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Estudo compara e mostra diferenças entre Salvador e Montreal

Estudo realizado pela Unifacs compara as duas cidades e mostra que o primeiro desvio do caminho começou lá atrás, ainda na colonização

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26/10/2012 às 16:44 • Atualizada em 02/09/2022 às 5:19 - há XX semanas
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Luciana Rebouças[email protected] foram colonizadas na mesma época, têm o centro histórico como referência para turistas do mundo inteiro e possuem hoje praticamente a mesma população (em torno de 3 milhões de habitantes). Mas a distância entre Salvador e Montreal, no leste do Canadá, é maior que os 8 mil quilômetros que as separam. Estudo realizado pela Unifacs compara as duas cidades e mostra que o primeiro desvio do caminho começou lá atrás, ainda na colonização. “Enquanto a França queria colonizar o Canadá buscando um novo mundo de fato, os portugueses viram o país apenas como um local de exploração”, explica Silvia Carreira, coordenadora do Escritório Público de Engenharia e Arquitetura da Unifacs e da especialização de Planejamento Urbano da mesma instituição. Apesar das semelhanças iniciais, o planejamento das duas metrópoles seguiu direções diferentes. Em Montreal, houve investimento em mobilidade urbana, através de um transporte público integrado. A cidade também foi programada com projetos urbanísticos para estimular os moradores a utilizarem os espaços públicos. Com calçadas largas e projetadas também para portadores de deficiências, o pedestre se sente à vontade para usufruir melhor o que Montreal tem a oferecer. Oportunidade Silvia Carreira lembra que boa parte da reestruturação começou na década de 70, por ocasião das Olimpíadas. “Montreal virou um canteiro de obras para as Olimpíadas. E por que Salvador não teve isso? Porque nunca sediou nada”, pondera a arquiteta. Ao contrário da cidade canadense, Salvador não aproveitou a Copa do Mundo de 2014 para deixar um legado para os baianos. Os projetos de transporte público, por exemplo, ainda não saíram do papel, apesar de faltar quase um ano e meio para o evento. Para Silvia Carreira, o que resta são medidas emergenciais para atender a demanda nos dias de partidas de futebol. “Não temos muitos projetos. As coisas são setoriais. O que está sendo feito é a Arena Fonte Nova, o novo terminal de passageiros no Porto de Salvador e a Linha Viva (que irá ligar a Rótula do Abacaxi ao Aeroporto de Salvador). E a orla de Salvador, e a mobilidade urbana? Estamos brincando com fogo. Montreal é o que é por causa dessas Olimpíadas”, avalia. Retorno O centro histórico é um outro exemplo citado pela especialista. O de Montreal é um ponto turístico, com comércio forte, e também usado como área de moradia. Mas nem sempre foi assim. Segundo Silvia Carreira, o processo de degradação do centro é comum em várias metrópoles mundiais. “Só que os canadenses atentaram que esse esvaziamento estava trazendo uma grande degradação do ponto de vista físico, ambiental e social”, diz. Para valorizar a cultura, a história e ainda incrementar a economia da região, foram programados investimentos para revitalizar essa área da cidade. Silvia lembra que, com a criação de um novo centro financeiro em Salvador, na região da Tancredo Neves e do Iguatemi, o Comércio acabou esquecido, gerando um efeito cascata na região do Pelourinho. “Sempre falo com meus alunos que, quando passo por aquela região do Elevador Lacerda, parece ser uma área de bombardeio do pós-guerra. É uma tristeza, porque é a nossa memória”, critica Carreira. Além de um centro preservado, Montreal é uma cidade que valoriza o lazer. Salvador poderia levar vantagem em relação ao Canadá também nesse quesito. O clima e a arquitetura da cidade são propícios. Mas, para a coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifacs e professora da Uneb, Liliane Mariano, o espaço público baiano é apenas para circulação. “E de má circulação”, argumenta. “Aqui, há alguns poucos parques, localizados em áreas de classe média (como o Parque de Pituaçu e o Parque da Cidade) e estão praticamente abandonados”, comenta. A arquiteta lembra que no Parque da Cidade, que é rodeado pelo Nordeste de Amaralina, o poder público colocou um muro para dificultar o acesso da comunidade, que é a mais carente desse tipo de lazer. “É um Parque que dá as costas para quem mais precisa, que é a população de baixa renda”, acrescenta. Parque Olímpico Em contraposição, Montreal, além de vários espaços verdes, possui uma cidade subterrânea, que funciona como um shopping center, com acesso às linhas de metrô. E conseguiu manter seu Parque Olímpico preservado desde 1976, quando o evento foi realizado na cidade. O equipamento até hoje é utilizado pela população e pelos turistas. Coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifacs e professora da Uneb, Liliane Mariano destaca que no projeto urbanístico canadense a política de acessibilidade foi valorizada e permite ao idoso, à criança ou ao portador de deficiência circular em todos os espaços. “E isso não acontece em Salvador”, diz. Liliane lembra que, na Avenida Manoel Dias, as calçadas têm uma descida para cadeirantes, mas ao sair da via o portador de necessidades especiais não encontra mais acesso liberado. As duas especialistas destacam que, além da colonização diferente, o modelo de gestão da cidade permitiu que Montreal investisse na infraestrutura pela melhor qualidade de vida na cidade. “Lá, a população elege um representante que irá defender os seus interesses. E isso de fato aconteceu em Montreal”, acrescenta Silvia Carreira. Salvador, destaca a especialista, tem um modelo de elaboração de planos diretores melhor do que o canadense. “Porém, aqui, temos várias leis que não funcionam. O modelo de gestão fica mais defasado em relação ao de Montreal”, explica.(Matéria originalmente publicada no CORREIO de 15 de outubro de 2012)

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