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SALVADOR

Alta no preço de alimentos pesa mais para soteropolitano

Hábito alimentar local interfere no peso da inflação nas capitais

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04/05/2013 às 8:47 • Atualizada em 02/09/2022 às 5:51 - há XX semanas
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A enfermeira Lívia trocou pelo preto. A estudante Rita mudou a marca. E o repositor de estoque Sílvio não quer nem saber do preço, ele quer mais é comer feijão. “Eu dou o mesmo dinheiro para minha mulher ir no mercado, e ela que se vire. Não abro mão de comer feijão com farinha todos os dias”, contou Sílvio Carlos, enquanto arrumava a prateleira de seu alimento preferido no supermercado Bompreço, onde trabalha. Enquanto trabalha, ele vai ouvindo as queixas dos clientes. “Oxente!? Dez reais?”, espantou-se a estudante Rita, estendendo a mão para pegar uma marca mais barata. “Esse aí não, que é muito duro”, protestou a irmã. Um pouco antes, a enfermeira Lívia Brito tomava uma decisão: “A babá do meu filho não gosta de feijão preto, mas, paciência, vai ter que comer esse mesmo, que está mais barato”. Dez minutos em frente à prateleira de feijão do supermercado são suficientes para entender por que os baianos têm sofrido mais do que os outros brasileiros com a inflação dos alimentos. Todo mundo reclamou do preço, mas ninguém abriu mão de comprar feijão. Nem farinha. Dentre as sete capitais brasileiras em que a Fundação Getulio Vargas (FGV) pesquisa o Índice de Preço ao Consumidor (IPC), Salvador tem destaque no aumento do preço dos alimentos. Considerando a média anual, de maio de 2012 a abril de 2013, o IPC na capital baiana foi de 17,97%, a maior dentre as outras cidades. Atrás, fica Recife (16,60%) e, por último, Brasília (12,36%), média semelhante à registrada nas outras capitais.
Inflação Nordestina O economista da FGV André Braz explica que Salvador e a capital pernambucana vivem o que o governo federal chegou a chamar de “inflação nordestina”. Numericamente, há inflação em todo o país na área de alimentos, porém os hábitos alimentares locais podem estar interferindo no peso da inflação no bolso dos consumidores. Por exemplo, o feijão aumentou em todo o Brasil, porém o feijão carioquinha, que teve uma alta anual de 34,17% em Salvador, pesa três vezes mais no orçamento do baiano no que do carioca, que não compra esse tipo de produto (o feijão só se chama carioquinha por causa das suas listras, que lembram o calçadão de Copacabana). Ou seja: mesmo caro, o soteropolitano continua comprando o feijão e isso pesa no orçamento no fim do mês. O mesmo acontece com a farinha de mandioca. “Está caríssimo!”, se adiantou o gerente comercial André Menezes, ao ver a reportagem se aproximar. Ele se referia ao preço da farinha na Ceasa (R$ 8). No entanto, na sacola, levava três quilos do produto. “Não tem jeito, né? Aqui é para mim, minha sogra e minha cunhada”, justificou. “Agora o povo já acostumou com o preço, mas logo que aumentou, todo mundo reclamava. Reclamava, mas comprava do mesmo jeito”, riu o dono do estande ao lado, Uemerson Cruz, que ainda vende a farinha por R$ 7. “Em julho deve baixar”, previu. A alta registrada do produto foi de 132,63% em um ano, segundo a FGV. Como para o soteropolitano o alimento é importante na refeição do dia a dia, o peso dele no índice final é mais significativo do que em outros estados. “Isso reflete o gosto e a preferência locais. Todos experimentam o aumento da batata, mas ela pesa mais aqui, porque as pessoas comem mais esse alimento”, diz Braz. O grupo de hortaliças e legumes também teve forte acréscimo para o soteropolitano: aumentou 134,60% em um ano. Mesmo com esse cenário momentâneo de alta nos preços dos alimentos, Braz explica que Salvador não se caracteriza como uma cidade em que o custo de vida é alto para se viver. Em mais de 10 anos de pesquisa, de janeiro de 2011 a abril de 2013, Salvador registra uma alta de 146% na área de alimentos, a mais baixa comparada a outras capitais que ultrapassam os 150%. “Em médio prazo, esses preços vão começar a cair. Esse é um momento de alta que a cidade está passando”, diz Braz. Nesse contexto de preços exorbitantes, a sorte de Sílvio, do início do texto, é que ele não vai precisar economizar no feijão. “Minha mulher está de dieta. É bom que sobra mais pra mim”, comemora. Mas, se na sua casa não tem ninguém de dieta para lhe ceder a cota de feijão, o economista André Braz aconselha: “Como a capital enfrenta um momento de alta, também cabe ao soteropolitano fazer sua parte”. Braz dá três dicas sobre como se comportar com os produtos que sobem mais: consumir menos, tentar substituí-los ou simplesmente não comprar. “Os consumidores são um pouco tímidos no seu poder de compra. Mas, se eles pesquisarem mais e evitarem os preços mais caros, eles podem ajudar a controlar a inflação até em um momento de preços mais estabilizados”, diz.
