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Aluno da Unifacs vai seguir no curso |
Se você vai mal numa prova, você leva bronca do professor, mas tenta melhorar, certo? O que acontece quando, na próxima avaliação, você se sai ainda pior do que a anterior? Bom, no caso das universidades e faculdades brasileiras, o que acontece agora é o seguinte: elas são proibidas de deixar mais gente entrar nos cursos que levaram bomba duas vezes. Pelo menos até que consigam melhorar suas notas. É essa a situação de dez cursos de universidades baianas, incluídos em lista publicada ontem pelo Ministério da Educação (MEC), no Diário Oficial da União. A relação total inclui 207 cursos de universidades, centros universitários e faculdades de todo o Brasil que, depois de terem má avaliação em 2008, repetiram o desempenho ruim em 2011 e também em 2008. Todos esses cursos estão proibidos de fazer novos vestibulares no país este ano. Na Bahia, dos dez, sete não podem nem pedir revisão da decisão. A avaliação do MEC levou em conta o Conceito Preliminar de Curso (CPC), além do Índice Geral de Cursos (IGC). Juntos, os dois ajudaram a gerar novos critérios de regulação dos cursos no país. Além disso, 22 cursos baianos que tiveram avaliação insatisfatória pela primeira vez não poderão aumentar o número de vagas no ano que vem. Entre eles há oito cursos da Ufba e um da UFRB. Os cursos baianos com a situação mais complicada são os de Engenharia de Produção nas Faculdades Integradas Ipitanga (Unibahia); Engenharia Civil e Eletrônica, na Unifacs; Engenharias Eletrônica, de Produção e de Computação, na Área 1; e Bacharelado em Computação na Faculdade Hélio Rocha. Esses cursos tiveram uma avaliação considerada insatisfatória pelo MEC, com notas 1 ou 2 no CPC, tanto em 2008 quanto em 2011. Como eles não melhoraram o desempenho no período, eles não podem nem fazer novos vestibulares no ano que vem, e nem matricular alunos que já tenham sido aprovados no último vestibular e que ainda não tenham realizado a matrícula. Outros três cursos também estão com a avaliação apertada, mas podem ainda aplicar o vestibular este ano se apresentarem um relatório de melhorias satisfatório. São eles: Engenharia de Controle e Automação na FTC Salvador; Tecnologia em Redes de Computadores da Faculdade Anísio Teixeira (FAT), em Feira de Santana; e Pedagogia na Faculdade Vasco da Gama.
CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIARMinistérioNuma entrevista coletiva, o ministro da Educação Aloízio Mercadante afirmou que “as medidas adotadas vão na direção da expansão do sistema, mas não podemos expandir sem qualidade”. Apesar de ter dito que, de modo geral, houve uma melhoria nos cursos de instituições superiores no Brasil, ele disse que é preciso fazer com que as instituições que ainda não estão com resultados satisfatórios evoluam. “O sistema todo se moveu em direção à melhora nos anos de 2008 e 2011. No entanto, uma parte do sistema não está acompanhando, não haverá flexibilização em nenhum cenário para quem piorou. Nosso dever é fiscalizar esse grupo”, concluiu.
FaculdadesO CORREIO procurou as dez faculdades que têm cursos incluídos na lista do MEC. Seis dos sete que tiveram “tendência negativa” – ou seja, estagnaram ou pioraram na avaliação, já insatisfatória – informaram que estão tomando providências. No caso da Unifacs, a universidade ressaltou que apenas dois dos 57 cursos foram mal avaliados. “A Unifacs esclarece que, mesmo antes da divulgação dos resultados do Enade, adotou e continuará a tomar as medidas administrativas necessárias para reverter essa situação, que definitivamente não representa a realidade dos cursos da instituição”, informou a instituição, em nota oficial. A universidade também informou que os estudantes matriculados não serão comprometidos e que não haverá prejuízos em relação à inscrição em processos seletivos, pois não há seleção em aberto. A Área 1 informou que já elaborou ações para resolver as pendências dos cursos e que a instituição está preparada para receber a comissão do MEC. Com um curso na lista, a Unibahia informou que realizou uma reunião para definir qual seria o posicionamento da instituição, mas que não concorda com a punição, pois ainda não houve a assinatura do protocolo de compromisso e a nota pode mudar. Já a Faculdade Hélio Rocha informou que a instituição abrirá um protocolo de compromisso com o MEC e buscará atender as exigências do órgão. Já das três faculdades que estão com conceito insatisfatório, mas “tendência positiva”, ou seja , melhoria na noita, a FTC informou que já providenciou ações de caráter pedagógico, administrativo e infraestrutural, com intenção de aprimorar o trabalho acadêmico-pedagógico que desenvolve. A Vasco da Gama destacou que o curso de Pedagogia é o único dos cinco cursos da instituição que está mal avaliado e que essa exceção será tratada com especial atenção e mais investimentos na formação de professores e em infraestrutura. Ninguém na FAT atendeu aos telefonemas da reportagem.
