O Brasil tem mais de 63 milhões de inadimplentes. Mesmo entre os que conseguem honrar seus compromissos financeiros, mais da metade admite dificuldade para manter as contas em dia. O desemprego em patamares elevados justifica essa situação, mas a ausência de uma cultura de planejamento financeiro e a persistência do consumo de curto prazo agravam esse quadro. É possível mudar esse comportamento, e os aplicativos de celular estão aí para dar uma mãozinha. Mas é essencial ter disciplina e repensar hábitos de consumo.
O primeiro passo, conta o educador financeiro André Bona, é ter uma visão abrangente de sua real situação financeira. O grande problema, segundo ele, é que as pessoas não sabem exatamente quanto e com o que gastam seu dinheiro, por subestimar despesas e não levar em conta os descontos do salário, o que gera receitas superestimadas.
— As pessoas são otimistas quando fazem essas estimativas, por isso não conseguem executar o seu planejamento, porque ele está mal dimensionado. O único jeito de resolver isso é, por um mês, anotar absolutamente todos os gastos que são feitos e o quanto entra na conta corrente. Depois desse período, o consumidor vai saber seu real custo de vida — diz Bona.
Com cerca de 3 milhões de usuários, o GuiaBolso funciona como uma planilha virtual no celular, levando em conta a movimentação da conta corrente e do cartão de crédito. Mas mais do que saber como gastou o dinheiro, permite ao usuário estipular metas, recebendo avisos sobre o seu desempenho. Por exemplo, é possível cadastrar uma meta de valor mínimo a ser investido por mês. Outra ferramenta disponível, em parceria com a Boa Vista SCPC, é a consulta de possíveis pendências financeiras, além de empréstimos a juros mais baixos que em bancos em um acordo com a Just (uma das muitas fintechs de crédito no Brasil).
Carlos Macedo, analista do Goldman Sachs, lembra que aplicativos como o GuiaBolso, Organizze e Meu Dinheiro ainda têm espaço a ganhar porque há uma carência desse tipo de ferramenta:
— Os brasileiros, historicamente, têm acesso limitado a ferramentas para fazer o gerenciamento das finanças pessoais, o que levou a um maior uso de empréstimos caros e uma baixa alocação em investimentos.
Bona recomenda, ainda, concentrar os gastos nos cartões de débito e crédito, que trazem extratos discriminados. A outra opção é juntar notas fiscais e comprovantes de tudo o que foi comprado no mês.
Venda e troca de objetos
Depois de descobrir para onde vai o dinheiro, não adianta se desesperar e sair cortando tudo. Bona cita como exemplo o Netflix: embora seja um supérfluo, é um lazer de baixo custo. De acordo com o educador, o melhor é separar os gastos mensais por grupos — alimentação, jantar fora, transporte, moradia, lazer). Busque reduzir, então, os gastos maiores. No supermercado, por exemplo, o melhor é fazer uma lista de compras antes, assim se perde menos tempo e se evitam gastos por impulso.
— Há uma série de aplicativos que ajudam a trocar ou vender bens. Isso pode melhorar o orçamento, seja por uma renda extra ou por um gasto a menos — acrescenta Bona.
O Enjoei é um dos apps mais conhecidos para a venda de itens que estavam encostados em casa. Já o Casa247 permite trocar o que não tem mais serventia. Pelo Tem Açúcar?, é possível pegar emprestado itens que não são de uso frequente, evitando gastos extras.
Fernando Marcondes, planejador financeiro do Grupo GGR, também é de opinião que os aplicativos de consumo, organização financeira e uso compartilhado de bens podem ajudar:
— Em casa, ficamos só com o carro da minha mulher. Eu preciso usar os aplicativos de compartilhamento de carros. Para mim, sai mais em conta. Nem sempre ter um patrimônio imobilizado, como um carro, é a alternativa mais barata.
Marcondes recomenda, ainda, evitar as compras parceladas e ressalta que, para quem está inadimplente, a prioridade é quitar as dívidas.
Foi a necessidade de reorganizar a vida financeira depois de ser demitida do banco em que trabalhava que levou Mariana Lanzana Carturan a criar o aplicativo de troca de bens Casa247. Ela percebeu que tinha em casa muitos itens sem uso, ao mesmo tempo em que precisava de outras coisas, mas não tinha como comprar:
— A troca é uma forma de consumir sem precisar do dinheiro. Ajuda na mudança de hábitos para um consumo mais consciente. Damos uma possibilidade de renovar a casa ou o guarda-roupa sem precisar pagar por isso.
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Redação iBahia
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