Mesmo no aperto, o aposentado Alfredo dos Santos conseguiu se organizar para trocar o carro velho por um novo. Na hora da escolha, ele conseguiu conciliar o sonho de pegar um “carrão” com as condições financeiras. “Queria um carro novo, grande e que estivesse dentro do meu orçamento, claro”, conta. E os brasileiros têm mesmo dado a preferência aos carros de entrada, considerados os mais básicos e mais baratos no portfólio das marcas. É o que aponta o levantamento feito pela Unidade de Financiamentos da Cetip, que opera o maior banco de dados privado de informações sobre financiamentos de veículos do país, o Sistema Nacional de Gravames (SNG).
No primeiro semestre, a participação dos autos leves de entrada no mercado foi de 26%, seguida pelos hatches pequenos, com 25%. Nos últimos cinco anos, a presença dos modelos populares vinha diminuindo, quando sua representatividade, que chegou a ser de 35%, em 2011, caiu para 26% em 2015. No mesmo período, os carros hatches aumentaram a presença e passaram de 16%, em 2011, para 25%, em 2015. O movimento de retomada do modelo mais básico fez o aposentado optar pelo Ford Ka, que saiu por R$ 36,93 mil. A cautela do consumidor em gastar, diante de um cenário de instabilidade econômica e de aperto nas finanças, impactou – e muito – na escolha, como explica o economista e educador financeiro Angelo Guerreiro. “Não é o brasileiro que está mudando de gosto. Muito pelo contrário, ele melhorou a sua renda nos últimos anos, com a política de governo do estímulo ao consumo, e aguçou o gosto”, analisa Guerreiro. “A opção por carros de entrada está mesmo vinculada à diminuição do poder aquisitivo e às incertezas com relação à economia”. Entre as marcas, a Fiat foi a que mais financiou carros de entrada no primeiro semestre do ano, com 66.544 unidades. O Palio foi o modelo preferido, com 42.306 veículos vendidos. Já a Chevrolet liderou os financiamentos dos hatches pequenos, com 40.684 unidades, e dos sedãs pequenos, com 38.825 unidades. A Ford foi a marca mais financiada dos utilitários, com 12.997 unidades vendidas. A decisão saiu do sonho de consumo e foi parar no orçamento, como reforça o especialista. “As pessoas estão buscando carros mais baratos que de alguma forma atendam as suas necessidades gastando menos dinheiro”, diz. Melhores Para o vice-presidente da Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores na Bahia (Fenabrave-BA), Luiz Pimenta, o bolso conta muito, mas a repaginada e o novo conceito que os carros populares ganharam ao longo do tempo em termos de tecnologia também é um fator que explica a procura. “O carro de entrada saiu do ‘basicão’ que a gente conhecia. Melhorou muito. Hoje são carros mais baratos e tecnologicamente mais avançados, que oferecem qualidade com um custo menor”, explica. Segundo dados da Fenabrave, em todo o país foram vendidos 3,4 milhões de veículos no ano passado e 75% desses veículos foram comprados pela classe C. “As montadoras apostam nesse tipo de carro para aumentar sua fatia de mercado, de olho na classe C, que é quem tem mais adquirido carro novo”, explica Luiz Pimenta. A disputa entre as marcas é cada vez maior. “Elas entram com força na disputa por esse cliente que quer encontrar no mesmo produto design, tecnologia e segurança por um preço menor. Não é à toa que as indústrias estão colocando seus carros de entrada como carro-chefe das montadoras”, acrescenta. Mesmo não tendo o que reclamar do seu Celta 2012/2013, a administradora Mônica Câmara está tentada a trocar o carro por um zero- quilômetro. “Além de mais tecnologia, não quero demorar para comprar e perder dinheiro na revenda”, conta, enquanto “namorava” o seu sonho de consumo na loja da Nissan na Av. ACM: um New March, que custa a partir de R$ 36.990. A escolha pelo modelo japonês, segundo ela, é a mistura de desejo com o melhor custo-benefício. “Tem que ser um modelo que eu goste, mas que, principalmente, encaixe no meu orçamento”. Cautelosa, Mônica optou por pensar na troca antes de fechar o negócio. “Acabei de comprar um apartamento e quero trocar de carro. Vou colocar tudo na ponta do lápis para ver se vale a pena. Tenho medo de me enrolar e entrar na estatística da crise”, desabafa. Expectativa Por conta do receio do consumidor em gastar em tempos de crise, as projeções de vendas na Bahia estimam um volume de 110 mil carros no ano. Em Salvador, as vendas por mês chegam a 5 mil unidades. “A nossa projeção não é maior por conta da crise econômica. O empenho do mercado tem sido cada vez maior em buscar ofertas e, sobretudo, condições atrativas para reverter o cenário”, avalia o vice-presidente da Fenabrave-BA. Na Bahia, os financiamentos de modelos populares e hatch estão praticamente empatados, em 25,2% e 25,4, respectivamente.
Entre o sonho que tinha e a reserva que fez, Alfredo dos Santos ficou com um Ford Ka |
*Colaborou Naiana Ribeiro
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