Da próxima vez que você for ao aeroporto de Salvador, melhor levar um kit de sobrevivência, pelo menos enquanto a prometida lanchonete popular, prevista para começar a funcionar até o fim do ano, não abre. No Aeroporto Internacional Luis Eduardo Magalhães, as mercadorias e serviços são até cinco vezes mais caros do que em outros lugares da cidade. Esse é o caso do valor da hora de acesso à internet, que custa nada menos que R$ 20, enquanto o preço médio na cidade fica em torno dos R$ 4. Mas a lan house não é a única vilã dos altos preços. Para comparar o poder de compra nos diversos países, a revista britânica The Economist criou o índice Big Mac (o preço, em dólar, do mesmo sanduíche em cada lugar do mundo). No aeroporto de Salvador não tem McDonald's, mas o índice Double Cheese, criado agora pelo CORREIO, varia 85% entre o Bob´s do aeroporto e o do Salvador Norte Shopping, a pouco mais de um quilômetro dali. Ou seja, a depender do local, você paga R$ 13,10 ou R$ 7 pelo mesmíssimo sanduíche. Mas, certamente, ninguém achará vantajoso tirar o carro do estacionamento, de R$ 6 a hora, para comer um Double Cheese em outro lugar, e depois voltar e ter que pagar outros R$ 6... ou mais. A tabela de preços do Well Park do aeroporto, comparada com o da Estrada do Coco, é bem diferente. No segundo, a primeira hora custa R$ 3, as subsequentes R$ 2 e a diária R$ 15. No pátio em frente ao aeroporto, a comodidade de deixar seu carro bem próximo ao saguão custa caro: R$ 35 a diária - o índice Well Park varia até 133% entre os dois lugares. O número é alto, mas ainda longe de bater o índice lan house, de 500%. Portanto, se você já sabe que vai ficar muito tempo esperando seu voo, trate de levar seu próprio notebook com sua internet 3G. Mas, olhe lá! Nada de ficar muito tempo em frente ao computador, pois se sentir uma dor de cabeça vai ter que desembolsar R$ 14,52 numa caixa de Novalgina gotas, preço 20% maior que o da mesma Farmácia Sant´Ana do Salvador Norte. O percentual é até baixo, comparado ao de outros medicamentos. O anticoncepcional Yasmin, por exemplo, que é um dos mais vendidos, varia 35% de uma farmácia para a outra. Estratégias Ruim para quem vai viajar, mas pior ainda para quem trabalha no aeroporto. “Outro dia fui comprar um Dermacyd lá e desisti. Era muito caro!”, reclama a vendedora da Central do Carnaval Daniela Mota. Ela conta que, quando a fome bate, ela se vira como pode para não deixar o salário inteiro nas lanchonetes do local: “Eu como cachorro-quente ou misto lá fora, que o rapaz faz por R$ 2 para quem é funcionário”. As vendedoras da Elementais Leílda Marques Queiroz e Maristela da Silva Costa também têm suas manhas. “A gente traz a comida de casa. Aqui na loja tem micro-ondas, a gente esquenta e come”, conta Leílda. “A gente também costuma deixar umas frutinhas aí em cima, para quando der fome. Senão a gente vai trabalhar só para comer aí”, reclama Maristela. Na inflação da comida do aeroporto, não é só o Bob´s que abusa nos preços. Na Spoleto, o mesmo fettuccine pode custar R$ 17,90, para os clientes do aeroporto, ou R$ 15,90, para os do shopping. Lá, a água mineral e o refrigerante também variam de preço: a garrafinha de água custa 3,50 (aeroporto) e 2,50 (shopping), e a lata de refrigerante, R$ 4,20 e R$ 3,50, respectivamente. Já o preço de uma coxinha normal, sem catupiry, é R$ 6 na lanchonete Tabuleiro, do aeroporto. No Botequim Café, do Shopping Paralela, a mesma coxinha sai por R$ 4,40.
