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SALVADOR

Com vista para o mar: orla de Salvador tem 172 buracos

Para chegar ao número, equipe do CORREIO fez um passeio da Barra à Praia do Flamengo: são quase seis buracos por cada quilômetro

• 11/11/2012 às 11:30 • Atualizada em 02/09/2022 às 5:07 - há XX semanas

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Na saída, dois importantes conselhos ao motorista Ronaldo Santos, o Magayver: “Melhor encher o tanque e calibrar os pneus. Principalmente calibrar os pneus”. Tirando pela quantidade de gel que usa nos cabelos, sabia que cumpriria à risca. Tirando pelo apelido, tinha certeza que toparia qualquer missão. “Qual a matéria, padrinho?”, perguntou ele, usando o vocativo com o qual chama os colegas. No primeiro momento, deixei em suspense: “Será uma viagem longa. E cheia de altos e baixos”. Depois, entreguei o jogo. “Vamos contar todos os buracos da orla”. E, de fato, fizemos. Em dois dias seguidos (quinta e sexta-feira), durante quatro horas, contamos um a um os buracos das ruas e avenidas da chamada orla atlântica de Salvador. Não imaginei que seriam tantos. Afinal, não estamos mais no período de chuvas. O Verão se aproxima. A orla é um cartão de visitas. Mas, em vários trechos, percebe-se que o descaso com a orla não envolve somente as barracas de praia. Entre o Porto da Barra e a Praia do Flamengo, encontramos exatos 172 buracos.
A média, segundo cálculos do cartesiano Juan Torres, meu editor, é de 5,73 buracos por cada um dos 30 quilômetros de asfalto. Foi preciso utilizar um método de classificação. Dividimos os buracos em três tipos, de acordo com suas consequências: pequeno tremor, solavanco e risco aos pneus. No caminho, também encontramos diversas áreas de asfalto irregular e asfalto desgastado. Mas, chega de números. Vamos à aventura. Entre a Barra e o Rio Vermelho, muitos pequenos tremores, alguns solavancos e uma área de asfalto irregular em frente ao Ondina Apart Hotel. Aliás, não. Ia esquecendo da boca de lobo bem no meio da pista, na entrada da Rua Marquês de Caravelas, na Barra. A grade de ferro afundou na pista. Se vacilar, é uma porrada e tanto. Na descida do Morro do Cristo, bem em frente ao restaurante Barravento, a pista virou um tobogã. Seguimos sentindo solavancos em Amaralina e percebemos remendos e desgaste nas vias litorâneas da Pituba. Aí vem o alívio. O trecho entre o Jardim Armação e a Boca do Rio é o que está melhor. Tem apenas uma área de asfalto irregular, um pequeno tremor e um solavanco. RiscoMas a paz dura pouco. Da Boca do Rio a Piatã, passando por Jaguaribe, os amortecedores do Gol 1.6 de Ronaldo voltam a sofrer. O borracheiro Maurício Alves, da Borracharia da Orla, bem em frente à sede do Bahia, é quem tem gostado da demanda. “Faço umas dez forças por dia. Quando é furo, cobro R$ 7, quando é pneu lascado varia entre R$ 20 e R$ 60”. Informado, ele diz que a coisa piora muito para o lado de Itapuã. “Piora muito” é eufemismo. Em Itapuã, se você quiser cochilar no banco do carona, esqueça. É o pior trecho para trafegar na orla. Da frente da Vila Militar até a entrada da avenida Dorival Caymmi, é possível perceber que boa parte dos buracos da cidade se forma nos próprios bueiros.
Buraco 'criminoso' após o largo de Cira, em Itapuã. Risco aos pneus
