Uma criança de Salvador com apenas 3 anos de idade já poderia ser o orgulho de Luiz Gonzaga se resolvesse traduzir e cantar o famoso "Pagode Russo" (canção icônica do maior nome do forró brasileiro). Isso porque Breno Rezende, filho da comerciante Flávia Rezende, tem um QI (Quociente de Inteligência) de 130 e já soletra o alfabeto russo (veja vídeo abaixo).
Crianças da idade de Breno têm um QI médio de 100, inferior ao QI do soteropolitano que surpreende os pais desde que era bebê. A avaliação foi feita através de uma consulta com uma neuropsicopedagoga e a identificação do menino como uma criança com Altas Habilidades/Superdotação foi atestada pela Mensa Brasil, filial brasileira da mais antiga e renomada sociedade de alto QI do mundo.
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Os sinais da superdotação de Breno começaram muito cedo. Com um 1 ano e 8 meses, o menino começou a ler palavras em placas e embalagens, mesmo que não tenha sido introduzido ao processo de alfabetização.
Segundo a mãe de Breno, Flávia Rezende, ele tinha acesso a um brinquedo com as letras, mas aprendeu a ler sozinho.
"Ele começou a ler placas de carro no estacionamento do supermercado e ler embalagens como arroz e feijão. A gente percebeu que ele começava a soletrar e depois formava a palavra. Foi assim que percebemos que ele já sabia ler. Depois eu dei a ele um livro do Rei Leão e ele começou a ler frases completas e, logo depois, a escrever", relata Flávia, em entrevista ao iBahia.
O desenvolvimento de Breno continuou a surpreender e ele passou a se interessar por outras línguas. Apaixonado por inglês e conectado aos dispositivos tecnológicos, o garoto aprende por meio de vídeos a formar frases no idioma em forma de brincadeira.
"Ficamos surpresos com o inglês porque o vocabulário dele ia além do [vocabulário] de uma criança que está começando a aprender a língua", conta a mãe. A iniciativa autoditada de Breno se expandiu e ele passou a buscar traduções de palavras em sírio e japonês por meio do Google. Além disso, ele passava o tempo resolvendo questões de matemática.
Em vídeos gravados pela família, o menino ouve e canta o alfabeto em russo, uma das línguas que, segundo Flávia, ele tem muito interesse.
"Nós nos impressionamos muito com o russo, foi a gota d'água. Ele começou a falar algumas coisas que a gente não entendia. Eu fui ver os vídeos que ele assistia e falei para meu marido: 'acho que ele está falando em russo'", detalha Flávia.
Importância da identificação
Esses sinais levaram os pais do menino a buscarem explicações para o comportamento. Segundo Patrícia Schneider, neuropsicopedagoga e especialista em Altas Habilidades/Superdotação, Breno possui a inteligência de uma criança com o dobro de sua idade. Além disso, a especialista alerta para que a identificação do menino não caia em estereótipos.
"Não é um diagnóstico porque não é uma doença. O que é feito é a identificação de uma condição neurodiversa, uma neuroatipia, é um jeito diferente de funcionar", explica a especialista.
Ela ressalta ainda que a identificação como uma pessoa superdotada não exige um tratamento especial, mas possibilita que esse público acesse oportunidades educacionais adequadas às suas habilidades.
"Eles têm necessidades educacionais especiais não pelas dificuldades que têm, mas porque são mais famintos", pontua Patrícia. "Essa identificação é importante porque muitas dessas crianças, [quando não identificadas com superdotação], vinham com diagnósticos equivocados. Achavam que era Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), mas geralmente era uma criança que não se adaptava", afirma.
Esse quadro pode ser observado na vida escolar de Breno, que chegou a ser apelidado de "fujão" na antiga escola porque não conseguia ficar na sala de aula. Com o objetivo de criar um ambiente mais acolhedor para essas pessoas, o Ministério da Educação (MEC) possui uma diretriz específica para a população identificada com Altas Habilidades/Superdotação.
Com isso em mente, Flávia tem idealizado um futuro educacional diferente para Breno e planeja colocá-lo em um ambiente mais adequado à sua idade cognitiva. "A escola onde ele estava não teve empatia e eu o tirei de lá antes do final do ano. As escolas não estão preparadas e acham que o aluno tem alguma outra coisa", pontua a mãe.
A neuropsicopedagoga alerta ainda para o cuidado com essas crianças que, a partir do momento que são identificadas, são bombardeadas com expectativas desproporcionais.
"Um superdotado pode se tornar um gênio a depender do ambiente. É um mito achar que essa criança já sabe tudo. Não, ela é uma criança que aprende rápido", explica a especialista, que enfatiza a necessidade de um bom ambiente educacional e estímulos adequados para que essa criança desenvolva seu potencial.
*Matéria sob supervisão de Danutta Rodrigues
Iamany Santos
Iamany Santos
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