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Tecnologia aliada ao planejamento transforma cidades

Para acomodar tanta gente, os grandes centros urbanos sofrerão o impacto desse inchaço populacional

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30/10/2012 às 14:32 • Atualizada em 02/09/2022 às 5:16 - há XX semanas
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Wladmir Pinheiro [email protected] Mais da metade da população do planeta vive nas cidades. Atualmente, esse número passa dos 4 bilhões, mas até 2050 chegará a quase o dobro. Para acomodar tanta gente, os grandes centros urbanos sofrerão o impacto desse inchaço populacional. Mais gastos com energia e infraestrutura serão necessários. Viver na maioria dessas cidades daqui a 40 anos será uma experiência próxima a de um dia de Carnaval, mas sem tanta felicidade. Apenas o caos diante da escolha de milhares de pessoas saírem de casa em um só momento, a tentativa frustrada de chegar onde se quer e a quantidade de lixo produzida.
O cenário que parece ressaca de uma quarta-feira-de-cinzas é a projeção nada otimista da Organização das Nações Unidas. O motivo para tanta descrença é a falta de gestão da maioria dessas metrópoles. Diante da dificuldade em aplicar soluções (sim, elas existem) para esses problemas, empresários do ramo imobiliário e da tecnologia resolveram investir em um mercado bilionário: construir cidades a partir do zero ou planejá-las com ações mais sustentáveis e interligadas.
As chamadas cidades inteligentes prometem acabar com os enfarrafamentos, diminuir o desperdício de energia, além de oferecer melhor qualidade de vida aos seus habitantes. Esse será um dos temas de palestras a serem abordados no Fórum Agenda Bahia, no seminário Metrópole Baiana, que acontece amanhã no auditório do Federação das Indústrias do Estado da Bahia.
Cidades ainda pouco conhecidas como Songdo, na Coreia do Sul, e Masdar, nos Emirados Árabes, prometem definir o novo conceito de grande metrópole. Na cidade sul-coreana, telas sensíveis ao toque farão webchamadas de casa para qualquer ponto da cidade. A ideia é reduzir a necessidade de se utilizar o carro para realizar tarefas corriqueiras, como ir ao médico. Além da comodidade, o objetivo é reduzir a poluição. O selo inteligente vale por dois, nesse sentido, pois se refere tanto ao alto padrão de tecnologia quanto ao uso do espaço urbano de forma sustentável.
O Brasil não está fora desse mercado que, em 2011, movimentou US$ 34 bilhões só na área de tecnologia, segundo o IDC Government Insight.
Recife O mais recente mergulho brasileiro nesse grupo de alto investimento vai acontecer a poucos quilômetros do Recife. Ao redor da Arena Pernambuco, estádio sede da Copa 2014, uma cidade inteira será erguida em área de 240 hectares, o equivalente a 300 campos de futebol. Com custo de R$ 5 bilhões, o projeto inclui campus universitário, centro de convenções, prédios residenciais e comerciais, tudo interligado por tecnologia wireless e 24 horas monitorado por uma moderna central de comando.
“Apesar de inicialmente serem caras, essas cidades inteligentes têm uma grande vantagem em relação às outras: elas começam do zero. Por isso, é possível planejar toda a tecnologia, o que facilita sua implantação”, revela Marco Aurélio Cruz, diretor coorporativo no Brasil da multinacional japonesa NEC.
Nem a grama escapa A empresa trouxe a experiência de outras cidades, como Yokohama, no Japão, e também da Arena O2, estádio feito para as Olimpíadas de Londres. Lá, da emissão de bilhetes ao controle da temperatura da grama, tudo passou pela NEC.
“Em função dessa experiência, a Odebrecht, responsável pela parte de infraestrutura da Arena Pernambuco, nos convidou há dois anos para desenvolver todo o sistema de tecnologia”, diz. O projeto da Arena Pernambuco ainda prevê a adoção de medidas sustentáveis em duas linhas: primeiro, na utilização da energia solar captada pelas placas do próprio estádio, a outra é baseada na reciclagem do lixo.Vila que é destaque verde na América fica no Brasil Outras cidades brasileiras também já entraram no mercado das smart cities. É o caso de Pedra Branca, cidade universitária na Grande Florianópolis, que começou a ser construída em 1997, ao redor do campus da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul). A cidade, pioneira desse tipo no Brasil, é uma das únicas da América a ganhar o título de cidade verde da Clinton Foundation, uma fundação em defesa do meio ambiente criada pelo ex-presidente americano Bill Clinton. Construída em uma área de 250 hectares para abrigar 30 mil pessoas, a cidade Pedra Branca já possui hoje mais de 4 mil habitantes. Se essas cidades têm a vantagem de partir do zero e de planejar cada tijolo, às outras, já construídas, cabem adotar soluções inteligentes para atenuar os problemas das grandes metrópoles. É o caso do Rio de Janeiro. Da sala de controle do Centro de Operações do Rio, um telão de 80 metros quadrados exibe as imagens captadas pelas 560 câmeras espalhadas pela cidade. Desde 2010, a cidade conta com uma central de comando capaz de antecipar soluções e minimizar situações de emergência. Acidentes, incêndios, deslizamentos de terra, nada escapa aos olhos