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Nêssa desabafa sobre hipersexualização e comemora papel de representatividade: 'Estar viva já é vencer o preconceito'

Em entrevista ao Preta Bahia desta semana, cantora fez balanço da carreira, falou sobre inspirações e criticou assédio na música

Alan Oliveira • 11/02/2023 às 8:00 • Atualizada em 11/02/2023 às 14:04 - há XX semanas

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A hipersexualização de corpos é algo que teóricos, movimentos e vítimas têm abordado muito nos últimos anos, diante da problematização de algo que não é novo, principalmente quando o indivíduo é negro. Aliado ao preconceito, o problema ganha proporções que podem ser muito maiores, e ninguém está imune, incluindo artistas. É o que ressalta a cantora baiana Nêssa.

Em entrevista ao Preta Bahia desta semana, a artista desabafou sobre o racismo e a intensa sexualização da mulher preta, sobretudo dentro do universo musical que rege o trabalho dela: o pagode. Para a editoria, Nêssa contou que luta constantemente contra a objetificação e falou a situação.

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					Nêssa desabafa sobre hipersexualização e comemora papel de representatividade: 'Estar viva já é vencer o preconceito'
Foto: Reprodução/Instagram

"É muito complicado porque eu escolhi um estilo de música para cantar que é muito difícil de conseguir espaço sendo uma mulher preta, porque geralmente vão querer me colocar em um lugar que é mais sexualizado. Então, é uma barreira que eu tenho que quebrar e tento quebrar. Não que eu não possa, porque se eu quiser também não tem problema nenhum, mas porque só esperam isso da mulher preta".

O fato de ter conseguido reconhecimento mesmo diante do problema é uma vitória para a cantora. "Na verdade, acho que só o fato de estar viva, de estar fazendo o meu trabalho e de ter conquistado tantas coisas já é uma conquista muito grande, já é vencer todo o preconceito, porque se dependesse dessas pessoas que causam essas ofensas e agem dessa forma preconceituosa, eu nem estaria aqui".


				
					Nêssa desabafa sobre hipersexualização e comemora papel de representatividade: 'Estar viva já é vencer o preconceito'
Foto: Reprodução/Instagram

A baiana começou no mundo da música em 2017, depois de decidir aproveitar o talento e arriscar em um sonho que estava nascendo. Na época, ela atuava como designer e ilustradora, mas não se via atuando na área para sempre. Então, resolveu começar a abrir espaço na vida para a música.

Como inspiração, Nêssa teve artistas nacionais e conterrâneas, como Ludmilla, Iza e Larissa Luz, mas duas a moveram com uma força maior: Beyoncé e Anita. A primeira como ícone dos ícones, diante da representatividade. A outra pela trajetória de sucesso, que a tem levado a lugares antes inimagináveis.

"Aqui no Brasil eu me inspirei muito na carreira de Anitta, porque ela tem uma trajetória muito bonita de carreira, e eu me espelhei muito nela quando eu comecei. Porque ela, na verdade, que colocou um negocinho na minha cabeça de querer cantar. Eu vi que o estilo que ela estava fazendo era um estilo que me agradava muito", disse.

Nascida e criada no bairro de Pau da Lima, em Salvador, Nêssa tem o talento correndo nas veias. Durante a entrevista, a artista contou que a avó e suas outras ancestrais sempre estiveram próximas da música. No entanto, ela é a primeira a seguir carreira.


				
					Nêssa desabafa sobre hipersexualização e comemora papel de representatividade: 'Estar viva já é vencer o preconceito'
Foto: Reprodução/Instagram

"Minha família sempre teve muito contato com a música, sempre teve aquelas reuniões de família, onde minha avó sempre tocou muito violão. E ela toca até hoje. É uma idosa e ela compõe e canta. Então, eu me influenciei muito por ela, por esse prazer de gostar de música. É algo que vem de muito atrás. Eu acho que é uma coisa que está no sangue mesmo".

E foi na família que a cantora encontrou apoio para seguir na estrada. A maior força veio da mãe, que continua sendo refúgio. Antes de ser somente ela e a irmã mais nova, o pai, que morreu quando Nêssa tinha 16 anos, também era presente na vida da artista.

"Minha mãe foi uma pessoa muito importante na minha carreira, porque ela sempre me apoiou. Ela foi uma das minhas maiores incentivadoras. Então, sem ela, eu não teria conquistado muita coisa".

Um apoio que a cantora certamente pôde contar nos últimos anos, com a pandemia de Covid-19, que interrompeu os planos de seguir somente na música. "A pandemia deu aquela jogada de balde de água fria, mas a gente está voltando agora com tudo. Esse ano promete".

Hoje, ela concilia os ensaios e shows com os trabalhos na área em que já atuava antes da carreira musical. "Eu não pude largar o meu trabalho de vez, porque o setor do entretenimento foi muito afetado. Estava nos meus planos, mas não foi possível. Então, a minha profissão como ilustradora me ajudou muito e me ajuda até hoje. Eu ainda sou uma artista independente, eu ainda estou na correria para conquistar meu espaço, e não é fácil. Estou caminhando", contou.


