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'Racismo retarda', diz pesquisadora negra sobre trajetória na Academia

Carla Nogueira é doutora em Cultura e Sociedade pela UFBA e falou sobre os desafios e vitórias atravessou na carreira

Iamany Santos • 20/11/2023 às 22:10 - há XX semanas

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Sendo uma das instituições públicas de ensino superior com maior número de alunos negros em todo o Brasil, considera-se que a Universidade Federal da Bahia (UFBA) está colhendo os frutos de quase 10 anos da aplicação de políticas públicas para entrada de estudantes no meio acadêmico.


				
					'Racismo retarda', diz pesquisadora negra sobre trajetória na Academia
Em 2018, 75,6% dos alunos da UFBA se declararam pretos, pardos ou indigenas. Foto: Divulgação

Entrar na Academia é apenas o primeiro passo, uma vez que as barreiras e dificuldades enfrentadas por pessoas negras nas instituições de ensino, historicamente elitizadas, são diferentes.

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Mesmo neste contexto atravessado pelo racismo, diversos baianos e baianas negros não só completam a formação, assim como são destaques nas áreas de pesquisa que atuam.

Personificação dessa realidade, a doutora em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) Carla Nogueira traduz a Academia como um lugar de experimentação de tudo o que ela viveu e vive na periferia. Entre o Curuzu e a Mata Escura, bairros periféricos de Salvador, a pesquisadora conta que pensar a linguagem foi interessante e um movimento de observação.

"[Através da Academia] eu tive acesso a leituras, a debates, à compreensão inicial sobre o preconceito linguístico porque eu ouvia minhas mais velhas falando e queria entender que variação era aquela", relata Carla, que é formada em Letras Vernáculas pela UFBA, com ênfase em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa.


				
					'Racismo retarda', diz pesquisadora negra sobre trajetória na Academia
Carla Nogueira, doutora em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Foto: Arquivo pessoal

Sempre vinculada à vivência pessoal, Carla atrela a linha de pesquisa que desenvolve ao espiritual, à comunidade e à constituição identitária. Essa relação levou a doutoranda a construir uma série de pesquisas ao redor do Terreiro Bate Folha, comunidade onde cresceu.

"Esse saber interdisciplinar [e acadêmico] se complementou com o conhecimento popular, de vida que eu já tinha no candomblé e na periferia da cidade. Essa minha vivência fora da universidade foi um balizador para chegar na instituição [e] compreender as dinâmicas internas, mas sempre pensando para fora dos muros da [faculdade]", afirma Carla.

O racismo que atravessa

Por muito tempo Carla não soube nomear o que a paralisava nos anos de graduação. A desqualificação velada, o afastamento da oralidade e a estrutura social já cristalizada em uma lógica racista são aspectos que atravessaram a trajetória da pesquisadora.

"O racismo retarda a nossa carreira. Enquanto mulher preta, da periferia e de candomblé [entendo que] a instituição nos impõe um atraso. Nossa dinâmica [e] constituição corpórea e espiritual é da oralidade e a Academia presa muito pela escrita [e] uma escrita que destitui a oralidade", afirma.

Essa ferramenta ancestral sempre foi a base de Carla, mas essa realidade é muito diferente do que é tradicionalmente valorizado na universidade. O enfrentamento dessa barreira também foi um norteador da trajetória da doutora.

"Como nós somos vistas, arguidas, questionadas vai em um lugar de contraposição ao privilégio das pessoas brancas. Eu lembro que vim compreender bem mais tarde o que é que me paralisava e me envergonhava, mesmo tendo certeza e estando fortalecida pela força dos Inquices e pela energia do meu povo. Mas era esse ambiente que me era hostil".

A virada de chave

Transformar este ambiente em um espaço de possibilidades, debates e transformação foi um desafio para muitos alunos negros da UFBA, assim como foi para Carla. Olhar para casa e encontrar na comunidade o caminho para a Academia foi o que guiou a pesquisadora durante os anos de formação.


				
					'Racismo retarda', diz pesquisadora negra sobre trajetória na Academia
Localizado em Mata Escura, o terreiro Bate Folha desempenha um importante papel social na comunidade local. Foto: Reprodução/YouTube

"Foi olhar para dentro. Como eu venho desse percurso de pensar África desde a graduação, nos 90 anos de nossa matriarca, eu olho para dentro de percebo com o olhar crítico, o olhar da pesquisadora, que aquela figura feminina, mulher negra, matriarca, 70 anos a frente do terreiro, tinha e tem uma capilaridade política, social, econômica e começo a pesquisar", relata Carla.

A partir dessa observação, a doutora percebe a responsabilidade e a noção de família ampliada negro-africanas que se estabelecessem através das tradições religiosas de matriz-africana.

Essa potência saiu da Bahia, do Brasil e chegou ao mundo através da pesquisa de doutorado de Carla. Com um documentário em homenagem aos 100 anos do Terreiro Bate Folha, ela levou as reflexões sobre o legado negro-africano na Bahia para a Pensilvânia, nos Estados Unidos.

O vídeo ficou em segundo lugar na categoria de mídia em 2020 pela sociedade de pós-doutorados na décima-terceira exibição de pesquisa na Penn State University.

"[A pesquisa foi] observar nessa convivência cotidiana o que é teorizado [por pensadores negros] e a repercussão é um fator positivo também porque reverbera aspectos positivados da nossa herança. Basta de aspectos negativos sobre nós. É compreender essa força e luta, mas também falar de afetos", destaca Carla.

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