O sol já ia alto quando a Galeota Gratidão do Povo, embarcação construída durante o ano de 1831 por devotos do Bom Jesus dos Navegantes, saiu do galpão, seguiu nos trilhos empurrada por membros da Irmandade e ganhou o mar da praia de Boa Viagem, na Península Itapagipana.
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| Homens da Devoção colocam galeota no mar todos os anos: barco pesa 250 quilos |
Todos os anos, a galeota deixa o galpão no último dia do ano ainda pela manhã e, à tarde, segue em procissão do Porto de Salvador até a Conceição da Praia, no Comércio. Na última quarta (31), o arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, dom Murilo Krieger, celebrou a missa campal de embarque, às 15h30, antes da saída da procissão, às 17h, acompanhada por dezenas de outros barcos.
Nesta quinta-feira (1°), a galeota retorna à Boa Viagem. A tradição surgiu em 1839 como um agradecimento dos capitães que faziam a travessia entre a costa da África e o Brasil. “O Bom Jesus dos Navegantes protegia eles dos piratas e, em agradecimento, eles faziam essa procissão. No dia 31 de dezembro, a embarcação cai no mar em sinal de agradecimento. No dia 1º, ela volta e pedimos proteção”, explica o presidente da Devoção do Senhor Bom Jesus dos Navegantes, Expedito Sacramento, 69 anos.
A devoção de Expedido é compartilhada por muitos. A última vez que o pescador e agente penitenciário Luiz Sérgio Luz, 51, havia ajudado a colocar a galeota no mar, há dez anos, ele ainda vestia a camisa da Equipe de Praia. Então com 23 anos, Luiz Sérgio havia sido um dos escolhidos a dedo pelo padre Hugo, pároco da igreja na época, para levar a imagem do Bom Jesus até a embarcação.
Morando há dez anos em Maceió (AL), ele veio ontem a Salvador cumprir uma promessa: ajudar os companheiros de devoção a colocar o barco no mar, refazer hoje a procissão e agradecer. “Eu sofri um acidente de moto em Maceió, no ano passado. Depois de 23 dias na UTI, a primeira coisa que me veio na cabeça foi a imagem do Bom Jesus. Vim agradecer a ele e a Nossa Senhora da Conceição da Praia”.
Na quarta, por volta das 8h, devotos já começavam a circular em frente ao galpão onde é guardada a galeota. Membros da Irmandade ainda faziam os últimos ajustes na embarcação, que substituiu, a partir de 1892, um escaler, até dois anos antes emprestado pela Marinha para a procissão. Mas foi preciso esperar a maré subir para que o barco saísse.
Apesar da presença de curiosos e dos aplausos, quando a galeota finalmente deixou os trilhos e entrou no mar, o movimento ao redor da Igreja da Boa Viagem não era o mesmo de alguns anos atrás. “Isso aqui acabou. Antes tinha muita gente, não dava para andar. Hoje, quase não tem mais nada”, lamentou o mergulhador Cláudio ‘Espanha’.
Indiferente a isso, o funcionário público aposentado Antônio Fernando ‘Capitão’, 70, disse que precisava manter a tradição de mais de 30 anos antes de partir para a virada do ano. “Além da parte espiritual, é a minha cachaça. Participo da festa desde menino”.
Por conta da festa, ficou proibida desde as 17h de ontem e até as 6h da manhã circular e estacionar nas seguintes vias: Rua Professor D’Alcântara, Largo da Boa Viagem, Av. Luiz Tarquínio (entre o Largo e a Rua Polidoro Bittencourt) e nas ruas Imperatriz, São Francisco, Rio Almada e Paraguaçu (entre o Largo e a Rio Itapicuru). Os ônibus devem seguir em sentido único na Avenida Luiz Tarquínio (sentido Largo de Roma) e nas ruas Polidoro Bittencourt e Augusto Mendonça (sentido Boa Viagem).
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