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SALVADOR

Confira os sete pecados dos ônibus da capital baiana

Tarifa cara, calor, falta de respeito, ônibus lotado... Os mais de 1 milhão de soteropolitanos que encaram os ônibus de Salvador diariamente conhecem bem a via-crúcis sobre rodas

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10/04/2013 às 9:10 • Atualizada em 28/08/2022 às 8:07 - há XX semanas
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A costureira Marta Sousa, 49 anos, sai de Cajazeiras 8 diariamente às 6h para chegar antes das 9h na Barra, onde trabalha. Luta para entrar no ônibus na Estação Pirajá. Quando entra, não consegue sentar. “Enche em menos de um minuto”, conta. De pé, padece de calor. “Como acordo muito cedo, acabo até dormindo em pé do tanto que o ônibus roda e fica parado no engarrafamento”. Marta só não consegue dormir quando tem alguém ouvindo música em volume alto. Marta está entre os 1,25 milhão de usuários diários do transporte público de Salvador que reclamam de problemas com a qualidade do serviço. O sonho da costureira para passar menos tempo dentro dos ônibus é andar de metrô, que terá a gestão transferida para o governo do estado. Enquanto o metrô não anda, o CORREIO foi às ruas mostrar os principais pecados do transporte coletivo da capital: de problemas de acessibilidade às viagens intermináveis, passando pelo calor e falta de respeito aos idosos, os usuários são os que mais sofrem com o sistema que funciona há 50 anos sem licitação – e sem fiscalização. O presidente do Sindicato das Empresas de Transportes Públicos (Setps), Horácio Brasil, admite que “as linhas de Salvador são uma verdadeira macarronada. Não há uma lógica”. Para desfazer a confusão, segundo o secretário municipal de Urbanismo e Transporte, José Carlos Aleluia, será necessária uma revisão completa de todas de linhas que circulam pela cidade. “Isso acontecerá com o lançamento da licitação que vai regular o sistema de concessão de transporte público em Salvador”, explica. O prefeito ACM Neto declarou, durante o final de semana, que a licitação deve ser apresentada em dois meses. Ordenamento O presidente do Setps diz que o reordenamento é uma reivindicação antiga. “As linhas precisam ser reordenadas para dar mais eficiência. É ruim para o usuário, para as empresas que entram numa concorrência predatória e para o poder publico, que fica difícil fiscalizar”. Pelo projeto, será feito um novo traçado para reduzir o tempo e a distância da origem ao destino dos ônibus. Aleluia diz que está sendo realizado um estudo para reordenamento das linhas, que isso deve ficar pronto antes da concessão. As atuais 500 linhas devem ser reduzidas para 300 com o aumento da frequência dos ônibus e integração com linhas de menor distância. “Vamos fazer o reordenamento das linhas começando pela Barra. Lá, hoje, são 130 linhas circulando na hora de pico. A cada 30 segundos passa um ônibus para destinos semelhantes”, argumenta. A reforma deve ainda alternar o posicionamento dos pontos de ônibus para reduzir o número de paradas e tornar as viagens mais ágeis (veja ao lado). Segundo Setps e prefeitura, a viagem mais longa é Barra-Pirajá. A linha chega a fazer um percurso de 32 quilômetros em 2h30. Legislação Hoje, em Salvador, 18 empresas operam o sistema sem nenhum instrumento jurídico que permita fiscalização pela qualidade do serviço. “As empresas não têm contrato com o município, é uma permissão não instituída”, explica a promotora do Ministério Público Rita Tourinho, destacando que dessa forma a prefeitura não consegue fiscalizar com eficiência. Segundo o Seteps, 45 milhões de pessoas usam os ônibus por mês. Dessas, 29 milhões pagam a tarifa, o que resulta em faturamento mensal de R$ 81,2 milhões.