				
					Nêssa desabafa sobre hipersexualização e comemora papel de representatividade: 'Estar viva já é vencer o preconceito'
Foto: Reprodução/Instagram

Mas Nêssa comemora as conquistas, mesmo diante das dificuldades. Em crescente sucesso, ela coleciona trabalhos de sucesso individuais e em parceria com outros artistas baianos e nacionais, como O Poeta, A Dama, Iza e Pabllo Vittar. A artista chegou a abrir o show de Anitta no ensaio de carnaval da carioca na capital baiana.

"Eu sempre soube que seria um caminho muito difícil, até pelo estilo que eu escolhi cantar. Eu sei que ainda vai demorar, mas eu conquistei coisas muito massas em tão pouco tempo. Porque tem artista que está aí há muito mais tempo que eu que não conseguiu metade. Então, eu sou muito grata", refletiu.

Para além de trabalhar com as referências de carreira, os frutos estão no reconhecimento e no papel de representatividade que também tem desempenhado. "Eu sei que eu acabo inspirando muitas meninas como eu, que se enxergam em mim, e, apesar do meu tamanho… eu não sou uma artista que tem tanta projeção… mas eu já vejo isso, as pessoas já me falam esse retorno".

Para quem está começando, a cantora deu dicas e também contou sobre o processo de produção do trabalho. "Cada um tem seus processos. A gente vive hoje em um mundo de comparações. A gente vê muita gente conquistando coisas muito rápido e quando a gente se vê onde está a gente fica comparando. Mas você não pode desistir por conta disso".

"Eu sempre busquei parcerias com a galera de produção audiovisual, produção musical, de dança. Meu trabalho de designer me ajudou muito nessa questão, porque eu fazia muita permuta. Todo mundo que se junta cresce mais rápido", completou.

Carnaval


				
					Nêssa desabafa sobre hipersexualização e comemora papel de representatividade: 'Estar viva já é vencer o preconceito'
Foto: Reprodução/Instagram

Durante a conversa, Nêssa também contou que está ansiosa para a retomada do carnaval neste ano, depois de dois cancelamentos desde a última edição, por causa da pandemia de Covid-19. A cantora relembrou a importância do evento de 2020 na carreira e de como a chegada da doença que afetou o país e o mundo foi prejudicial para vários artistas, incluindo ela.

"O carnaval de 2020 para mim foi muito importante, porque me abriu muitas portas e eu fiz muita coisa bacana, de projeção nacional. Eu cantei com Pabllo Vittar, eu cantei com Márcio Victor, com A Dama… Parecia que 2020 ia ser 'o ano' da carreira de muita gente, só que aí veio a pandemia. Então, esse ano é como se tivesse cortado de 2020 para 2023. É a continuação em um pique muito maior".

A programação da festa tão esperada em Salvador foi divulgada nesta semana pela prefeitura. Nêssa participou do evento de lançamento e está escalada para quase todos os dias da festa, com exceção da abertura oficial, na quarta-feira (15). E ela tem se preparado para a maratona.

"Estou muito ansiosa e já estou sem voz, porque esse ano, graças a Deus, começou com chave de ouro. Eu participei do ensaio da Anitta, cantei na virada de Salvador mais uma vez, cantei no 2 de fevereiro… então, eu estou já sem voz. Estou tentando me recuperar", contou.

A artista revelou também que a expectativa dela e dos colegas é de que realmente a festa seja a maior de todos os tempos, já que reaquecerá o setor do entretenimento - um dos maiores afetados durante a pandemia e que tanto lucra durante o período.

"Promete ser o maior carnaval de todos os tempos, por conta dessa ansiedade da galera por conta dessa falta do carnaval. O setor do entretenimento foi muito atingido… então, a gente vai voltar com sangue no olho, para recuperar".

Álbum novo


				
					Nêssa desabafa sobre hipersexualização e comemora papel de representatividade: 'Estar viva já é vencer o preconceito'
Foto: Reprodução/Instagram

Ainda durante a conversa com a editoria, Nêssa ressaltou a vontade de produzir e lançar o primeiro álbum da carreira dela, já que, até então, a artista tem trabalhado com a divulgação de músicas individuais.

A cantora contou que já tem um projeto pronto, com uma lista de músicas que devem mostrar a totalidade do que ela propõe na arte que produz. A expectativa é conquistar investimento para prosseguir com a produção, algo que tem corrido atrás.

"A gente passou muito tempo nessa cultura de single e meu sonho é lançar um álbum, porque eu acho que vai mostrar melhor o que é o meu trabalho, porque as pessoas muitas vezes me colocam na caixinha do pagodão. Eu amo pagodão, é uma grande base da minha música, mas não é só isso que eu canto. Então, nesse álbum eu vou poder mostrar o que, de fato, o que eu quero para mim".


				
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Foto: Reprodução/Instagram

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