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Ancestralidade

‘Nosso cabelo é político', reforça trancista sobre estética negra

Além de potencializar belezas, profissional baiana compartilha técnica ancestral e aperfeiçoamentos para outras mulheres pretas

Alan Oliveira • 19/08/2023 às 9:19 • Atualizada em 19/08/2023 às 9:44 - há XX semanas

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					‘Nosso cabelo é político', reforça trancista sobre estética negra
Foto: Divulgação

Quando Naiana de Souza realizou o desejo de aprender a trançar cabelos em 2006, ela não tinha planos ainda de seguir atuando na área. Agora, quase 20 anos depois, a técnica se transformou em profissão e tem sido a forma como a baiana se comunica com a ancestralidade.

Além de transmitir empoderamento, a trancista potencializa belezas de clientes e da filha, de apenas 5 anos, e perpetua esse legado dando aulas para outros profissionais.

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"Eu vivo esse processo do encantamento de poder passar esse conhecimento para outras meninas e fazer elas transbordarem o desejo não só de ser profissional da área, mas o poder delas serem profissional trancista. É transformador".


				
					‘Nosso cabelo é político', reforça trancista sobre estética negra
Foto: Divulgação

As tranças entraram na vida de Naiana ainda na adolescência, quando a madrinha dela, que já era trancista, despertou o olhar para a técnica. Já o aprendizado veio pouco tempo depois, quando a baiana fez um curso de tranças e alongamentos capilares.

As aulas aconteceram na sede do Ilê Aiyê, que fica no bairro da Liberdade, em Salvador, e é um dos maiores blocos afro do Brasil. Do desejo de criança, ela desenvolveu também a consciência da importância da atividade.

"Eu acho que tranças traz para a gente algo muito revolucionário. A gente vê ali outras possibilidades além do alisamento, que é algo que foi imposto por muito tempo. É outro universo para pessoas pretas" Naiana de Souza

Naquele primeiro momento, o objetivo era aprender as técnicas e poder desenvolvê-las, mas em 2020, em meio ao período mais crítico da pandemia de Covid-19, o conhecimento se transformou em profissão.

Em entrevista ao iBahia, para a reportagem da editoria Preta Bahia desta semana, a trancista, que estava desempregada na época, detalhou que viu na área a oportunidade de ter uma fonte de renda.

"Na pandemia, eu vi muitas pessoas procurando uma forma de fazer uma coisa para ganhar algum dinheiro. A gente estava no escuro. A gente não tinha ideia de quanto tempo iria durar e nem o que iria acontecer. E aí eu falei: 'O que eu sei fazer é trançar'".

No entanto, para além de ter meios de sustentar a família, a baiana também buscava transmitir representatividade para a filha. A pequena Dandara estava com 2 anos e o cabelo crespo começava a se revelar, assim como outros aspectos do desenvolvimento de toda criança preta. A menina foi a primeira cliente desse novo processo de vida da trancista.

"Eu quero que Dandara me tenha como referência para a vida dela, de que desistir não é uma opção, gente está sempre se reinventando, buscando novas coisas, e queria também que ela já se entendesse nessa estética transformadora", contou.

"Me ver ali, com uma menininha preta, eu querendo ser referência para ela, e tentando entender como eu seria essa referência. Quando eu vi aquele cabelo de Dandara, crespo, aparecendo, eu falei: 'É isso'" Naiana de Souza

Potencializando negritude

Da retomada nas tranças até então, a baiana se especializou, aprendeu novas técnicas, e agora administra um ateliê no mesmo bairro onde tudo começou, e que é considerado um dos mais negros da capital baiana: a Liberdade.

O Ateliê Nanã atende mulheres e homens de várias partes da Bahia e de idades distintas, do criança ao idoso. Ao longo do mês, Naiana e uma outra trancista trançam os cabelos de 15 a 20 pessoas, que saem do salão com a estética negra potencializada.

"É transformador para nós. É grande demais. Traz ancestralidade, afeto, traz uma calmaria para essas pessoas, de como lidar com o cabelo, de como ele funciona, como é que tudo isso te coloca em um outro lugar, como nosso cabelo é político. É uma potência", reforça. Naiana de Souza

E é nessa troca que a baiana desenvolve as técnicas e entrega resultados elogiados pelos clientes. O processo flui durante um atendimento feito online e é sucedido pela sessão presencial.

"Eu preciso conhecer a personalidade, sentir um pouco dessa ancestralidade, para ver o que encaixa melhor, o que vai te alimentar. E eu costumo falar que a realidade tem que ficar muito próxima do que você imaginou o tempo todo, e normalmente o feedback é de que fica melhor", pontuou.

Realização e planos


				
					‘Nosso cabelo é político', reforça trancista sobre estética negra
Foto: Reprodução / Instagram

Totalmente realizada com o trabalho, Naiana sonha expandir os negócios, o aprendizado e o alcance da transmissão do conhecimento. Ela comemora o crescimento da área e o reconhecimento da importância da atividade.

"Eu fico feliz demais. É algo que há uns anos atrás talvez eu nem acreditasse que fosse acontecer. Eu via a trança ainda na periferia, sem muita explicação sobre. Aquilo que foi passando dos nossos para os nossos. Mas a gente não entedia todos os benefícios de você estar trançada", disse.

"Cada vez mais a gente vem trazendo a nossa história, por nós mesmos. Somos nós agora falando da nossa história. Eu acho que é isso que traz a cultura, a estética, para os espaços que a gente vem ocupando atualmente" Naiana de Souza

No futuro, a trancista espera deixar o ateliê como um legado para a próxima geração da família. Por enquanto, a pequena Dandara ainda não manifestou a vontade de se tornar trancista, mas ama trançar os cabelos e tem os penteados como um estilo dela. A pequena é a sensação na escola e nas ruas.

"Eu costumo falar que eu quero que o ateliê seja a empresa que vai ficar para as próximas gerações da minha família. Vejo como uma representatividade muito grande".


				
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Foto: Divulgação
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