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SALVADOR

Atendimento de postos de saúde piora depois da saída das Osid

A gestão das duas unidades de saúde estava a cargo das Osid até o início de janeiro, mas a instituição desistiu da tarefa

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06/04/2012 às 8:31 • Atualizada em 29/08/2022 às 21:58 - há XX semanas
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A revolta da pedagoga Márcia dos Santos, 37 anos, só não é maior que a dor no braço esquerdo. Há duas semanas sem dormir direito, ontem procurou atendimento médico nos postos de saúde de Pernambués e Boca do Rio. Na primeira unidade não havia ortopedista. Na segunda, tinha médico, mas não foi atendida. A demora no atendimento e a falta de profissionais têm ocorrido com frequência nos dois postos. Cansados, pacientes querem que a administração das unidades seja devolvida às Obras Sociais Irmã Dulce (Osid). A gestão das duas unidades de saúde, que funcionam em regime de 24 horas, estava a cargo das Osid até o início de janeiro, mas a instituição desistiu da tarefa, alegando prejuízos financeiros em decorrência dos constantes atrasos nos repasses, pela Prefeitura de Salvador, dos recursos liberados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A situação mais grave é no posto Edson Teixeira Barbosa, em Pernambués, que atende em média 600 pacientes. Hoje, a unidade é administrada pelos Serviços Médicos Gerais (Semege).
Atendimento de postos de saúde piora depois da saída das Osid
Falta tudo Rosilene Conceição Ribeiro, 37 anos, grávida de três meses, chegou na unidade às 7h da última quarta-feira, em busca de um atendimento no ambulatório. Foram três horas para ela ser chamada à sala de exames. “E o pior é que fui atendida na condição de preferencial. Quando isso aqui estava sob os cuidados das Osid era bem diferente. Funcionava direito, como um mini-hospital” Rosilene diz ter ficado estarrecida ao saber que, na unidade, não há copo para beber água e nem papel higiênico. “Tem gente que, quando vem aqui e precisa ir ao banheiro, já traz o papel (higiênico) de casa”, diz. Com os salários atrasados há dois meses, os poucos profissionais que restam na unidade ameaçam entrar em greve. “Muitos de nossos colegas médicos, enfermeiros e outros da área de saúde estão abandonado os postos de trabalho. Aqueles que continuam, como eu, só estão aqui por amor aos pacientes”, declara um funcionário, sem se identificar. Segundo ele, em casos críticos, um dos diretores da unidade, que é médico, passa a atender os pacientes. “Ele é clínico e acaba pegando pacientes de ginecologia, ortopedia, pediatria. O paciente sai daqui acreditando que a consulta foi com um especialista. Quando a gestão era das Osid, nada disso acontecia”. Além do salário, o pagamento do transporte tem causado transtorno aos funcionários. “A gente que trabalha das 19h às 7h tem que esperar até as 10h para pegar o dinheiro da passagem da semana. Como se não bastasse o cansaço e o desgaste físico, o dinheiro é fracionado: um dia a gente recebe R$ 10, três dias depois mais R$ 10 e assim vai. Já fiquei aqui esperando R$ 5”, conta um maqueiro. As condições de trabalho também são motivo de insatisfação. “Não tem fardamento, luvas para trabalhar na limpeza, nem crachá funcional. Tudo aqui é a ‘migué’”. NegligênciaApesar dos salários em dia, no 12º Centro de Saúde Alfredo Bureau, na Boca do Rio, a demora no atendimento varia entre uma e duas horas – isso em dia de pouco movimento, como ontem. Mesmo já em clima de feriadão, ontem o operário Antônio Jorge Montez, 22 anos, levou quase duas horas para ter o pé direito enfaixado. “Cheguei aqui às 7h, estou saindo às 9h. Isso aqui já foi bem melhor”. A pedagoga Márcia dos Santos, citada na abertura desta reportagem, chegou às 10h no posto da Boca do Rio em busca de um ortopedista. Com o braço direito inchado e dolorido, ela foi obrigada a deixar a unidade de Pernambués, após ser informada que não havia o especialista. Na Boca do Rio, pela segunda vez, foi informada que também não havia especialista. Indignada, saiu rumo ao Hospital Ernesto Simões, no Pau Miúdo, onde finalmente conseguiu ser atendida. O que a pedagoga não sabia era que havia um ortopedista no posto. O médico