Como a maioria dos jovens, Rai Vieira teve algumas mudanças de planos enquanto amadurecia profissionalmente. Em meio ao sonho de se tornar caminhoneiro e viajar pelo Brasil, o baiano estagiou em administração e se tornou técnico na área, mas foi na moda que descobriu a direção para o sucesso.
Agora, além de buscar um futuro melhor para ele e a família em São Paulo, o jovem de 22 anos comemora a carreira de modelo e curte o reencontro com a autoestima, que havia sido abalada pelo racismo ao longo dos anos.
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"Nunca passou na minha mente fazer isso, até porque sofri vários preconceitos. Eu não me via um homem preto empoderado. Não me enxergava bonito. Só depois que eu fui me enxergar".
Ciente da beleza que carrega e já empoderado, o modelo tem trabalhado para levar o nome a outros patamares. Não é à toa que participou das duas últimas edições da São Paulo Fashion Week (SPFW), onde brilhou. Um sonho realizado, que abriu precedentes para novos. Agora, ele busca reconhecimento internacional.
"Demorei para me aceitar e hoje em dia ninguém abaixa minha autoestima. Eu sei quem sou e sei para onde eu vou". Rai Vieira
Construção do sucesso
Nascido no município de Rafael Jambeiro, a cerca de 180 km de Salvador, Rai se mudou para a capital baiana aos 12 anos. Na época, os pais buscavam melhores condições de trabalho para sustentar os 5 filhos. A família passou a morar no bairro de Valéria, onde vive até hoje.
"Fomos para Salvador a trabalho. Minha mãe é diarista e meu pai trabalhador da construção civil. Como no interior não tinha muito trabalho, a gente acabou se mudando", contou.
O baiano vê a comunidade onde passou a adolescência como parte importante da formação de caráter e valores, em meio às dificuldades. Em entrevista ao iBahia, para a reportagem da editoria Preta Bahia desta semana, ele comentou sobre o assunto.
"Eu me sinto realizado em ver que aquele menino que veio da periferia pode chegar em locais assim e estar fazendo o que gosta, porque nem todo mundo tem a oportunidade de fazer isso".
Incentivo e apoio
Como não tinha uma boa relação com a autoestima, o jovem nunca se imaginou modelo. Ele só cogitou seguir a profissão depois de receber apoio da família e dos amigos.
"Eu tinha pensado, mas não fui a frente. Depois, primos, colegas de trabalho, começaram a me falar que dava para ser modelo. Aí eu resolvi me jogar".
"Essa luta que eu carrego não é só por mim. Tem todos que me apoiaram e acreditaram em mim. Foi essencial". Rai Vieira
Ainda em Salvador, Rai Vieira buscou agências e participou de um concurso de beleza negra. Foi na competição que recebeu preparo e ganhou mais convicção do que queria.
"Em um ano eu virei modelo em Salvador e me preparei para no ano seguinte vir para São Paulo. Já estou aqui há 8 meses".
Antes de se mudar, ele teve medo, porém, mais uma vez, recebeu apoio dos pais na tomada de decisão. "Eu falei: 'Eu não quero ficar aqui sem arriscar, de passar minha vida toda sem saber o que teria acontecido'. Eles me deram a bênção deles".
Diante de outras possibilidades, o baiano sonha e batalha pelo futuro distante de casa. Ele ainda não consegue se sustentar somente com o que ganha como modelo, mas vibra com as conquistas diárias.
"Eu estou orgulhoso do lugar que eu alcancei e eu acho que mais pessoas poderiam chegar nesses locais". Rai Vieira
Alan Oliveira
Alan Oliveira
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