Em um mundo globalizado, com um mercado de trabalho sempre mais seletivo, no qual aprender inglês se tornou mais uma necessidade do que um luxo, cresce o número de escolas que oferecem um sistema de educação bilíngue. No entanto, por não haver nenhuma legislação específica em relação a este tipo de ensino, não se tem um número oficial de quantas escolas bilíngues funcionam no Brasil.
Um exemplo de escola bilíngue em Salvador é a Gurilândia, voltada ao ensino infantil e fundamental. O colégio oferece pelo menos 10 horas semanais da segunda língua, no caso, o inglês. De acordo com Luciana Pinho, diretora da instituição, existem alguns conselhos que determinam como padrão de qualidade esta carga horária. Dessa forma, das quatro horas diárias que a criança do ensino infantil passa na escola, duas delas são ensinadas em inglês e duas no português. Para os alunos do ensino fundamental, que passam seis horas no colégio por dia, quatro horas são na língua materna e duas na segunda língua.
Apesar da grande demanda por uma escola nesses moldes, é normal encontrar pais que resistam ao pensar em colocar os filhos na educação bilíngue. No entanto, o pensamento vai de encontro a um estudo das instituições Concordia University, York University e Université de Provence. A pesquisa indica que as crianças não confundem os dois idiomas e, além disso, tendem a se focar mais em tarefas e a desenvolver uma atenção melhor do que aqueles que convivem com apenas uma língua. De acordo com Diane Poulin-Dubois, pesquisadora que coordenou o estudo, isso se explica pelo fato de as crianças bilíngues estarem acostumada a prestar atenção nos dois idiomas que conhecem.
Alfabetização
A relação com a escola bilíngue fica ainda mais delicada quando o assunto é alfabetização, período em que a criança passa pelo processo de aprendizagem dos processos de codificação e decodificação da língua escrita. Luciana Pinho defende que a ideia de que a alfabetização de duas línguas em paralelo atrapalha o aluno já foi derrubada por estudos que mostram que não existe interferências. “É bom para criança porque ela aciona duas áreas do cérebro, tanto a da língua materna, quanto a da língua adicional. Isso faz bem para o aprendizado da criança, ela faz mais conexões neurais quando aprende dois idiomas”, defendeu.
De acordo com Luciana, a Gurilândia alfabetiza as crianças nas duas línguas. “Isso tem trabalho com as letras, os sons dos dois idiomas desde a educação infantil. Isso se concretiza quando eles começam a ler e escrever nas duas línguas”, explicou.
Pensando em matricular seu filho? Fique atento a algumas orientações
Para os pais que estão indecisos, Luciana destaca que “a educação bilíngue não é mais um diferencial, é algo que é básico” atualmente. Se você se convenceu com as vantagens, ao matricular os filhos em uma escola bilíngue, é preciso ficar atento a algumas questões, que muitas vezes geram dúvidas. Por exemplo, é importante saber qual é a formação dos professores da escola. Estes precisam ser pedagogos ou formados na disciplina que lecionam, além de ter a fluência no segundo idioma ensinado. Mas não precisam, necessariamente, ser estrangeiros.
É importante também, além ficar atento a carga horária do inglês – ou de outra segunda língua – ensinada na escola, confirmar que o currículo de português do colégio tem o mesmo conteúdo e carga horária de um colégio brasileiro.
Outro ponto que deve ser questionado pelos pais são os parâmetros curriculares do inglês ensinado no colégio. Além disso, qual é o tipo de inglês adotado – se é acadêmico ou social, aquele usado de forma mais informal. E, por fim, questionar de que maneiras e quais referências de desempenho serão utilizadas pela escola para avaliar os alunos nas provas.
Escola internacional
A Gurilândia, além de bilíngue, é uma escola com educação internacional. Certificada pelo International Baccalaureate (IB), a instituição prega a formação do aluno com uma mentalidade global.
O IB é uma fundação educacional sem fins lucrativos que oferece quatro programas para os alunos de 4 a 19 anos. Com o foco nos alunos, o programa tem como finalidade desenvolver habilidades intelectuais, pessoais, emocionais e sociais para viver, aprender e trabalhar num mundo globalizado. A Gurilândia é habilitada pelo IB a oferecer o Programa PYP para os alunos de 3 a 11 anos, que vai do ciclo I da Educação Infantil ao Fundamental (5º ano).
“Para ter uma mente global, obviamente, você precisa aprender inglês, que é uma língua universal e precisa também ter uma mente internacional, no sentido que você precisa ter respeito pelo próximo, ser um bom comunicador, que se arrisca, que é respeitoso com a natureza, que não tem intolerância religiosa, que não tem intolerância de cor, ter uma cultura ampla sobre como as coisas funcionam na sua localidade e no mundo, ou seja, você precisa ampliar seus horizontes”, explicou Luciana.
No caso da Gurilândia, a diretora explica que o conteúdo da escola é todo dado “do local para o global”, o que possibilita o aluno a ter uma visão de mundo mais ampla, mas sem esquecer do que lhe cerca.
Desmitificando a educação bilíngue
1 – Ser bilíngue é difícil:
Como no Brasil existe apenas uma língua oficial, muitas pessoas estranham o bilinguismo e acredita que isso confunde um processo de educação. Não é o que defende a professora da Unicamp, Tereza Maher. Ela indica que isto já é uma condição comum para boa parte da população mundial. Muitas pessoas, por exemplo, crescem convivendo com duas línguas, ou por ter pais de origem diferentes, ou pelo o país falar mais de um idioma.
2 – Escolas bilíngues devem seguir dois currículos, o brasileiro e o de outro país
Por não possuírem nenhuma regulamentação específica, estando sujeita às mesmas leis e obrigações que as demais escolas, os colégios bilíngues seguem os parâmetros de currículos nacionais, que são impostos pelo Ministério da Educação. Ou seja, não é necessário possuir um currículo de outro país. O fato de ter um currículo brasileiro é bom pois não impede a continuidade do estudante em qualquer outra instituição de ensino do país.
3 – As crianças bilíngues têm duas culturas
Um dos maiores medos dos pais ao pensar nos filhos em escolas bilíngues é a possível perda da identificação com a cultura brasileira. No entanto, profissionais que trabalham com o bilinguismo defendem que, através do contato com outra língua, a criança passará a ter uma visão de mundo mais ampla. “Eles aprendem desde pequenininho como é a vida deles, o reduto deles, mas aprendem também como o mundo funciona”, disse a diretora da Gurilândia.
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