Certamente você ouviu a palavra crise centenas de vezes ao longo de 2015. Mas em 2016, ela ainda será uma palavra com presença no nosso cotidiano? O setor da construção civil sentiu os efeitos do cenário econômico este ano e busca saídas para encarar 2016 com menores impactos. Na Bahia, o ano deve fechar com a venda de 7 mil unidades imobiliárias - patamar próximo do que ocorreu em 2014.
O CORREIO Imóveis ouviu especialistas e representantes do setor que indicaram as perspectivas para o próximo ano. O presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-BA), Luciano Muricy, acredita que 2016 será o ano da retomada do crescimento do mercado, especialmente em Salvador.
"O principal desafio é a solução das crises econômica e política no país que levaram ao desaquecimento da economia, gerando desemprego e inflação. A aprovação do novo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) na capital baiana pode ajudar o setor a superar este difícil momento", ressalta.
Um dos imóveis vendidos foi para a família de Augusto Sampaio. "Confesso que demoramos um pouco mais do que planejamos para fechar a compra. Tínhamos a ideia de compar em abril, mas acabamos comprando em setembro deste ano. Apesar do ano difícil, conseguimos o financiamento", explica.
(Imagem: Ian Thomas/CORREIO) |
A situação indicada por Augusto foi um dos grandes problemas do setor este ano. "Faltou oferta de crédito nos bancos para fechar negócios", opina Vera Dias, corretora de imóveis. Em todo país, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), entre janeiro e outubro, foram destinados R$ 66,7 bilhões para a aquisição e a construção de imóveis, resultado 28,4% menor do que o mesmo período do ano passado.
Em 12 meses, até outubro, de acordo com a Abecip, o montante de empréstimos para aquisição e construção de imóveis com recursos das cadernetas de poupança do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) foi de R$ 86,3 bilhões. O valor representa uma redução de 24,1% em relação aos 12 meses anteriores.
Desenvolvimento
Ivan de Freitas Leão, diretor de Expansão de Mercados da Ademi- BA e diretor da Leão Engenharia, ressalta que a construção civil está suscetível às vulnerabilidades da economia. "As previsões da economia para 2016 indicam uma situação complicada até, pelo menos, o começo do segundo semestre. A crise política afeta a economia em geral, mas principalmente a construção civil. Nós temos problemas de crédito, de falta de financiamento e o aumento da taxa de desemprego, mas esperamos que a situação possa se reverter ao longo do ano".
Leão pondera que haverá uma mudança no comportamento do mercado imobiliário, principalmente na capital baiana. "Em Salvador, nós temos um estoque reduzido de imóveis e, em 2015, não tivemos quase nenhum lançamento, então existe margem para crescer, principalmente com boas oportunidades para quem procura imóvel para morar", opina.
Rafael Valente, diretor da Civil, indica que para o próximo ano a empresa pretende tirar do papel grande parte dos projetos que foram desenvolvidos durante 2015. "Não será um ano fácil, porém, não vamos parar e trabalharemos mais do que nunca, pois o nosso plano é de longo prazo, portanto avaliamos que 2016 será um degrau a mais para vencer", alerta.
Ele acredita que a situação econômica do país em 2016 será desafiadora. "Se o contexto continuar a se apresentar dessa forma, o país para. Como sou otimista, e acredito que não ocorrerá aumentos significativos de impostos, os juros vão cair até o fim do ano e a situação política tenderá a uma definição. De forma global, acredito que vamos terminar 2016 melhor do que terminamos esse".
Representante da MVL Incorporadora e vice-presidente da Ademi-BA, Marcos Nogueira Vieira Lima indicou que a expectativa para 2016 é uma maior velocidade de vendas dos imóveis de segunda residência. "Até o fim do ano haverá uma redução da disponibilidade de empreendimentos para comercialização, ocorrendo um aumento do valor das unidades. O desafio é fazer com que os bancos privados voltem a financiar a produção e os adquirentes de forma intensa. A barreira que ainda vamos enfrentar é a alta dos juros e a solução está nos financiamentos alternativos", esclarece Lima.
Legislação
Diretor de marketing da Ademi-BA, sócio diretor da Ello Imóveis e acionista da RE/MAX Brasil, José Azevedo Filho acredita que nos próximos 12 meses haverá uma diminuição considerável no número de ofertas de imóveis.
"O PDDU e a Louos (Lei de Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo do Município de Salvado) só serão aprovados completamente em abril ou maio. Então, só vamos ter um número maior de lançamentos a partir do terceiro trimestre de 2016. Acredito que vamos ter uma venda bem parecida com a dos últimos três anos, que foi de 7 mil unidades aproximadamente. O nosso grande desafio, sem dúvida nenhuma, é a aprovação do PDDU e da Louos . Assim, vamos conseguir ter um crescimento expressivo", indica.
Diretor-geral da Via Célere no Brasil, Rodrigo Dratovsky indica que a empresa pretende impor ritmo acelerado de trabalho. "Estamos com dois terrenos em fase de desenvolvimento de projetos e com planejamento de lançamento de um deles no segundo semestre. Acredito na máxima de que na crise sempre há oportunidades e também que não há mercado ruim para produto bom. Para mim, este é o grande desafio para 2016, acertar no projeto. Pesquisar e avaliar as expectativas e condições de compra dos potenciais clientes, e lançar o projeto que atenda as suas necessidades e se encaixe no orçamento", argumenta.
A espera por um cenário mais favorável foi justamente o motivo que levou o casal João Guimarães e Marília Dantas a adiar a compra do imóvel em 2016. "A situação deste ano foi muito difícil e ficamos com medo de gastar o dinheiro que investimos para comprar a casa", diz Marília.
Cenários
Segundo o diretor regional de incorporação da PDG, Rodrigo Alves, a prospecção de negócios para 2016 é um dos caminhos para reduzir o cenário de crise. "Toda dificuldade para os empresários acaba se traduzindo em oportunidades para os clientes, na forma de descontos ou outras facilidades comerciais. Como o cenário macroeconômico tende a continuar avesso à retomada dos lançamentos, 2016 será o ano para os empresários monetizarem seus estoques, transformá-los em dinheiro, e para os consumidores fecharem excelentes negócios".
Por sua vez, Acram Rajab, da Imobiliária RE/MAX Residence, indica que é difícil fazer previsões. "A restrição de crédito imposta pelo sistema financeiro aliado à falta de capital de giro e o baixo LGCE (Limite Geral de Contratação de Empreendimentos) fizeram muitas empresas reverem seus planos, pois não têm condições de contratar empreendimentos muitas vezes com vendas performadas e obras iniciadas e isso acaba “quebrando” até os mais experientes. Devemos ter um ano cauteloso, porém sem perder o foco em si mesmo em primeiro lugar e abusando sempre da criatividade e da inovação, fundamentais para saber identificar e desfrutar oportunidades futuras, gerando valor e despertando desejos".
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