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Arcebispo de Salvador, Dom Murilo Krieger, beija pé em ato que lembra atitude de Jesus diante dos apóstolos. Missa do Lava-Pés é tradicionalmente celebrada na Quinta-feira Santa |
Segundo o Evangelho, quando se reuniu com os 12 apóstolos durante a última ceia, Jesus Cristo quis deixar uma mensagem de humildade para seus seguidores. Ele pediu para lavar os pés de seus discípulos, uma prática até então realizada pelos escravos quando algum convidado chegava à casa do seu Senhor. De início, o apóstolo Simão Pedro achou a atitude do Messias um absurdo: “Senhor, tu a mim me lavas os pés?” Diante da recusa, Jesus replicou: “O que eu faço, tu não o sabes agora, mas entendê-lo-ás mais tarde”. Mais de 2000 anos depois, a mensagem continua viva para os católicos na Quinta-feira Santa. Para representar o ato de Jesus, em nome da humildade, o arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, realizou, ontem, na Catedral Basílica de Salvador, a Missa do Lava-Pés. Na celebração, que integra o tríduo pascal - três dias que antecedem a Páscoa -, 12 integrantes de irmandades católicas foram escolhidos para ter os pés lavados pelo arcebispo. “Jesus não veio para ser servido e, sim, para servir. Logo, esse é um momento de lembrar como devemos nos mostrar e como devemos ser. Foi na Última Ceia que Jesus instituiu a eucaristia”, explicou D. Murilo, que ajoelhou diante dos 12 fieis, lavou seus pés dentro de uma bacia de prata, enxugou-os com uma toalha branca e beijou-os. Depois, entregou um embrulho vermelho a cada participante. “É um sabonete. Simboliza o lava-pés”, contou o militar reformado Evilásio dos Santos, 69 anos, sobre o presente. Quanto ao significado de ser escolhido pela sua comunidade para participar da tradição, admitiu estar contente. “É emocionante sentir a presença do Senhor. É um exemplo de humildade que deve ser seguido”, disse. Cerca de 300 pessoas compareceram à celebração. Entre eles, o aposentado Samuel Santos, 63, que participa todos anos. “Moro em Salvador há 43 anos e sempre venho. Estou aqui também para agradecer. A religião me ajudou a largar o vício do álcool. Quero a mensagem de Jesus e seus discípulos todos os dias no meu coração”, declarou Samuel. Durante o sermão, D. Murilo ainda aproveitou para refletir a respeito dos hábitos contemporâneos e o exercício da humildade no dia a dia. “A própria ‘selfie’ é uma forma de dizer ‘sou importante’, assim como esse desejo doentio de contar a todo momento o que se faz”, comentou. Ao término do culto, Kriger foi seguido pelo fieis, enquanto levava o Santíssimo Sacramento para a sacristia da basílica. O artefato ficará no local até amanhã, Sábado de Aleluia. Depois do Domingo de Páscoa, quando, segundo a Igreja Católica, Jesus ressuscitou, o Santíssimo voltará para o altar.