O cidadão está no ponto há 40 minutos, sem ter onde sentar, debaixo do sol. Daí, quando surge o ônibus no fim do túnel, o motorista passa direto e não dá um pingo de ousadia ao coitado, que está ali praticamente criando raízes. As experiências confirmam: maldizer ou jogar praga não dá em nada. Mas, agora, quem deixar de pegar passageiro nos pontos de parada – o primeiro lugar na lista de reclamações dos usuários, segundo a Secretaria Municipal da Mobilidade (Semob) – vai ter que se explicar na mesma hora. E mais: se não cumprir a rota ou rodar com excesso de velocidade, a qualquer hora do dia, o rodoviário também terá que apresentar uma justificativa plausível. Todas essas informações serão monitoradas em tempo real pelo Centro de Controle Operacional (CCO), inaugurado ontem, na sede da Semob, em Amaralina. Tudo que chegar à central referente a cada ônibus vai gerar relatórios. E, a partir disso, os passageiros podem ter atualizações imediatas sobre onde está o veículo que pretende pegar e quanto tempo falta para o coletivo chegar até o ponto, por meio de smartphone. “Vamos monitorar cada um dos ônibus, acompanhando todas as paradas, para garantir ao usuário o cumprimento dos horários e das linhas. Com esse controle, a prefeitura vai ter instrumentos para, junto com as três bacias, garantir que cada uma das obrigações possa ser cumprida”, explicou o prefeito ACM Neto, durante a inauguração.
InvestimentoCom empenho de cerca de R$ 500 mil, com recursos municipais, o CCO começou a ser projetado há cerca de um ano. De lá para cá, a prefeitura fez o georreferenciamento de todos os mais de 3,1 mil pontos da cidade. Depois, os 2,7 mil coletivos da frota foram equipados com GPS. “Quando o ônibus passa pelo ponto, envia informação para o centro e nós vamos ver se está no tempo certo, se teve mudança no itinerário, se tem engarrafamento, carros parados...”, explicou o secretário municipal da Mobilidade, Fábio Mota. Para ele, com o CCO, a fiscalização e a gestão do sistema de transporte público vão ficar bem mais eficientes. “Sem essa tecnologia, nós teríamos que ter um agente em cada ponto de ônibus, um agente em cada garagem e, ainda assim, não teríamos as informações em tempo real”, destacou. Por turno, serão 24 agentes trabalhando no centro, cada um em uma mesa individual com duas telas que exibem o sistema. Ao final dos três turnos, serão 72 agentes ligados ao CCO. Ao todo, incluindo aqueles que trabalham diretamente nos terminais, a Semob conta com 300 agentes de fiscalização. “Hoje, temos muitas dificuldades relacionadas ao tempo e ao deslocamento até os locais. Isso vai otimizar o nosso trabalho”, comentou o agente Clemilton Almeida, que passou por um treinamento intensivo, durante um mês, para integrar a equipe do centro. Além das telas individuais, o CCO tem 16 televisores que podem gerar mais de 100 telas com diferentes informações – desde mapas de calor, que mostram onde há pontos de retenção no fluxo, até a localização exata de cada ônibus, com uma opção de visualizar qual seria sua posição ideal (ou seja, se está atrasado, adiantado).
CanalQuando houver alguma alteração, de qualquer natureza, a informação sobre o ônibus que estiver nessa situação vai para outra tela, que indica quem são o condutor e o cobrador e qual é a linha. “Nós temos um canal direto de comunicação com o motorista, numa tela touch screen. Ele não vai digitar, mas apertar botões na tela, respondendo a uma sequência de perguntas, como, por exemplo, o motivo de um atraso”, contou o gerente de sistemas da Tacom, Maurício Lomeu. A mineira Tacom é a empresa que criou e que opera o sistema, ao lado da paulista Cittati – as duas foram contratadas diretamente pelos três consórcios de ônibus. Se for comprovado que houve uma alteração indevida, por parte do condutor, o consórcio pode ser multado. As empresas têm 30 dias para apresentar uma justificativa, que será julgada por uma comissão da Semob. No último mês, quando o CCO operava apenas em fase de testes, foram recebidas 9 mil autuações. Os próprios motoristas poderão notificar a central quando houver algum tipo de problema, inclusive situações como assaltos e vandalismo. Assim, se houver necessidade de solicitar o apoio da polícia, os agentes de fiscalização vão usar o GPS do coletivo para saber onde está acontecendo a ocorrência. “A nossa ideia é que todas as centrais de operação possam se comunicar. O governo do estado tem a central dele e, tendo desejo, vai ter acesso às informações coletadas em tempo real”, disse Neto, referindo-se à participação da Polícia Militar e da Secretaria da Segurança Pública. Hoje, 50% da frota já conta com os painéis dos motoristas. A previsão é que todos os veículos já contem com o equipamento até o final do próximo mês. Apesar dos equipamentos instalados, alguns motoristas ainda não sabem o que fazer com eles. “Ninguém passou nada para a gente. Não fomos orientados a usar o sistema em casos de assalto, nem nada”, afirmou Márcio Santos, 30 anos, motorista do consórcio Plataforma. Segundo a Semob, são as empresas que devem treinar os rodoviários para usar o sistema. Até o fechamento da edição, a reportagem não localizou a assessoria do Setps (sindicato que representa os empresários) para falar sobre o treinamento.
