Os familiares do porteiro de 38 anos que morreu após uma abordagens de seguranças da CCR Metrô Bahia, em Salvador, estão indignados com a situação. Eles cobram justiça e questionam a forma que a ação aconteceu. Em entrevista à TV Bahia neste sábado (20), a irmã de Edmar Santos Costa apontou excessos.
"Tenho certeza que tudo isso deveria ter sido evitado. A dor da revolta é justamente essa. Poderia ter sido evitado, porque foi algo desnecessário. É o que a gente entende vendo as imagens. Ele já estava ali imobilizado, por que esse excesso?", disse.
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A mulher, que preferiu não se identificar, contou que a família está passando por um momento muito delicado. Mais velho de três irmãos, o porteiro era muito próximo da mãe. Inclusive, tinha dormido na casa dela no dia em que morreu. A matriarca está muito abalada.
"É um choque para nós da família. Estamos vivendo dias difíceis. E só estamos lutando por justiça. Era o xodó da minha mãe, o filho mais velho dela, que ajudava ela. Quando ela soube da morte do meu irmão, ela me perguntou: 'E agora, quem vai fazer minhas vontades?'. Porque ele fazia todas as vontades dela e está sendo muito difícil para nós".
A família contou ainda que só soube da morte de Edmar porque, como ele tinha saído para trabalhar e não apareceu no serviço, o chefe procurou os familiares. Eles passaram a procurar pelo porteiro, até encontrar o corpo no Instituto Médico Legal (IML).
No local, ficaram sabendo apenas que o homem tinha passado mal no Terminal Acesso Norte, foi socorrido e acabou morrendo. A família só descobriu a ação dos seguranças e a confusão anterior quando tiveram acesso às imagens das câmeras de segurança da estação, que era integrava a caminho diário de Edmar para o trabalho. Edmar foi enterrado no dia 7 de janeiro.
Os advogados da família questionam a falta de comunicação sobre a morte de Edmar por parte da CCR Metrô Bahia, que administra o local e é responsável pelos seguranças, e também da unidade de saúde onde ele foi atendido. Eles detalham que o homem estava com documentos e o celular em mãos.
Assista a toda a situação abaixo:
Neste sábado, a TV Bahia fez três questionamentos sobre as situações para a CCR Metrô, que já tinha se posicionado sobre o assunto na sexta-feira (19), quando o caso ganhou repercussão.
O primeiro ponto foi o porquê do segurança ter continuado em cima do porteiro mesmo depois dele ter sido imobilizado. Perguntaram também por que a família não foi notificada e por que ele ficou dez minutos no chão antes de ser colocado na maca.
Em contato com a produção, a concessionária informou que iria responder apenas a segunda pergunta. Sobre as outras perguntas, a CCR Metrô informou que seguiria com a nota enviada anteriormente.
Em nota, a empresa disse que Edmar foi levado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) com todos os documentos, sendo o falecimento declarado na unidade de saúde para onde foi levado, e que a concessionária, em seguida, teve conversa com a família, que pôde prestar todas as informações sobre os eventos ocorridos.
Procurada pelo iBahia, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que deu prosseguimento ao atendimento do porteiro, respondeu na tarde deste sábado, mas não detalhou por que a família não foi acionada.
Contradizendo a CCR, a pasta afirmou em nota que o porteiro morreu ainda no atendimento do Samu, após não reagir às manobras de reanimação feitas pela equipe que foi ao local, e que o corpo foi levado para o necrotério da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Pau Miúdo, que era o mais próximo.
Na unidade, ainda conforme informou a Secretaria, o órgão responsável para a remoção foi acionado para aguardar o Instituto Médico Legal (IML).
Ainda no posicionamento, a pasta lamentou profundamente o ocorrido e se solidarizou com amigos e familiares.
O que aconteceu
A morte do porteiro aconteceu na manhã do dia 6 de janeiro. Tudo durou pouco mais de 15 minutos, desde o momento em que o homem chega na estação até a saída dele em uma maca. Câmeras de segurança registraram tudo.
Nas imagens, é possível ver ele entrando no terminal de ônibus com certa dificuldade, pouco antes das 6h. Ele chega a cair, é amparado por outros passageiros e segue caminho.