Desoneração de imposto ainda não provocou impacto esperado Braz lembra que, mesmo com a desoneração do PIS/Cofins, os itens da cesta básica não caíram os 9% que o governo federal estava esperando. “Essa desoneração começa agora a aparecer nos índices. Mas nem próximo da metade do percentual que o governo federal esperava”, analisa. O fato de o país registrar uma super safra de milho e soja também ajudou a baixar os preços das carne bovina e do frango, já que esses dois alimentos são usados como ração animal. “São dois efeitos, mas a queda ainda é tímida”, enfatiza. Sobre o aumento dos três itens de higiene em Salvador, mesmo com a desoneração, Braz justifica que eles podem ser justificados pela alta demanda de consumo. Por exemplo, como antes tinha um orçamento mais limitado, hoje o soteropolitano não abriria mão de comprar um bom sabonete para tomar banho. Você pode conferir o impacto da desoneração no infográfico abaixo, que compara a variação da inflação entre março e abril. A desoneração dos produtos que compõem a cesta básica entrou em vigor no dia 8 de março. O governo zerou a incidência de PIS/Pasep-Cofins e de IPI de 16 itens: carnes, arroz, feijão, ovo, leite integral, café, açúcar, farinhas, pão, óleo, manteiga, frutas, legumes, sabonete, papel higiênico e pasta de dente. Com a redução dos impostos, em tese, o preço desses produtos deveria baixar. Alguns itens, como leite, feijão, arroz e farinha, já não tinham nenhum desses impostos, mas no sabonete, por exemplo, havia incidência de 12,5% de PIS-Cofins e de 5% de IPI. Em setembro, Dilma havia vetado artigo que determinava a isenção de PIS-Cofins e IPI sobre os alimentos da cesta básica.
Consumo de alimentos em casa deve movimentar R$ 250 bilhões Cada brasileiro deverá gastar R$ 1.525,25 com alimentação no domicílio até o fim do ano, segundo estimativas do Pyxis Consumo, ferramenta de dimensionamento de mercado do Ibope Inteligência. O consumo total de alimentos em casa no país deve encerrar o ano com um volume de vendas de R$ 250 bilhões. De acordo com o levantamento, a classe C será a maior compradora, com gastos estimados em R$ 120 bilhões, 48,25% do total. A classe B aparece na sequência, com um consumo estimado de R$ 79 bilhões, o que representa 31,56% do total. Ao analisar o consumo de alimentos em casa por região, o Sudeste tem o maior potencial de consumo, com quase metade do projetado para o país. Em seguida estão as regiões Nordeste (20,89% ou R$ 52 bilhões) e Sul (15,57% ou R$ 39 bilhões). Apesar do maior consumo no Sudeste, a região Sul é a que apresenta o maior gasto por habitante, de R$ 1.656,11, enquanto no Sudeste o valor é de R$ 1.601,51 e, no Centro-Oeste, de R$ 1.598,06. Na análise por classe e região, a classe C do Sudeste lidera com consumo estimado em R$ 57 bilhões para 2013. A classe B, também do Sudeste, aparece em seguida, com R$ 44 bilhões. A região Norte apresenta os menores potenciais de consumo, com exceção das classes D/E. Nessa classe, o menor potencial é no Centro Oeste. Gasto com transporte é maior em Salvador que em outras capitais Um outro dado que chama atenção na pesquisa da FGV é o peso que o transporte público tem no orçamento do soteropolitano: 6%. A média nacional é a metade: 3%. Segundo o economista André Braz, o que ocorre é que, ao contrário de outras capitais baianas, por aqui temos apenas um transporte de massa: o ônibus. Além disso, Salvador tem a tarifa mais cara do Nordeste, com um serviço que não corresponde ao preço. “Tomo banho de sol, de chuva, de lama”, reclamou a doméstica Ednalva Maria Santos, que esperava ontem o transporte na Vasco da Gama. O polêmico ponto da avenida fica literalmente no meio do nada, e não tem abrigo de chuva ou sol. “Ainda corre o risco de um carro vir de lá e atropelar todo mundo”, emenda o técnico Antônio Marcos. Ele, que levava o filho ao médico ontem, gasta até mais que os 6% por mês. “Todos os dias, vou e volto do trabalho. Gasto em média uns R$ 100, dos R$ 1,2 mil que ganho”, contou. O percentual gasto por ele fica em 8%. No entanto, entre as capitais pesquisadas, Salvador foi a única onde o percentual caiu na última semana de abril: -0,11%. Nesta mesma semana, o Rio de Janeiro viu seu índice subir 0,39%, enquanto em Minas Gerais, o peso do transporte público no orçamento da população subiu 0,38%. Foram os dois maiores índices registrados pela pesquisa. Matéria original do Correio Alta no preço de alimentos pesa mais para soteropolitano

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