As camadas de asfalto são colocadas umas sobre as outras e não há nivelamento. Nos dois sentidos, contamos 17 solavancos em sequência. Alguns oferecendo sério risco aos pneus. “Isso é problema crônico aqui. Os caras não sabem fazer obra de recapeamento. Já perdi pouco pneu?”, reclamou o taxista Jackson Pereira. Barril Então, quando se achava que era impossível piorar, uma depressão nos surpreende em uma curva, já na rua Professor Souza Brito, logo após a baiana Cira. Ronaldo classificou o buraco do seu jeito. “Esse é criminoso. Chama a polícia!”. Vendo as fotos no sistema, o editor Victor Uchôa considerou aquilo um “atentado ao pudor asfáltico”. Pior: tem outro semelhante bem perto. Em Stella Maris, antes do Condomínio Petromar, são 12 depressões em sequência. Os buracos não respeitam nem a Igreja de Nossa Senhora de Fátima. Tem um ali que, se der uma chuvinha, pode vir a causar um bom estrago. Na entrada da Alameda Praia de Guaratuba, dois buracos não param de crescer. Isso sem falar nas grandes áreas de asfalto irregular ou totalmente desgastado. Na pista principal da Praia do Flamengo, perto da divisa com Lauro de Freitas, duas crateras, ambas no sentido Centro, são assustadoras. A maior fica na lateral da pista. É fácil de desviar. Mas a outra aparece de repente bem no meio da via. “Muita gente já caiu nesse aí e perdeu pneu”, disse o funcionário de um condomínio em frente.
Cratera cresce da lateral para o meio da pista, na Praia do Flamengo
A volta é um pouco mais tranquila. Não há buracos assustadores, mas os tremores e solavancos estão por toda a parte. É difícil trafegar 200 metros sem áreas cheias de remendo. A tese dos bueiros se confirma na Avenida Manoel Dias, na Pituba. Contamos 15 deles formando depressões de respeito, principalmente antes da ladeira que dá acesso ao Rio Vermelho. “É numa dessas que o cara tenta deviar do buraco e, se estiver muito rápido, causa um acidente”, avalia o motorista Luiz Oliveira, com quem percorri o trajeto no segundo dia de contagem. Dizem que se conselho fosse bom não era de graça. Mas, nas duas vezes em que saí do veículo, lembrei aos companheiros de viagem: “O melhor a fazer é calibrar os pneus. Ao menos uma vez por semana”. ‘Asfalto é de boa qualidade, mas mal aplicado’, diz especialistaO asfalto utilizado pela prefeitura não é ruim. A matéria-prima é de boa qualidade”. A afirmação é do engenheiro civil Luís Edmundo Campos. Diretor da Escola Politécnica da Ufba e especialista em solos e pavimentação, Campos garante que o maior problema está na execução das obras. Uma das falhas, diz professor, é que a massa do asfalto não deve ser compactada fria. O material amolecido deve estar bem quente para se moldar ao buraco. Como boa parte das depressões é tapada no período das chuvas, o resultado não é nada bom. “Asfalto não é cimento. Ele não se dá bem com água”. Outro erro é jogar o novo asfalto no buraco sem antes fazer o seu tratamento, retirando todo o material ruim. Feito isso, deve-se aplicar o material de base, com arenoso e brita, antes de colocar a nova camada. “Se for uma faixa de ônibus, precisa de mais brita”. Segundo o professor, as dobras que se formam nas vias também são causadas por erros. “É quando se coloca asfalto demais”. No caso dos bueiros que formam buracos, o problema está nas camadas sobrepostas sem tratamento. “Tem que levantar o bueiro ou retirar antes todo o asfalto velho”, indica. Em nota oficial, a Superintendência de Conservação e Obras Públicas (Sucop) informou que a Operação Tapa-Buraco é realizada sem pausas. Por dia, são utilizadas 300 toneladas de asfalto nas ruas. Todo o material de recapeamento é produzido pelo próprio órgão, em sua usina de asfalto localizada em Pirajá. Observando que “a malha viária de Salvador é muito antiga”, a Sucop concorda que o período de chuvas não é o ideal para a aplicação do material, o que reflete no Verão. Mas, diz a nota, “o tapa-buraco é feito de forma emergencial nesse período para garantir o fluxo normal de veículos”. Matéria original Correio 24h Com vista para o mar: orla de Salvador tem 172 buracos

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