Imagine um país onde existem mais empreendedores do que trabalhadores sindicalizados e, no qual, a percentagem de adultos envolvidos com a abertura de novas empresas chega a 13%, um recorde desde 1999. Considere, ainda, que neste país, 43% das pessoas acreditam que há boas oportunidades no empreendedorismo, um valor que subiu quase 20% desde 2011 e onde se considera que as velhas regras que consistiam em aderir a um emprego tradicional como a rota mais inteligente para desenvolver uma carreira estão defasadas. Neste mesmo país, mesmo após a crise de 2008, que afetou o mundo inteiro, há uma tremenda dose de liberdade e criam-se permanentemente oportunidades para empreender. Todavia, muitos reclamam de uma crônica falta de recursos da parte dos órgãos governamentais e praticamente nenhum crédito disponível para se abrir um negócio, em que 82% dos recursos para iniciar uma nova empresa provêm de amigos e da família. E mais, que 69% dos negócios começam em casa mesmo e que, mais tarde, quando prosperam, 59% continuam sendo baseados em casa. Neste mesmo país 12% dos empreendedores apenas têm negócios com clientes em outros países.
Se você achou que este país era os Estados Unidos, acertou. Mas, ao ler o texto acima pode ter achado que se tratava do Brasil, não é mesmo ? Na verdade, não somos tão diferentes assim dos americanos, pelo menos no que se refere ao desejo de empreender. Neste sentido, somos muito mais parecidos com os americanos do que os europeus. Os números disponíveis acerca do empreendedorismo brasileiro nos colocam em terceiro lugar no ranking mundial, em números absolutos de empreendedores, atrás apenas da China e Estados Unidos. Sim, é isto mesmo, a China, outrora reiteradamente comunista hoje é líder no quesito empreendedorismo, ainda que mantenham o grande retrato de Mão na fachada da praça Celestial. É só uma fachada mesmo... Por outro lado, outros números revelam ainda um índice baixo, ainda que tenha melhorado, de relação entre o empreendedorismo por necessidade em relação ao empreendedorismo por oportunidade. Este índice é de 1:2,24 no Brasil, o que significa que para cada 1 empreendedor por necessidade, existem 2,24 que vislumbraram o empreendedorismo por oportunidade. De certa forma, um índice destes ainda esconde um índice ainda baixo de preparação dos empreendedores e pode acabar revelando um desemprego não registrado, ou mesmo subemprego, os quais não são computados pelas estatísticas oficiais. Contudo, o fato positivo é que esta relação tem melhorado continuamente, rumo a um patamar de 1:4, em linha com países onde a preparação do empreendedor é mais visível. Além disto, a renda média do empreendedor brasileiro, para pelo menos a metade deles, é inferior a 3 salários mínimos, o que novamente esconde precariedades. A despeito deste número, todos os índices vêm melhorando e parece que estamos nos tornando um país mais parecido com os Estados Unidos neste sentido, e mais distantes da União Européia. Na União Européia o empreendedorismo é menos bem visto e é justamente o local onde os trabalhadores revelam a maior satisfação com suas carreiras, geralmente sob as asas do Estado e em grandes corporações. Por outro lado, não deixa de saltar aos olhos o imobilismo daquelas economias, praticamente estagnadas. Quem teve oportunidade de ler o relatório do GEM (Global Entrepeneurship Monitor), uma organização que estuda, analisa e monitora o empreendedorismo ao redor do mundo, é interessante analisar alguns dados, notadamente a percepção do status que as atividades ligadas ao empreendedorismo suscitam. Novamente, no quesito percepção, somos mais próximos do Estados Unidos do que Europa. O brasileiro já se aproxima do americano, assim como dos chineses, na percepção de que o empreendedorismo é uma rota inteligente para o desenvolvimento de uma carreira, no lugar da percepção de que somente sob as asas do Estado é possível prosperar. Até mesmo por uma questão de aritmética, é forçoso perceber que não há lugar para muitos, aliás, em relação ao cômputo geral da população, há lugar para muito poucos debaixo das asas da Burocracia estatal, ao passo que o empreendedorismo tem atraído cada vez mais adeptos que não mais se deixam levar pela busca do “bilhete de loteria” do concurso público. O fato é que os pequenos negócios são os responsáveis pela maior parte das vagas de emprego no Brasil assim como em muitos países em desenvolvimento que hoje procuram se desenvolver de forma mais rápida. No quesito apoio governamental e do sistema financeiro, somos muito semelhantes aos americanos, ainda que por lá existam instituições de investimento de risco para negócios de alta tecnologia (Venture Capitalists), que não temos aqui. Porém, mesmo lá, esta disponibilidade é muito disputada e não é acessível à grande maioria dos empreendedores. No Brasil, por sua vez, temos o fenômeno do grande Banco de Desenvolvimento Econômico e Social que fez a opção por financiar "campeões nacionais", com alta concentração de investimentos em poucas empresas, muitas das quais já estabelecidas há muito tempo, o que tem se revelado de pouca eficácia, tanto no retorno como na geração de empregos, deixando os empreendedores iniciantes à míngua. Lá como cá, os empreendedores têm que contar com recursos próprios, da família e amigos. Lá, como cá, tal sistema tem funcionado muito bem, à margem e a despeito do governo. Sempre lembrando, lá, 82% dos negócios são financiados co recursos próprios, amigos e parente. Por aqui, a única medida que poderia ajudar o setor é uma nova versão do supersimples, porém, esta ideia que andou sendo ventilada por algum tempo tem pouquíssimas chances de prosperar, visto que o governo dificilmente abriria mão de sua sanha arrecadatória. Lá como cá, nunca espere nada do Governo, a não ser impostos. Ainda assim, os índices de confiança levantados pelo GEM revelam que o brasileiro é um dos povos que revela uma das atitudes mais positivas globalmente em relação ao empreendedorismo. Os índices de "Boa Escolha de Carreira" e "Status Elevado", como medidas de atitude para com o empreendedorismo atingem respectivamente 89/86 no Brasil. Comparando com outros países, para efeito comparativo, superamos a Rússia (60/63), França (65/77), Alemanha (49/76), Espanha (64/64) e somos bem superiores à média geral (53/68). Esta medida de atitude otimista indica que temos razões para sermos otimistas também quanto ao impulso e energia demonstrado pela nova geração de empreendedores que, a despeito de um ambiente financeiro e tributário muito desfavorável, ainda assim mantêm um otimismo elevado em relação ao empreendedorismo.
Sergio Sampaio |
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