O menino que morava no bairro Tomba, um dos mais populares de Feira de Santana, sonhava, mas não imaginava que um dia sairia da cidade, que fica a cerca de 100 km de Salvador, para conhecer todos os 32 países que já visitou depois de adulto.
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O Gileno Junior do passado também não contava que acabaria se tornando capitão da Polícia Militar da Bahia (PM-BA) e nem médico. No entanto, a dedicação aos estudos e o gosto por se desafiar possibilitaram a realização de todas essas conquistas.
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Filho de uma lavadeira e de um vigilante, o baiano foi ensinado desde muito cedo que não conseguiria as coisas com facilidade, e passou a correr atrás dos objetivos com muita força de vontade.
"Graças a Deus, eles tinham o tino de que a melhor maneira de sair daquela condição de miserabilidade que nós vivíamos era através dos estudos. E aí meu pai desde cedo incentivou a estudar"
Enquanto ajudava na mercearia da família com a irmã, Gileno aproveitava o tempo para estudar. E, de livro em livro, e com base em experiências vividas, o médico também aprendeu o letramento racial que hoje compartilha nas redes sociais.
O racismo na medicina
Em entrevista ao iBahia para a reportagem desta semana da editoria Preta Bahia, o baiano detalhou que começou a se aprofundar nas questões raciais depois que entrou na medicina.
Diante de um curso majoritariamente branco, Gileno Junior passou a enfrentar situações de racismo. Em uma dessas ocasiões, ele foi alvo de colegas de classe, enquanto se preparavam para um trabalho em grupo.
"Depois que eles me colocaram no grupo [de WhatsApp], eles mudaram a foto e botaram a foto de Mussum, e botaram a pegada preta entrando no grupo. Aí eu falei: 'Rapaz, é verdade que está acontecendo isso?'". Gileno Junior
Uma realidade que ainda segue o baiano mesmo depois de formado, quando, por exemplo, é confundido com profissionais de outros setores dos hospitais onde atua, ou no tratamento diferente do dado a colegas brancos.
"A gente sabe que existem espaços que são teoricamente reservados para pessoas brancas e o curso de medicina é praticamente a metonímia disso aí".
Não é à toa, que Gileno Junior defende a educação racial em toda formação, da criança ao adulto formado no ensino superior.
"Eu acho que o letramento racial tem que entrar na educação primária para que haja um menor índice de violência contra pessoas negras". Gileno Junior
Atuação na PM-BA
É pensando também nessas questões que o capitão tem trabalhado na PM. Atualmente longe das atividades nas ruas, porque vem atuado como médico na corporação, Gileno fez questão de pontuar o racismo presente no ambiente operacional.
"Quando eu trabalhava na operacionalidade, eu tive alguns comportamentos que hoje eu evito. Aí eu penso: 'Até a nossa formação é para perpetuar o racismo'. Se tratando de Salvador, por que a gente faz abordagem na Liberdade e não faz no Caminho das Árvores?", ponderou.
Para o militar, a otimização da formação policial é a melhor saída para começar a mudar essa situação. "A partir do momento que a violência policial é decorrente de um racismo estrutural, o judiciário é conivente e os políticos são coniventes".
Gileno Junior quase ficou milionário no 'Domingão'
Em busca também de uma realidade melhor para ele, o médico se inscreveu no quadro "Quem Quer Ser Um Milionário", do 'Domingão', com Luciano Huck. A participação aconteceu em 2022, 2 anos depois de se inscrever para a atração.
Gileno Junior chegou à penúltima pergunta do jogo, que valia R$ 500 mil e levava para a final onde poderia ganhar R$ 1 milhão. No entanto, preferiu não arriscar ao ser questionado sobre Marilyn Monroe e decidiu encerrar a participação no programa.
O baiano lembra que, para além do dinheiro, o fato de poder mostrar o vasto conhecimento que tem e ser representatividade no horário nobre também representaram motivação para o jogo.
"Até então, minha intenção não foi só de formar um lastro financeiro, mas também por uma questão de representatividade, porque a gente sabe que o mundo vive em meio ao racismo estrutural".
No fim, apesar de não conseguir o valor máximo, Gileno levou R$ 300 mil para casa, e atingiu outros objetivos na televisão.
"Uma das abas do racismo estrutural é o epistemicídio, que é quando você nega que uma determinada raça tem capacidade de produzir conhecimento ou que tem determinado potencial. E você estar em uma rede que é predominantemente branca, e em um quadro que é você estar ali demonstrando conhecimento, é meio que um soco nessa arma do racismo estrutural". Gileno Junior
A repercussão foi instantânea nas redes sociais. Várias pessoas admiraram a história de vida de Gileno e passaram a seguir o PM, se inspirando nele para dias melhores.
"Eu recebi mensagens de vários seguidores no Instagram e falavam: 'Foi muito bom te assistir, porque eu vi que há a possibilidade de mudar nossa vida através do estudo'".
Assista à entrevista com Gileno Junior completa abaixo
Alan Oliveira
Alan Oliveira
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