foi flagrado, instantes depois, pela reportagem do CORREIO lanchando numa barraca situada em frente ao posto de saúde. PerigoQuestionado sobre a razão da paciente não ter sido atendida, o ortopedista respondeu: “As duas salas destinadas a ortopedia estão isoladas por conta de um paciente com tuberculose”. Perguntado se não havia outro local para consulta, o profissional replicou: “A direção não dispõe de outra sala para ortopedia, então estou fazendo só algumas suturas. Não trabalho neste posto. Apenas estou tirando um plantão de um colega”. A paciente de tuberculose que o médico fez referência é a mesma que perambulou ontem pela manhã nos corredores da emergência da unidade, sem o uso da máscara apropriada, segundo o líder comunitário Gerson José Souza, 34 anos. Ele estava com a filha Noemi, 2 anos, aguardando o atendimento, quando foi alertado por uma funcionária de que a mulher a poucos metros dele e da filha estava com infecção respiratória. “Ela tossia muito e não usava máscara. Foi quando uma atendente avisou para termos cuidado. Minha filha, que chegou lá para ser atendida por uma dor de barriga, poderia sair com uma doença muito pior e letal”, criticou. Empresa terá contrato rescindidoA prefeitura informou que a demora no atendimento nos dois postos de saúde está relacionada com a classificação de risco. As unidade têm um fluxo de pacientes muito grande e, por isso, alguns pacientes teriam prioridade. Sobre a gestão da Semege, a prefeitura informou que o contrato será rescindido. A empresa, que há dois meses assumiu a gestão do posto de Pernambués, descumpriu uma das cláusulas do contrato. A Semege teria que ter recursos por pelo menos três meses para suprir as despesas, caso a prefeitura atrasasse o repasse dos recursos do SUS. Os funcionários que trabalham na unidade serão absorvidos pelo Instituto de Gestão e Humanização (IGH), que administra o posto da Boca do Rio e terão os salários atrasados pagos. No entanto, a prefeitura não informou a data do pagamento. O CORREIO tentou, sem sucesso, localizar os donos da Semege. Já Gustavo Guimarães, diretor médico do IGH, deu uma justificativa diferente da prefeitura. Segundo ele, a demora no atendimento é por conta do número excessivo de pacientes. “Atualmente, todas as macas estão ocupadas. Nosso problema não é falta de profissionais, mais sim de espaço”, conta. Sobre a denúncia feita por Gerson José Souza Silva, de que uma paciente de tuberculose perambulava pelos corredores da unidade sem máscara, Guimarães rebateu: “Ele deve estar confundido a paciente. Toda vez que é necessário a circulação do paciente doente, usa-se máscara”. Em relação ao não atendimento da pedagoga Márcia dos Santos, o diretor disse que houve um imprevisto. “Não temos um lugar apropriado para manter um paciente nesse estado, e a única alternativa é isolá-lo em salas de atendimento”. A prefeitura informou que vai instaurar uma sindicância para apurar o fato. Prefeitura não repassou verba federal A gestão do prefeito João Henrique recebeu mais um cartão vermelho em janeiro deste ano. Dessa vez, foram as Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) que suspenderam o atendimento à população nos centros de saúde Alfredo Bureau (12º Centro - Boca do Rio) e Edson Teixeira Barbosa (Pernambués), ambos pertencentes ao município de Salvador e administrados pela entidade. A suspensão atingiu todos os serviços dos centros de saúde: ambulatorial e de emergência. A decisão veio após seis meses de atrasos no repasse dos recursos do SUS por parte da prefeitura. Os atrasos chegaram a uma dívida de R$ 15 milhões junto às Osid. Desse valor, um total R$ 7 milhões veio da Fundação Nacional de Saúde, do governo federal, e ainda está retido na prefeitura de Salvador. Os outros R$ 6 milhões deveriam manter os dois postos de saúde coordenados pelas Obras. Na época, José Eduardo Acedo, superintendente adjunto da Osid, alertou sobre o prejuízo que isso representa para a população de Salvador: juntas, as duas unidades administradas são responsáveis pelo atendimento de uma média de 33 mil pacientes em um mês - o que corresponde a 22% do atendimento das unidades de saúde da capital, segundo a Secretaria Municipal da Saúde.

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