Em seguida, as imagens mostram que um homem deixa um cooler no chão e se afasta. O porteiro se aproxima em seguida, pega o objeto e tenta sair do local cambaleando. Um outro homem vê a ação e o persegue. Neste momento, Edmar joga o cooler no chão e tenta entrar em um ônibus.
As imagens mostram que, a partir daí, o porteiro começa a ser agredido pelo homem que o perseguiu, e acaba imobilizado por populares. Logo depois, ele é entregue aos seguranças que atuavam no terminal. Os agentes imobilizam Edmar, que resiste e cai na pista.
Um dos seguranças coloca um joelho nas costas do porteiro e o algema, enquanto o outro fica de costas e conversa com pessoas que passavam pelo local. Logo depois, o segurança coloca o outro joelho nas costas de Edmar. Depois de 1 minuto, ele observa que o homem ficou desacordado e sai de cima.
Usando luvas, os seguranças passam a tentar acordar o porteiro, que parece não reagir. Um dos seguranças pega uma cadeira de rodas e depois chega a maca. Então, Edmar é levado na maca, cerca de 10 minutos depois, mas não há uma tentativa de reanimação.
Segundo informou a CCR Metrô, o homem ainda foi levado para uma sala, onde teria sido atendido, com tentativas de reanimação, até a chegada do Samu, que foi acionado pela equipe.
Ainda segundo o relato da defesa da família do porteiro, conforme o laudo da morte entregue aos familiares para o enterro, a vítima teria tido uma parada cardiorrespiratória depois da ação dos seguranças. A informação ainda não foi detalhada pela polícia.
Em nota, a Polícia Civil (PC) detalhou que a apuração da morte está está com a 2ª Delegacia de Homicídios (DH/Central). Conforme apurações iniciais, duas porções de cocaína teriam sido encontradas no bolso da roupa do porteiro.
Além de testemunhas, que estão sendo ouvidas, imagens de câmeras de segurança estão sendo analisadas e outras investigações estão em andamento, para esclarecer o caso. De acordo com a polícia, laudos periciais vão complementar as investigações.
Conforme posicionamento da CCR, os agentes que participaram do atendimento da ocorrência foram afastados das funções operacionais até a conclusão das investigações.
Veja nota da CCR Metrô Bahia na íntegra
O Metrô Bahia lamenta o falecimento do senhor Edmar Santos Costa e expressa sua solidariedade aos seus familiares e amigos. A concessionária informa que instaurou um procedimento interno de apuração dos acontecimentos na manhã de 6 de janeiro, quando agentes de atendimento e segurança da empresa foram acionados para atuar em uma ocorrência no Terminal de Ônibus Acesso Norte.
Desde o ocorrido, a empresa colabora com as autoridades na investigação dos fatos, tendo cedido a elas a integralidade das imagens de suas câmeras internas, que comprovam os seguintes fatos:
· O passageiro ingressou no terminal cambaleando e chega a cair ao chão, sendo ajudado por outras pessoas que estavam no local.
· Instantes depois, ele se envolve em uma briga com um vendedor ambulante dentro de um ônibus, sendo também agredido por terceiros.
· Ao constatar a confusão, os agentes de atendimento e segurança se dirigem ao local e contêm o passageiro, acionando, em seguida, a Polícia Militar e o SAMU.
Os agentes que participaram do atendimento desta ocorrência foram afastados de suas funções operacionais até a conclusão das investigações. A concessionária ainda esclarece que investe em um programa contínuo de capacitação e treinamentos para os seus colaboradores, com o principal objetivo de prestar um serviço de qualidade à população.
Veja a nota da SMS na íntegra:
A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) lamenta profundamente o ocorrido e se solidariza com amigos e familiares.
A pasta informa que o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) foi acionado para esta ocorrência, fez manobras de reanimação, mas o paciente evoluiu óbito.
Após o atendimento prestado o corpo foi removido pelo Samu para o necrotério do Pronto Atendimento (PA) do 16º Centro de Saúde Maria Conceição Imbassahy [UPA do Pau Miúdo], próximo ao local da ocorrência. Posteriormente, o órgão responsável para a remoção do corpo do paciente foi acionado para aguardar o IML.
Alan Oliveira
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