Com sete mandatos na Câmara dos Deputados, Jair Bolsonaro (PSL) entrou na primeira disputa de cargo executivo com discurso de outsider da política. O candidato oficializou a candidatura com o discurso de lutar "contra o sistema" e se manteve na liderança das pesquisas de intenção de voto. Alvo de uma facada durante ato e campanha em Juiz de Fora (MG), o deputado teve no primeiro turno o desafio do pouco tempo no horário eleitoral, da falta de estrutura partidária e recursos do fundo eleitoral e das declarações polêmicas e impopulares de aliados, enquanto esteve internado. Viu sua rejeição atingir um patamar histórico - sobretudo entre as mulheres, que lideraram o movimento #EleNão. Ainda assim, o deputado manteve tendência ascendente nas sondagens de voto, com entrada até em redutos lulistas.
O candidato foi o presidenciável mais votado no primeiro turno, com 43,03% e irá enfrentar o petista Fernando Haddad no segundo turno, que angariou, por sua vez, 29,28% dos votos.
O candidato
Novato em eleições presidenciais, o deputado Jair Bolsonaro, 63 anos, está há quase 28 anos na Câmara dos Deputados e já passou por seis partidos (PDC, PP, PTB, PFL, PSC e PSL) ao longo da sua carreira parlamentar, que foi catapultada depois que ele foi para a reserva do Exército como capitão.
Nascido em Campinas (SP), o parlamentar orientou a entrada dos três filhos adultos na política: Carlos é vereador no Rio de Janeiro. Flávio é deputado estadual no Rio e disputa vaga no Senado este ano. Eduardo é deputado federal por São Paulo e tenta a reeleição neste domingo. O quarto filho, Jair Renan, também se aproxima da política.
Bolsonaro nunca havia tentado se eleger para um cargo no Executivo. Nestas eleições, vai tentar a cadeira presidencial pelo PSL, ao lado do vice, o general da reserva Hamilton Mourão, do PRTB. Ambos defendem bandeiras conservadoras no campo dos costumes. Nos últimos meses, Bolsonaro tem defendido ideais liberais no campo econômico, guiado pelo economista Paulo Guedes, a quem chama de "Posto Ipiranga". Apesar do aceno liberal, ele foi contra reformas e o Plano Real, durante os mandatos dele na Câmara.
Em 6 de setembro, quando realizava ato de campanha em Juiz de Fora, levou uma facada de Adélio Bispo de Oliveira e passou por duas cirurgias. No período em que permaneceu internado, precisou remediar os efeitos de declarações polêmicas de quem tocou a campanha por ele. Desautorizou o vice por criticar o 13º salário e o guru econômico por citar o projeto de um novo imposto.
AS PROPOSTAS
Segurança
O carro-chefe das propostas do candidato PSL é a segurança pública. O deputado é um dos poucos concorrentes à Presidência que defende ampliar a posse e o porte de armas de fogo pela população. Na visão dele, os critérios para a obtenção do armamento são "muito subjetivos" e deveriam ser regulados a exemplo dos Estados Unidos. Bolsonaro diz que "já existe bang-bang no Brasil, mas apenas um lado pode atirar". Propostas do tipo são criticadas por especialistas, que temem pelo aumento de homicídios no país. O candidato ainda defende uma espécie de carta branca para policiais matarem em operações nas favelas e a redução da maioridade penal para 16 anos - tema para o qual já apresentou Proposta de Emenda à Constituição.
Para Bolsonaro, a solução da violência nas fronteiras do país precisa de ajuda das Forças Armadas. Ele considera que o Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras) é muito caro e não tem sido efetivo. O candidato diz ser contra a existência de um Ministério de Segurança Pública e contra a portaria do Ministério da Justiça que regulamenta a abordagem dos agentes de segurança na fronteira que, para ele, "é muito branda e não permite apontar armas para suspeitos". O deputado também defende o endurecimento das leis penais, como a transformação da invasão de propriedades como prática terrorista.
Economia
Trata-se do principal ponto de crítica sobre a preparação do candidato, que reconhece "não entender nada de economia". A proposta da campanha é estabelecer uma agenda liberal guiada pelo economista Paulo Guedes. A ideia é de criação de um superministério econômico, de expansão do Bolsa Família, com renda mínima para a população brasileira. Bolsonaro também propõe, caso eleito, a isenção de pagamento de Imposto de Renda para quem recebe até cinco salários-mínimos. O IRPF teria alíquota única de 15%.
Um dos pontos de conflito da campanha teve ponto de partida na proposta de Guedes de substituir uma série de impostos por um tributo nos moldes da CPMF. O economista foi desautorizado pelo político, que negou a iniciativa de aumentar impostos. Guedes também negou o projeto posteriormente, mas disse estudar a implementação de tributação única sobre transações financeiras.
Hoje, a combinação de Imposto de Renda sobre Pessoa Jurídica (IRPJ) e a Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) geram uma tributação de 34% sobre lucros de empresas. A ideia da campanha é reduzir para 15% e, com isso, incentivar o investimento. Já a base do ajuste fiscal defendido é a privatização de estatais e a redução de ministérios.
Infância e juventude
Neste eixo da campanha, o foco de Bolsonaro é o conteúdo ensinado nas salas de aula. Para o deputado, a doutrinação e a sexualização precoce seriam problemas a serem combatidos.
O método do pedagogo Paulo Freire seria uma ideologia a ser "expurgada" do sistema de ensino, que deixaria de contar com a dinâmica de aprovação automática e priorizaria a educação à distância em áreas rurais.
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Redação iBahia
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