1 - Problemas de acessibilidade O cadeirante Ernesto Santana, 21, que utiliza diariamente os ônibus de Salvador e Dias D’Ávila, estuda em Lauro de Freitas. Quando vai pegar o ônibus que faz a linha Vilas do Atlântico-Lauro de Freitas-Kartódromo precisa de muito esforço para ser visto pelos motoristas que, muitas vezes, evitam parar no ponto para não atrasar a viagem. O CORREIO flagrou um motorista que ia passar direto no ponto quando o cadeirante deu o sinal, mas parou ao ver a equipe de reportagem no local. “Eu não posso parar duas vezes aqui. Recebo essa ordem. Se a gente para, engarrafa tudo aqui. Ele (o cadeirante) é quem deve ir até o ônibus. Eu não posso parar num lugar e depois em outro só por causa de uma pessoa”, explicou o motorista do ônibus. Hoje, segundo dados do Setps, os novos ônibus da frota são comprados com espaços para cadeirantes, por determinação judicial federal.
2 - Desrespeito aos idosos Mais velhos e gestantes sofrem. “Os jovens fingem que estão dormindo e não dão lugar para os velhos. Sem falar dos motoristas, que, quando a gente bota o pé no degrau, pisam no acelerador”, diz a aposentada Maria Quitéria de Jesus, 77 anos.
3 - Lotação Na Estação Pirajá, todas as linhas que se deslocam em direção à Barra são chamadas pelos usuários de infernais pelo excesso de lotação. Há quatro anos, Valnei Oliveira faz o itinerário Pirajá-Barra 3. O percurso de ida e volta da linha dura cerca de 2 horas e meia. Nesse período dá para ir de Salvador a Feira de Santana, a 108 km da capital, e voltar. A linha percorre 32 quilômetros nas ruas da cidade. “Se acontece algum engarrafamento, por causa de acidente ou de alguma obra, esse tempo já chegou a quatro horas”. A média é de 13 km por hora. Segundo o Setps, nos ônibus cabem 45 passageiros sentados, mas em alguns casos chegam a levar 120 passageiros.
4 - Sauna Salvador tem 2.750 ônibus urbanos. Nenhum deles tem ar-condicionado. A idade média da frota é de 5 anos. Segundo o secretário municipal de Urbanismo e Transporte, José Carlos Aleluia, se houvesse na cidade um sistema de vias exclusivas para ônibus poderia ter uma frota menor, mais ágil e com possibilidade de usar ônibus com refrigeração. Enquanto isso não acontece, o calor reina nos ônibus. “Na hora de pico, a gente passa mal de tanto calor. Meio-dia, de manhã cedo, no final da tarde vira uma filial do inferno de tão quente”, reclama a comerciária Roberta Rodrigues, que mora no Rio Sena e trabalha na Lapa. Os ônibus que possuem ar são só os executivos (apenas 90, segundo a Transalvador) e com tarifa R$ 0,20 maior. “Mas o calor é tão grande que muita gente tá vindo pro executivo e o calor tá ficando maior”, conta João Santos, motorista de executivo. 5 - Horários O descumprimento dos horários previstos é uma reclamação constante dos usuários. Segundo a Transalvador, responsável pela fiscalização, todas as multas aplicadas pelo descumprimento do horário de saída e chegada dos ônibus estão sendo reavaliadas, com possibilidade de serem desconsideradas porque, no ano passado, as empresas alegaram à Justiça que a necessidade de dar uma hora de descanso para funcionários estaria provocando os descumprimentos. O Ministério Público impediu a Transalvador de aplicar novas multas antes da licitação do transporte. 6 - Barulho Ônibus velhos e lotados, calor e engarrafamento. Esses tormentos irritam o passageiro se junto vierem ainda os DJs do Buzu, que ouvem suas músicas em som alto sem usar fones de ouvido. “Tem dias que é um caos. Cada um escuta uma música diferente. Não tem cristo que aguente. No engarrafamento, eu fico louca”, diz a aposentada Eva Andrade. Lei municipal entrou em vigor, em março deste ano, proibindo o uso de equipamentos sonoros dentro dos ônibus, mas a Transalvador indica que a fiscalização é difícil.