eletrônicos do Centro, que reúne 30 órgãos (secretarias municipais, estaduais, concessionárias) prontos para tomar decisões que vão gerar impacto em toda a cidade. “O projeto Cidades Inteligentes da IBM apostou no Centro de Operações do Rio e ele se transformou em referência no mundo todo. Apesar de ter sido uma exigência para a implantação dos Jogos Olímpicos, em 2016, a importância e a necessidade do centro foi verificada no nosso dia a dia. A cidade ficou mais inteligente, reaje mais rápido aos imprevistos”, contou Carlos Osório, secretário de Conservação do Rio de Janeiro. Trânsito gerenciado O Rio ainda serve como laboratório para outra experiência inteligente. A NEC, mesma empresa responsável pela Arena Pernambuco, realiza testes com sensores instalados em táxis, ônibus e outros veículos de serviços, como carros dos bombeiros e da polícia. “A ideia do sistema de trânsito inteligente é captar informações para gerenciar o fluxo de veículos, tempo de semáforos”, diz diretor. O sistema poderá indicar melhores rotas em casos de acidente ou em horário de pico no trânsito. Clique abaixo para ampliar a imagem:SALVADOR Terceira maior cidade do país, Salvador é uma cidade inchada. Além dos seus 2,7 milhões de habitantes, outros milhares cortam suas ruas estreitas diariamente. Apesar de ainda não comportar um projeto complexo como o apresentado no Rio de Janeirou ou em Pernambuco, a cidade tem importado soluções sustentáveis para problemas antigos. Embora ainda timidamente, alguns desses projetos já saem para os canteiros de obras com o selo inteligente. A revitalização da área do porto, no Comércio, por exemplo, segue esse novo padrão sustentável, em que as transformações do tecido urbano buscam criar uma nova forma de atrair os moradores para ocupar esses espaços públicos. “O novo porto será mais aberto, com vidraças que aproveitam melhor a luz solar e economizam a energia necessária para iluminar e refrigerar o ambiente”, explica Antonio Alberto Valença, técnico da Secretaria Estadual de Planejamento (Seplan). Antigos galpões do porto foram demolidos para abrir o Comércio para o mar, permitindo a ventilação e devolvendo a vista da Baía de Todos os Santos para o bairro. Outros motivos de preocupação do projeto são a destinação dos resíduos produzidos pela ocupação da faixa litorânea e o cuidado com a água, que deve ser reutilizada em processos de operação no Terminal de Contêineres. O projeto inclui ainda espaços destinados a ciclovias e áreas de caminhada que integram a área do porto à Cidade Bai
Ônibus com horário marcado
242 ônibus da Barramar estão equipados com GPS e equipamentos que informam horário, localização e trajeto dos veículos. Ideia é diminuir perda de tempo no trânsito. Número é pequeno perto da frota de 2.450 veículos
Cidade em duas rodas
Projeto do governo do estado em andamento prevê investimento de R$ 40 milhões na construção de ciclovias. Objetivo é estimular o uso das bicicletas como meio de transporte. Ilha na Coreia do Sul é modelo de cidade em área menor que Brotas Songdo, na Coreia do Sul, promete estabelecer os novos parâmetros para as cidades que virão. A aposta dos seus criadores é construir uma cidade moderna, eficiente e sustentável, como nenhuma outra. Songdo vai consumir apenas 30% da energia necessária para se manter uma cidade do seu porte. Erguida em uma ilha artificial de 607 hectares (metade do bairro de Brotas, em Salvador), a cidade fica a poucas horas de Tóquio, Xangai e Seul, principais centros econômicos da Ásia. Songdo quer se tornar um exemplo em soluções high tech para as outras cidades ao redor do mundo. Antes mesmo de ficar pronta - o que só vai acontecer em 2015 - 22 mil já carimbaram o visto. Espera-se um total de 365 mil, entre moradores fixos e temporários. Tanta tecnologia e modernidade tem seu preço: US$ 35 bilhões. Flintstones Usando alta tecnologia, Songdo tornará Brasília uma versão pretensiosa de Pretória, a cidade pré-histórica do desenho animado Os Flintstones. “Nas cidades atuais, primeiro eram desenhadas as rodovias e depois as construções iam surgindo em seu entorno. Essas cidades impunham determinados usos a determinadas áreas. Nas cidades inteligentes, esse planejamento não está completamente imposto”, diz o arquiteto Antônio Caramelo. Ele mesmo tem um plano de cidade inteligente já em andamento para a Bahia. O local do novo empreendimento é mantido em segredo a ser revelado até o final de 2013. O grande legado para os seus moradores promete ser reconfigurar os conceitos de mobilidade e telepresença. Telas para videochamadas serão instaladas em todas as casas e escritórios para que seus moradores não precisem sair para atividades diárias, como assistir a uma aula, participar de uma reunião de trabalho ou até realizar uma consulta médica. Ao CORREIO, a equipe da empresa Cisco falou sobre a inovação. “A Telepresence pode ser a janela para os serviços inteligentes em casas e escritórios. Nós estamos buscando habilitar esse serviço em vários dispositivos para que os moradores e as empresas possam usufruir da videochamada a qualquer momento e lugar”.(Matéria originalmente publicada no CORREIO de 30 de outubro de 2012)

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