salvador - e se renovar para competir com outros destinos no mundo. Filho de Vasco Ferreira, que iniciou a operação da companhia aérea TAP no Brasil, Carlos Alberto Ferreira tem o turismo na veia. Em entrevista ao CORREIO, aponta desafios e soluções para o turismo baiano. A Hora da Retomada será o quarto seminário do Fórum Agenda Bahia, confirmado para novembro. De uma forma geral, como o senhor avalia os investimentos que estão sendo feitos, no país, na área de turismo?Este é um momento complicado. Apesar de viver um bom momento, com o Brasil sendo visto por causa de grandes eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, a gente nota que ainda falta infraestrutura. Este é um gargalo grande, que está afetando o turismo. Os portos não têm condição de atender à demanda, os aeroportos e as estradas também. Enfim, não estamos vendo as obras de infraestrutura acontecer. E se não temos condições de atender aos turistas, isso (Copa e Olimpíadas) pode ser um tiro no pé. A mobilidade urbana, por exemplo, que tanto se fala, não acontece. Vão ter improvisações: puxadinhos em aeroportos e vias exclusivas para autoridades e para quem vai competir. Mas e o legado para a população? E há como atrair o interesse do capital privado? Pode até ser, mas temos que ter condições claras para estes investimentos. A hotelaria, por exemplo, está investindo, mas eles pedem desoneração da mão de obra, de tributos e tudo isso precisa ser agilizado para compensar o investimento. Porque ninguém vai construir hotel apenas para esses eventos. Tudo isso deve estar dentro de um grande planejamento. Tem que fazer as coisas bem e com antecedência, o que não está acontecendo. E como o senhor avalia a importância dos equipamentos turísticos, tanto para o turismo interno, quanto para o turismo internacional?Algum investimento tem. E nesse aspecto, da parte da iniciativa privada, temos que qualificar melhor a nossa mão de obra, temos que capacitar mais. Houve um crescimento do setor, mas não teve o preparo da mão de obra. E isso é algo que tem que ser revisto. Aqui no Brasil, por exemplo, os funcionários falam poucas línguas estrangeiras. Isso é um complicador. Mas, repito, acho que temos que ter infraestrutura para nós brasileiros. Cada vez mais, surge uma massa para consumir turismo no país. É a primeira vez que muitas pessoas estão viajando pelo Brasil, mas nós também não estamos preparados para isso. Então, se o turismo crescer muito, ele vai complicar a vida de todo mundo. Quando a cidade está preparada para quem vive nela, ela está preparada para o turista. Não temos que estar focados na melhoria para o turista. Temos que está focados na melhoria para nós brasileiros. Se houver segurança, limpeza e sinalização, o turista vai chegar e vai gostar. E aqui, falta um pouco disso tudo.No momento, vivemos um cenário de muitas queixas do trade turístico, que cita o abandono das praias de Salvador e dos seus equipamentos turísticos. Como o senhor vê o turismo hoje para a capital baiana? Durante muito tempo, a Bahia foi modelo de como divulgar e incrementar o turismo. Havia uma política de continuidade das políticas de turismo, como a recuperação do Pelourinho. De uns tempos para cá, não houve a conservação de nada disso. Então, essa zona histórica está toda degradada, falta segurança... Tem muito o que se ver em Salvador. A cidade tem muita história. Porém, tem que se preparar estes equipamentos todos. Não houve este cuidado, infelizmente. Então, o turista vai e não tem como ver bem estes equipamentos. E ver as coisas estragadas e deteriorizadas é muito desagradável. Aquela primeira impressão é a que fica e marca muito e como estes equipamentos estão mal conservados, dá até um aspecto de sujeira. Tem também a própria questão da segurança, que é primordial. Tudo isso tem que ser olhado com calma. Mas é possível reverter esta situação?Com certeza. O próprio Rio de Janeiro é um exemplo. Há três anos, tínhamos problemas gravíssimos de segurança, disso tudo, e ele está conseguindo se recuperar. Não vou dizer que o Rio é o ideal hoje em dia, mas já houve uma boa melhora. Estão ocorrendo algumas obras, mas, como a cidade ficou parada durante muito tempo, todas as obras que são realizadas a gente ainda acha pouco. Tudo isso tem que ser visto em todo o país. Muita coisa ficou sem ser feita, então temos que começar rapidamente e bem feito. E o que acontece é que obras públicas feitas rapidamente acabam malfeitas. E claro que isso também é ruim. Existem também muitas queixas sobre a queda de turistas por causa da crise na Europa. Isso é um empecilho para o crescimento do turismo no país?De algum tempo para cá, o número de turistas estrangeiros já não cresce muito, mas isso não é só resultado da crise na Europa. Há outros problemas, como o fato de o Brasil ser distante dos grandes centros do poder aquisitivo de viagem, como os EUA e a Europa. Ainda temos um gargalo, desde a falecida Varig, na parte aérea. Com isso, muitos turistas não vêm por causa da falta de capacidade de transporte. Outro problema é que, com o fortalecimento da nossa moeda, o Brasil ficou caro. E ainda há uma concorrência muito grande entre os destinos. Tem, por exemplo, o Caribe, a Turquia, que está desenvolvendo muito, a própria Ásia, e o Brasil ficou realmente caro. Os hotéis calculam suas tarifas de acordo com a demanda, mas a nossa mão de obra é cara e os encargos são altíssimos. Existem alguns problemas no Brasil que precisam ser logo resolvidos. Não adianta ficar reclamando de crise europeia, que é só uma parte do problema, mas não é o principal. E com toda essa situação, como o senhor vê hoje a Bahia neste cenário nacional do turismo?Como bom exemplo que foi, a Bahia era copiada e seguida. Muitos estados, do próprio Nordeste, seguiram seu exemplo de promoção turística. Há uma competição dos destinos dentro do Brasil, o que é natural, porque cada um quer superar o outro. Então, os governantes locais começaram a ver a força do turismo para a região. O setor faz parte da economia e é um dos motores para incentivá-la. A Bahia já sofre a concorrência de todos os destinos. E cada destino tem que estar mais bem preparado que o outro. E a Bahia acabou sentindo esta concorrência, não é? Podemos pensar em Recife, em Fortaleza... Com certeza. Todos os estados estão seguindo o exemplo. A própria Paraíba, o Maranhão estão investindo. O Pará está investindo mais na área. Enfim, os estados despertaram para o fato de que o turismo é importante. Cada um da sua maneira, ou tendo melhores equipamentos, ou tendo melhores atrações. Mas esta concorrência é sadia, porque o estado tem que ter competência para superar o outro e atrair mais turistas.Mas o senhor tem a impressão de que a Bahia não está mais investindo nesse segmento turístico?Não é que não esteja investindo. O problema é que há uma concorrência forte dos outros estados. Para conseguir mais voos do estrangeiro, por exemplo. Mas a Bahia já tem uma malha aérea razoável, comparada aos outros estados. Tem poucos voos internacionais, mas tem. A Bahia tem algumas coisas favoráveis. Agora, o cenário é outro e a concorrência com os outros destinos já dificulta a atração dos turistas.(Matéria originalmente publicada no CORREIO de 12 de agosto de 2012)
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