Se você não passa pela rua Banco dos Ingleses com frequência ou não conhece ninguém que viva por lá, talvez acredite que a pequena área residencial próxima ao Campo Grande ainda preserva a tranquilidade dos velhos tempos. Engano seu.
Hoje, não é difícil testemunhar, a qualquer hora, furtos, assaltos, arrombamentos de carros e até invasões de imóveis na tradicional rua. Como já é comum em outras áreas da cidade, moradores começaram a instalar câmeras para tentar inibir os bandidos.
No Edifício Tamoyo, foi preciso menos de um mês de monitoramento para flagrar um invasor noturno, que roubou apartamentos do próprio prédio e do edifício vizinho, o Santa Elisa. Em imagens cedidas por um morador, que teve o apartamento invadido e furtado, é possível ver toda a ação do criminoso, na madrugada do dia 20 de março.
 |
| Câmera do Edifício Tamoyo flagra homem invadindo prédio. Ele pulou o muro e entrou em apartamentos |
FlagranteDescalço e trajando apenas uma bermuda, o homem chega por volta das 3h30. Pula o muro do prédio com desenvoltura e, andando lentamente, para algumas vezes, como quem pensa em como fará o serviço.
Sem ser notado por ninguém, ele some do alcance das câmeras durante pouco mais de meia hora, ressurgindo às 4h09 da manhã. Quando pula para fora do prédio, o ladrão já está com o corpo coberto de roupas e, pelo volume, parece levar objetos escondidos.
“É uma coisa frequente, a rua está totalmente abandonada. Senhoras são empurradas e roubadas. Isso não é uma vez por semana, é coisa de três vezes”, conta o músico André Nogueira, que mora há 30 na Banco dos Ingleses e, depois de ter a casa invadida duas vezes, instalou câmeras e uma cerca elétrica.
De acordo com moradores da rua e a própria polícia, esse tipo de crime é cometido por usuários de drogas – principalmente crack – que vendem os objetos roubados para manter o vício.
A rua, que liga o Campo Grande à comunidade da Gamboa, virou uma rota de fuga para quem comete crimes no Centro. Uma incursão realizada pela polícia na Gamboa há 15 dias resultou na autuação de duas pessoas por receptação de produtos roubados, de acordo com informações da 1ª Delegacia.
Em outro flagrante das câmeras do Edifício Tamoyo, dois roubos são registrados no dia 16 de abril, num intervalo de pouco mais de uma hora. Às 9h18, as gravações mostram guardas municipais correndo atrás de um ‘sacizeiro’ que, segundo moradores, feriu uma mulher na esquina da rua para roubá-la.
Já às 10h25 a câmera gravou uma briga entre um ladrão e um transeunte, morador de uma rua vizinha à Banco dos Ingleses. Os dois travam uma luta corporal, com socos e empurrões. A vítima do roubo leva a pior e cai no chão, enquanto o ladrão foge correndo em direção à Gamboa.
“Depois disso, o menino assaltado não passou mais aqui”, conta o zelador Cláudio Teles, funcionário do Edifício Anury, que fica bem em frente ao local do roubo. Segundo Cláudio, que trabalha na rua há nove anos, a situação
começou a piorar há seis meses.
InvasõesA Rua Banco dos Ingleses é aparentemente pacata. Tem 12 prédios e oito casas – incluindo o Clube dos Ingleses -, além de duas empresas e um motel em sua parte baixa. Dos 12 condomínios, quatro já sofreram invasões do ano passado pra cá, de acordo com o relato dos próprios moradores. Das oito casas, três já foram invadidas.
Para tentar amenizar o problema, alguns moradores da rua já estão discutindo a possibilidade de contratar uma empresa de vigilância privada. Quem faz parte do grupo é Valdecy Fróes, que há 20 dias teve os filhos atacados na porta do Edifício Anury.
“Meu filho saiu do carro e um homem encostou nele com uma arma. Minha filha estava no carro e teve uma arma apontada na cabeça. Os bandidos levaram o carro e os objetos pessoais dos dois. Perdemos todo o sossego aqui. Vivemos com medo”, conclui a moradora.