7 - Viagens São cerca de 500 linhas na cidade. Para Horácio Brasil, o número ideal seria 350 para ter maior frequência das linhas e menor impacto nos engarrafamentos nos horários de pico nas regiões centrais da cidade. “Com o excesso de linhas circulando nos horários de pico, chegamos a ter 130 circulando por hora na Barra, por exemplo. Mas a Barra tem que ser o destino das linhas e não ponto de passagem”, explica. Segundo ele, o crescimento exacerbado de linhas se deu para atender a pedidos de vereadores. “Isso só parou no ano passado, quando foi assinado um TAC entre prefeitura e as empresas que proibiu a criação de novas linhas e a ampliação das linhas já existentes até que haja a licitação do serviço. Alguns vereadores apareceram no MP para pedir criação de novas linhas”, diz a promotora do Ministério Público Rita Tourinho. Secretário prevê faixa exclusiva na Paralela ainda este ano A licitação que vai orientar a concessão do sistema de transporte de ônibus vai exigir que todos os novos ônibus da frota tenham conforto. “O que inclui ar-condicionado. Os padrões de exigência devem vir no edital. Com a licitação, vai ser melhor para todos os usuários do transporte”, segundo explica José Carlos Aleluia, secretário municipal de Urbanismo e Transporte de Salvador. “Além disso, teremos as faixas exclusivas para ônibus com fiscalização eletrônica, inicialmente na ligação Paralela-Aeroporto, provavelmente ainda este ano”, destaca Aleluia. O secretário pontuou que há a necessidade de serem criadas linhas-tronco que liguem pontos de grande fluxo, como a Estação Mussurunga e a Rodoviária, com ônibus maiores, articulados, que comportam até 250 passageiros. Para o secretário, as demandas do transporte precisam ser resolvidas no menor prazo possível. “O metrô vai atender apenas 30% dos usuários, o restante será coberto pelos ônibus”. Reordenamento de linhas da cidade vai começar pela Barra O edital de licitação do transporte público de Salvador está sendo desenvolvido por um grupo de trabalho coordenado pela Secretaria Municipal de Urbanismo e Transporte (SMUT). De acordo com o titular da pasta, José Carlos Aleluia, o reordenamento vai começar pela Barra. “Lá, hoje, são 130 linhas circulando na hora de pico. A cada 30 segundos passa um ônibus para destinos semelhantes”, explica. “As linhas têm que fazer integração, fazer uma ligação com algum ponto de Salvador”, diz Aleluia. Ainda de acordo com o secretário, o edital vai prever que as empresas apresentem contrapartidas pela concessão do serviço, como manutenção das estações de transbordo e renovação da frota em um prazo inferior a cinco anos. “As empresas hoje não oferecem nenhuma contrapartida para o município. Elas só pagam os impostos que são obrigados por lei”, argumenta o titular da secretaria, José Carlos Aleluia. Salvador tem a 3ª maior tarifa entre capitais. Curitiba é modelo A tarifa de ônibus de Salvador é uma das maiores do país. Só perde para São Paulo (R$ 3), Campo Grande (R$ 2,85), Porto Alegre (R$ 2,85) e empata com Belo Horizonte (R$ 2,80). Segundo dados do Setps, a frota média de Salvador tem uma idade média de cinco anos. Segundo a prefeitura de Salvador, o modelo que inspira o transporte para a capital baiana é o de Curitiba, no Paraná, que é totalmente integrado, com ônibus de vários tamanhos que transportam ate 250 passageiros. De acordo com a Secretaria de Urbanização de Curitiba, a cidade passou por um processo de licitação em 2010 onde, por contrato, as empresas são obrigadas a usar mão de obra formada por trabalhadores da cidade e comprar ônibus novos e adequados à necessidade. Ao final de 3 anos e meio, a frota deve ser renovada e os ônibus antigos doados à prefeitura para que possam ser leiloados. São 1.930 ônibus urbanos e metropolitanos circulando na cidade paranaense com um total de 2,2 milhões de passageiros por dia. A tarifa custa R$ 2,60. São 11 empresas de ônibus e 3 consórcios na cidade. Matéria original Correio 24h CORREIO levanta os sete pecados dos ônibus da capital baiana

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