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Afro-oriental: descendente de japoneses e brasileiros, professora relembra construção de identidade em meio ao preconceito

Lívia Chiemi passou parte da vida no Japão, mas foi na Bahia, onde os pais se conheceram, que começou a estudar e entender sua potência

Alan Oliveira • 10/09/2022 às 8:00 • Atualizada em 16/09/2022 às 8:25 - há XX semanas

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					Afro-oriental: descendente de japoneses e brasileiros, professora relembra construção de identidade em meio ao preconceito
Foto: Arquivo Pessoal

				
					Afro-oriental: descendente de japoneses e brasileiros, professora relembra construção de identidade em meio ao preconceito

Os termos afro-oriental ou black-asian não estão inseridos no cotidiano de muitas pessoas, e não estavam presentes na infância e adolescência de Lívia Chiemi, que hoje tem 30 anos.

Filha de uma descendente de japoneses e de um brasileiro negro, a jovem cresceu entre as duas culturas, mas sempre chamando atenção pelas características físicas. No início, ela não entendia o preconceito e a estranheza que isso gerava, mas, depois, com a construção de identidade, as coisas passaram a ficar evidentes.

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Nascida no Japão, Lívia viveu parte da vida no país e outra parte no Brasil, com os pais. O casal se conheceu na Feira de São Joaquim, em Salvador. Na época, tanto a mãe da jovem, que nasceu brasileira, quanto o pai dela, que é natural de Ilha de Maré (uma comunidade remanescente de quilombo na capital baiana), cuidavam de barracas das famílias e comercializavam alimentos. O namoro fluiu, se tornou casamento e, além de Lívia, gerou outros dois filhos.


				
					Afro-oriental: descendente de japoneses e brasileiros, professora relembra construção de identidade em meio ao preconceito
Foto: Arquivo Pessoal

No Brasil, onde chegou com pouco mais de dois anos, depois de um período de trabalho dos pais no Japão, a jovem era comparada com indígenas. Os olhos puxados, a pele negra e os cabelos lisos da infância chamavam atenção, e as reações já incomodavam.

Já na adolescência, quando os cachos passaram a se formar e Lívia fez intercâmbio no Japão, o fora do padrão também era questionado nas instituições de ensino. É o que conta a jovem em entrevista ao Preta Bahia desta semana.

"Nasci com o cabelo cacheado, mas fiquei com o cabelo liso por um tempo na infância. Era confundida com indígena. Quando meu cabelo passou a ficar cacheado novamente, eu já estava no Japão, e lá não pode deixar à mostra. Não podia deixar o cabelo solto na escola. A justificativa deles era de que poderia influenciar as outras [meninas] a fazerem progressiva [para deixar cabelo cacheado]. Tinha a questão da padronização. Cabelo preto e liso".


				
					Afro-oriental: descendente de japoneses e brasileiros, professora relembra construção de identidade em meio ao preconceito
Foto: Arquivo Pessoal

Na busca por ficar mais parecida com as amigas e com a forma como elas se arrumavam, além de chamar menos atenção na terra natal, Lívia chegou a alisar os cabelos por um período. Na época, ela ainda não se entendia enquanto negra.

"Depois de um tempo, eu alisei, para poder deixar ele solto. Era questão de querer me sentir mais pertencente à sociedade", contou.

Lívia conta que parte desse processo de construção se deu pelo fato de não ter muito contato na infância com a família do pai. Diante disso, suas referências eram da cultura materna. E, nesse período, os traços eram comuns para ela, diante dos irmãos e primos, que também eram descendentes de brasileiros.

"Eu vivenciei uma infância muito para o Japão. Estava sempre na casa dos meus avós japoneses. Até porque meus pais se separaram na época".


				
					Afro-oriental: descendente de japoneses e brasileiros, professora relembra construção de identidade em meio ao preconceito
Foto: Arquivo Pessoal

A jovem, que hoje é professora de língua japonesa, lembra de uma situação em que, ao fazer a Carteira de Trabalho, após finalizar o intercâmbio e voltar ao Brasil, foi questionada sobre que com cor se identificava e não soube responder de imediato.

"Eu fiz assim: Amarela eu não sou, porque amarela é minha mãe. Branca, de jeito nenhum. Negra, eu não tinha tido tanta convivência com a família de meu pai. Não me identificava como negra ainda. Marquei como parda".

Lívia conta que passou a entender a sua negritude ao ingressar no ensino superior. Na época, aos 18 anos, ela passou a estudar na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), onde a maioria dos estudantes são autodeclarados negros.


				
					Afro-oriental: descendente de japoneses e brasileiros, professora relembra construção de identidade em meio ao preconceito
Foto: Arquivo Pessoal

"Quando eu retornei [para o Brasil] e que eu passei na UFRB, aí sim que teve mais a questão de reconhecimento, porque vários eram os debates. Foi todo um processo de participar das discussões. Eu me reconheci negra entre as pessoas", contou.

Depois disso, a jovem começou a entender a importância de se posicionar, enquanto descendente de japoneses e negra. Recentemente, ela foi uma das concorrentes de um concurso de beleza no 14° Festival de Cultura Japonesa (conhecido como Bon Odori), em Salvador. O intuito era dar visibilidade às suas características e formar representatividade para outras garotas como ela.

"Toda vez acontece, a gente está na Bahia e não tem ninguém com a pele escura. Eu não estava ali para ganhar. Acho que a participação contou muito mais, para tentar levar essa questão e ver se mais pessoas aparecem", disse.


				
					Afro-oriental: descendente de japoneses e brasileiros, professora relembra construção de identidade em meio ao preconceito
Foto: Arquivo Pessoal

				
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Foto: Arquivo Pessoal

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