Não é somente sobre a lindeza da casca, porque é sabido por todos que, neste aspecto, todas elas empatariam de alguma maneira. As belezas externas, tão diferenciadas entre si, faziam parte somente de um pedacinho do que dominava a Senzala do Barro Preto, Associação Cultural Ilê Aiyê, no Curuzu, nesse sábado (20).
As deusas da Noite da Beleza Negra chegaram, assim como tantas das maravilhosas espalhadas pelo público, enchendo olhos no 39° concurso da Deusa do Ébano. Fortes, empoderadas e lindas de tantas formas, elas (e)levaram a Noite da Beleza Negra com formatos - de dentro e fora - que não pareciam competir entre si.
Bom, competição não era mesmo a palavra principal. "Vamos concorrer no ano que vem, mas somos todas vencedoras, porque é um momento sobre força e união de todas as mulheres, sobre a importância de quebra de preconceitos", ponderou Cleice Silva, 19, que aguardava na plateia com uma amiga, ansiosamente, as novas deusas.
As quebras
O projeto, que nos situa sobre a realidade que existe na capital baiana, marcada pelo racismo e pela profunda desigualdade social, chega para fortificar o espaço da mulher negra, que deve ser igual ao de qualquer outro ser humano. A proposta é de afirmação e orgulho da negritude e também das raízes com a cultura e a religiosidade de matriz africana. É dentro do candomblé que o bloco Ilê Aiyê nasceu e isso fica nítido na proposta refletida em seu rico patrimônio simbólico (cores, ritmos, mitos, valores, fazeres e princípios), que chega para quebrar tantos outros preconceitos, com a bondade que emana em respeito a cada um.
Mafoane Odara, representante da Rede Pela Diversidade da Avon, patrocinadora do evento, falou sobre 'a beleza que faz sentido' para o CORREIO. "A beleza que faz sentido é aquela que une o externo e o interno, que tem charme, verdade e autoaceitação. A nossa escolhida vai ter tudo isso". E, teve!
Artistas respirando respeito
A Rainha do Muzenza, Cláusia Mattos, 37, foi um dos nomes reconhecidos pelos camarotes. "É um evento tão importante, é sobre a garra de todas as mulheres do mundo", contou. Caetano Veloso, Regina Casé e Giovanna Ewbank eram apenas alguns dos outros destaques que exalavam diferentes artes pelas mesas e cadeiras.
A Deusa 2018
Muitas belezas, muitos discursos de fé, axé e capacidade. Elas dominaram o palco, cada uma à sua forma, reunindo vibrações de todos os cantos. Mas houve um momento em que tudo pareceu mudar. Uma energia totalmente diferente tomou o local. A plateia parecia brincar entre se calar para contemplar e ir aos berros segundos após.
Era ela. Ela, que mexeu com todos os corações, mãos (que aplaudiam com força) e vozes (que bradavam!). Jéssica Nascimento, 19, sambou, literalmente - e no sentido mais lindo e gratificante. A estudante trouxe uma dança poética, reverênciou todos os tipos de belezas e brincou entre o corpo fazendo movimentos mais lentos e trazendo, em outras vezes, pés acelerados em um remelexo inconfundível. Ela parecia misturar tudo em uma só apresentação. Os movimentos formulavam, claramente, significados que contavam uma história. A história era de alegria e garra, em meio à tristezas e preconceitos vencidos pelo povo negro: no Brasil e no mundo.
O público estava estonteado perante a arte da jovem, que parecia ecoar a frase “Você pode se queixar porque a rosa tem espinhos ou se alegrar porque os espinhos têm rosas" (Zig Ziglar). A menina, com um punho fechado em cima da cabeça, vestia uma roupa em homenagem à Nelson Mandela, que foi citado e saudado na noite. Ela representava, como todas as outras, mas como nenhuma outra, todas as negras, as mulheres, as diferenças e igualdades.
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Redação iBahia
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