Alunos de cursos reprovados defendem o ensinoQuando Rafael Barreto, 20 anos, escolheu cursar Engenharia Elétrica na Unifacs pesou o nome da instituição. “Sabia que, dentre as particulares, era uma das melhores”, diz. Já no sexto semestre, ele está prestes a optar entre Eletrotécnica e Engenharia Eletrônica. Esse último está na lista dos que não podem ter vestibular no próximo ano, após duas más avaliações seguidas. Ainda assim, Rafael está decidido. “Quero Engenharia Eletrônica e não vou parar. Acho que esse problema pode ser temporário ou até nem ser real”, especula. “Nenhum lugar é perfeito, mas eu gosto muito daqui. Sei que o nível dos meus colegas é bom. Como em toda faculdade, sempre tem alunos que não querem nada, mas, de uma maneira geral, os alunos são bem preparados”, emenda. Diferentemente de Rafael, alguns estudantes da Faculdade Área 1 estão preocupados com os resultados da instituição, que tem três cursos entre os suspensos pelo MEC para 2013. “Alguns alunos ficaram revoltados ao saber disso. Fizemos uma reunião com um coordenador para que ele garantisse que nós nos formaríamos”, conta o formando de Engenharia Eletrônica Paulo Victor, 28 anos. “Muitos estudantes estão querendo sair da faculdade. Até eu mesmo pensei nisso, porque agora existe uma desconfiança”, lamenta. Victor, entretanto, acabou decidindo concluir a graduação na Área 1. Até então, ele nunca tinha tido problema com a instituição que escolheu. “Sempre gostei muito, porque sei que aprendi tudo graças ao que encontrei aqui. O problema é que agora a faculdade perdeu muito a credibilidade. Fico apreensivo, porque estou prestes a terminar a graduação”, revela. Consciente de que há pontos deficientes na instituição, Victor cita problemas como a desatualização de bibliotecas e falta de estrutura em laboratórios. “Além disso, tem uma inconstância muito grande de professores, com trocas frequentes. Também poderíamos ter mais aulas práticas”. Para Victor, uma avaliação ruim do MEC causa apreensão. “Ninguém quer queimar o currículo”, conclui.
Pró-reitor da Ufba defende ensinoO pró-reitor de graduação da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Ricardo Miranda, se mostrou surpreso ao saber que alguns cursos da Ufba foram colocados no paredão pelo Ministério da Educação (MEC). Ou seja, tiveram conceito menor que 3, que é considerado insatisfatório. “Se trata de um conceito preliminar de curso (CPC). Não pode haver sanções por avaliação preliminar. O parecer final só será dado após uma comissão técnica visitar a universidade”, informou o pró-reitor, acrescentando que já irá solicitar a visita da comissão. Ainda segundo Miranda, esta não é a primeira vez que um curso da universidade é avaliado com um desempenho aquém da realidade. “Da última vez, o curso de Enfermagem recebeu conceito 2. A comissão do MEC veio aqui em novembro e esse número subiu para 5. É óbvio que o conceito 2 não refletia a realidade de um curso tradicional como é o de Enfermagem”, defende. Outra discrepância que ele cita é quanto ao desempenho dos cursos de Química. “O curso de Química é tradicional, 99% dos professores têm doutorado, a faculdade tem décadas de existência, realiza pesquisa, extensão... Há equívoco nessas notas, nas informações. Vamos tentar identificar onde houve equívocos e solicitar uma avaliação in loco”. Questionado quanto ao fato da avaliação negativa do MEC ter um impacto entre a comunidade acadêmica e os interessados em conquistar uma vaga na instituição, o pró-reitor de graduação é direto: “A Ufba não tem crise de falta de autoestima. Isso não nos preocupa”. Em seguida, ele pondera a importância da avaliação: “Não é que os indicadores não sirvam para nada. Eles indicam algo. Mas nós temos um corpo docente qualificado, nossos cursos são muito bons ou bastante razoáveis. É dificílimo que seja péssimo”. Ao mesmo tempo, porém, que ressalta as potencialidades da instituição, o pró-reitor reconhece que a Ufba teve um crescimento acelerado, passou por muitas obras e isso, por algum momento, pode ter afetado o funcionamento. “Às vezes, tínhamos dificuldades até de encontrar espaço para colocar um equipamento em um laboratório”, reconhece.
Matéria original Correio 24h Alunos de cursos reprovados pelo MEC defendem ensino das universidades