Explicação A justificativa das empresas para a diferença nos preços é a mesma: os altos aluguéis dos espaços. O Bob´s, por exemplo, esclareceu, por nota, que “o preço praticado no aeroporto é compatível com os custos operacionais diferenciados da loja”. A Farmácia Sant´Ana, por sua vez, fez questão de frisar que, mesmo mais altos, “nossos preços estão sempre alinhados com o Preço Máximo ao Consumidor (PMC)”, determinado pelo governo federal. Já diretor comercial da rede de estacionamentos Well Park, Jorge Novaes, endossa e detalha o discurso. “Para vencer a concorrência pública (e ter direito a explorar o espaço), concorremos com 25 empresas e, quem desse o maior aluguel, levava. E é claro que esse alto custo acaba refletindo para o consumidor”, explica. O diretor da Associação dos Concessionários Aeroportuários de Salvador (Acap), Franc Kragl, conta que o único critério utilizado pela Infraero no leilão dos espaços é o preço do aluguel. “A Infraero não considera o preço ao consumidor. É um leilão. É determinado um preço mínimo de aluguel e a empresa que pagar o maior valor vence a licitação. Aí depois ela vai compor seus custos, e isso acaba afetando o preço ao consumidor”, explica. Procurada, a Infraero, por nota, diz: “Esclarecemos que os preços mínimos estabelecidos nos nossos editais de licitações para concessão de uso de áreas comerciais é resultante de pesquisa de preços praticados em outros aeroportos de mesmo porte, e também no mercado local (origem da licitação), cabendo aos licitantes a formatação e apresentação das suas propostas, a qual deve, necessariamente, considerar ainda o seu próprio estudo de viabilidade de negócio”. Nem todos os produtos são mais caros Apesar do aluguel mais alto ser a justificativa para os lojistas cobrarem mais caro, muitas lojas não praticam preços maiores no aeroporto de Salvador. É o caso, por exemplo, da Central do Carnaval, da grife Elementais, da loja de surfe Mahalo e da franquia Água de Cheiro, cujas mercadorias custam o mesmo valor que em suas unidades nos shoppings. Salvador terá lanchonete popular ainda este ano O lanche no aeroporto é caro e o lanche no avião também. Mas ainda há uma esperança para a cada vez mais viajante classe C. Ainda este ano, a Infraero promete instalar uma lanchonete popular no aeroporto.
Isso significa que, ao contrário do que ocorre atualmente, a Infraero vai monitorar os preços dos alimentos praticados pela empresa concessionária. “Esse novo modelo de negócio inova pela comercialização de alguns produtos com preços registrados e acompanhados pela Infraero, de modo a atender as necessidades básicas de consumo dos passageiros e usuários, isso a partir da oferta de produtos alimentícios de qualidade e a preços compatíveis com os praticados em cada mercado, ação esta que acaba por incentivar a livre concorrência entre os concessionários”, esclarece o órgão através de nota. A Infraero também detalha que o valor de pelo menos 15 produtos à venda na lanchonete terão preços tabelados, estabelecidos no contrato e fiscalizados de perto pela estatal. A ideia é que todas as cidades-sede da Copa do Mundo tenham uma lanchonete popular até 2014. E a primeira delas já foi instalada, em Curitiba. Lá, desde 11 de julho, um cafezinho custa R$ 1 e um pão de queijo R$ 1,90, menos da metade dos preços cobrados por outras lanchonetes do mesmo aeroporto. Natal e Recife também já estão com as licitações em andamento para a contratação da empresa concessionária. Nessa última foi estabelecido que o salgado não poderá custar mais que R$ 3,20, a água mineral de 500 ml, R$ 2,30, e o pão de queijo, R$ 2. Esses são os preços máximos, o que não impede que a lanchonete faça uma graça e baixe os valores ainda mais. Em Salvador, os preços ainda não foram definidos, mas, por se tratar de Nordeste, não devem ser muito diferentes dos valores da capital pernambucana. Mas, em que pé anda essa maravilha por aqui? “O processo licitatório encontra-se em tramitação interna para publicação nos próximos dias”, garante a nota da Infraero. Que esses “próximos dias” cheguem logo, então! Matéria original: Correio 24hPreços nas alturas: consumir no aeroporto de Salvador custa até cinco vezes mais caro
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