TotensAlém disso, até o final do ano, terão sido instalados 58 painéis informativos e totens nas estações e em alguns pontos de ônibus da cidade. Nesses equipamentos, vai ser possível conferir em quanto tempo o coletivo vai chegar, bem como se o veículo tem acessibilidade para deficientes físicos. Já foram instalados painéis na Estação da Lapa (que devem funcionar a partir de hoje) e na Universidade Católica do Salvador (Ucsal), em Pituaçu. Nas próximas semanas, os equipamentos começarão a funcionar nas outras estações de transbordo, além dos campi da Universidade Federal da Bahia, em Ondina e no Canela, e da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), no Cabula. Os totens ficarão em avenidas como a Tancredo Neves, Ogunjá, Juracy Magalhães e Vasco da Gama. No início do ano, já haviam sido instalados 10 equipamentos, mas somente três ainda funcionam: no Mercado do Peixe (Rio Vermelho) e nas avenidas Bonocô e Paralela. “Os outros foram alvo de vandalismo. Por isso, estamos buscando locais como os campi das universidades”, explicou Fábio Mota.
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Segurança De acordo com o administrador geral da Ucsal, Darius Quadros, a instituição de ensino havia procurado a prefeitura, bem como o governo do estado, por conta dos frequentes casos de assalto na Avenida Pinto de Aguiar. “Nossos alunos gritaram por isso, porque estão vulneráveis, e fomos em busca de parcerias. Graças a isso, conseguimos fazer com que eles possam olhar o tempo que o ônibus vai chegar dentro do campus”, explicou Quadros. Depois do ‘Big Brother’ do transporte será a vez de informatizar todo o acompanhamento do trânsito da capital. Segundo o prefeito ACM Neto, no próximo semestre, já serão instaladas cerca de 300 câmeras na cidade, que devem acompanhar o fluxo de veículos (atualmente, 40 servem ao sistema de monitoramento do tráfego). “Os agentes de trânsito vão poder controlar os semáforos em tempo real e isso vai permitir melhorar a fluidez, diminuir os problemas”, adiantou. A previsão é que, até o início de 2016, todo o sistema de monitoramento já esteja funcionando.24 horas.Ainda ontem, Neto anunciou que, no dia 9 de julho, serão divulgadas as linhas de ônibus que contarão com serviço 24 horas – hoje, 600 linhas cruzam a cidade. Além disso, ao final do próximo mês, o prefeito deve lançar um projeto de recuperação urbanística de 50 finais de linha. “Vamos fazer (as revitalizações) até o ano que vem, com o objetivo de oferecer mais segurança, conforto e organização para o transporte público”, explicou. Colaborou Giulia Marquezini. Aplicativo indica onde ônibus estão em tempo real As mesmas informações exibidas nos totens e nos painéis informativos – quanto tempo falta para o ônibus chegar e se o veículo tem acessibilidade para deficientes – também estão disponíveis em smartphones. Também foi lançado, ontem, o aplicativo gratuito CittaMobi, que pode ser baixado na App Store e na Google Play.
O software já existia numa versão beta e havia sido baixado por 72 mil pessoas. No entanto, só no mês passado foi que passou a contar com toda a frota cadastrada no sistema. “Pela localização do celular, o aplicativo já mostra quais são os pontos próximos para a pessoa selecionar e ver quais são as linhas e o tempo de cada uma delas. Também é possível ver o tempo de deslocamento até o ponto de chegada”, explicou o gerente comercial da Cittati (uma das empresas responsáveis pelo sistema do CCO) Carlos Santana. Além disso, também existe uma versão para deficientes visuais, que é o CittaMobi Acessibilidade. Nesse caso, todas as informações vêm no formato de áudio. Através do aplicativo, os usuários terão um canal de comunicação direto com o centro de controle. “É possível fazer queixas, reclamações, avisar sobre ocorrências. Daqui a 60 dias, também teremos uma atualização e é possível que ele ganhe novas funcionalidades, como o envio de fotos”, completou Santana. Outra opção é o app SiuMobile SSA, com funcionalidades semelhantes ao CittaMobi, lançado em dezembro e também baixado mais de 70 mil vezes.
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