Mais de 10 mil pesquisas científicas foram analisadas por um gabaritado time de especialistas das Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos (Nasem) em uma ampla revisão da literatura sobre os efeitos dos derivados da maconha, cujos resultados foram publicados no último mês. A revisão, que envolveu estudos divulgados desde 1999, analisou as evidências científicas existentes até aqui sobre os efeitos dos derivados da maconha para a saúde — e suas possíveis relações, positivas ou negativas, com doenças mentais, cardiovasculares, entre outros.
Nesta semana, a discussão sobre os benefícios e malefícios da maconha veio à tona com o posicionamento do ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso, que se declarou à favor da legalização da substância e da cocaína como forma de combater o tráfico de drogas.
"O cenário relacionado à maconha vem mudando rapidamente, com mais e mais estados legalizando os derivados das plantas do gênero cannabis para o tratamento médico e uso recreativo", aponta a professora Marie McCormick, uma das autoras do estudo e pesquisadora da Escola de Saúde Pública de Harvard, nos Estados Unidos. "A falta de qualquer conhecimento agregado sobre os efeitos da Cannabis para a saúde tem levado a incertezas sobre quais, se existem, são os perigos ou benefícios deste uso."
Confira as evidências científicas reunidas pela revisão:
1. Efeitos terapêuticos
Segundo os pesquisadores da Nasem, há evidências que comprovam a eficácia dos canabinóides no alívio a dores crônicas em adultos. Para pacientes com espasmos musculares relacionados à esclerose múltipla, há evidências fortes de que o uso a curto prazo de medicamentos com estas substâncias contribuem no tratamento. Além disso, para pacientes passando por quimioterapia, há evidência conclusiva de que estes remédios foram eficazes na prevenção e tratamento de náuseas e vômito.
2. Ferimentos e mortes
Estudos revisados sugerem uma relação entre o uso de maconha e posterior acidente com veículos, como carros. Além disso, há base factual que demonstra, em estados onde o uso da maconha é legalizado, um aumento na overdose não-intencional com Cannabis entre crianças.
Um estudo mostrou, por exemplo, que entre 2000 e 2013 a taxa anual de chamadas de emergência para infecções relacionadas a exposição à Cannabis em crianças foi 2,82 maior em estados americanos que haviam legalizado o uso medicinal da maconha do que aqueles em que este uso era proibido.
3. Câncer
Em relação à ligação entre a maconha e o câncer, os pesquisadores não encontraram evidências substanciais de que fumar maconha possa aumentar o risco de cânceres frequentemente associados ao tabagismo, como no pulmão, cabeça e pescoço. Em relação a alguns tipos de câncer testicular, no entanto, há evidências positivas, mas ainda insuficientes.
4. Ataque cardíaco, derrame e diabetes
De acordo com os cientistas, é preciso mais pesquisas para entender a associação entre o uso da maconha a ataques cardíacos e diabetes. No entanto, algumas evidências sugerem que fumar Cannabis pode desencadear um ataque cardíaco.
5. Doenças respiratórias
As evidências sugerem que o fumo regular da maconha está associado a episódios mais frequentes de bronquite crônica e sintomas como tosse. Mas não há base factual suficiente para compreender a relação do uso da substância com doenças como a asma.
6. Saúde mental
A evidência revisada pelo grupo sugere que o consumo de Cannabis é suscetível a aumentar o risco de desenvolver esquizofrenia, outras psicoses e distúrbios de ansiedade social e, em menor grau, depressão. Por outro lado, em indivíduos com esquizofrenia e outras psicoses, um histórico de consumo de Cannabis pode estar ligado a um melhor desempenho em tarefas de aprendizagem e memória. O uso pesado de maconha torna mais propensos pensamentos de suicídio e, e em indivíduos com transtorno bipolar, usuários quase diários da substância mostram ampliação dos sintomas.
7. Efeitos psicossociais
Os pesquisadores apontaram que há evidências de que o consumo imediato de maconha prejudica o aprendizado, a memória e a atenção após o consumo imediato de maconha. Além disso, existe uma base factual limitada que relaciona o consumo de Cannabis a deficiências nos resultados acadêmicos, bem como nas relações sociais. A adolescência e a juventude são os períodos em que os jovens mais comumente começam a experimentar drogas, e é nesses períodos que as camadas neurais ligadas ao desenvolvimento da cognição são mais ativas.
8. Abuso de substâncias
Os cientistas da Nasem encontraram evidências moderadas de que há uma ligação entre o consumo de Cannabis e o desenvolvimento de dependência e abuso de substâncias como álcool, tabaco e outras drogas ilícitas.
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Redação iBahia
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