O dia foi de dupla comemoração – pelo 193º aniversário da Independência do Brasil e pelos 100 anos da Avenida Sete de Setembro. Moradora de um dos prédios da avenida há mais de 40 anos, a aposentada Zenóbia Iraola, 77 anos, saiu de casa para assistir o desfile cívico-militar no Campo Grande: desde que se mudou para lá com a família, é de lei ver a passagem dos participantes.
“Nos anos em que não posso descer, assisto da janela mesmo. Desde que comecei a vir, é sempre essa riqueza. Já não lembro de tudo como era antes, porque minha memória está um pouco apagadinha, mas lembro que era lindo”, contou, aos risos. Com uma bandeirinha do Brasil na mão, ela foi acompanhada da irmã, Zenaide, 76. “Todos os anos venho ser patriota, porque nós devemos pedir que o Brasil melhore, que só nos dê alegrias, e não tristezas”, pediu.
Zenóbia Iraola, 77 anos, saiu de casa ontem para assistir o desfile cívico-militar no Campo Grande (Foto: Marina Silva/ CORREIO) |
Se dona Zenóbia não lembrava com clareza de seu primeiro desfile, a também aposentada Yêda Maria Lima, 70 anos, podia até contar os detalhes. Por ter crescido na região da Praça da Piedade, ela também costuma ir ao desfile todos os anos. “Antes, era mais desorganizado. Não tinha essas barreiras de ferro, era tudo de corda. Também comecei a trazer meus filhos, mas eles cresceram e agora eu venho sozinha mesmo. Só não posso deixar de vir”.
Assim como ela, a aposentada Maria Joana de Jesus, 75, também vai sozinha à parada, todo dia 7 de setembro, há 45 anos. Naquela época, havia recém-chegado a Salvador, vinda de Cravolândia, no Centro-Sul do estado. Lá em sua cidade natal, segundo ela, o desfile não era um grande acontecimento – não tinha nem banda, só alegorias marchando. “Por isso, eu sempre quis vir ver o daqui. Mas mesmo naquela época, aqui, não era como hoje. Não tinha tanta gente desfilando, tantos colégios.
A aposentada Maria Joana de Jesus, 75, vai sozinha à parada, todo dia 7 de setembro, há 45 anos (Foto: Marina Silva/ CORREIO) |
Aposentado da Marinha mercante, Nelson Cardoso, 79, estava todo saudoso quando os oficiais marcharam pela avenida. “Lembro dos meus tempos, do meu passado. Só desfilei uma vez, em 1968, porque eu estava sempre no mar. Minha vida foi no mar. Naquela época, as pessoas tinham mais respeito umas coisas as outras. Já chorei tanto aqui hoje lembrando”.
Como ele, quase 40 mil pessoas foram assistir ao desfile na manhã desta segunda-feira (7). Mas não eram só os nostálgicos que estavam por lá. Sara de Jesus, 7, foi acompanhada da mãe assistir ao desfile e a passagem do pai, que é militar. “Converso com ela sobre isso e tento trazer desde que ela era pequena”, contou a mãe, a auxiliar de cozinha Mônica Crispina, 36. E Sara sabe o que significa a Independência do Brasil? “Sei, já estudei na escola. A gente tirou fotos do meu pai, gravou. Foi muito bonito”.
O prefeito ACM Neto comentou o aniversário da Avenida Sete, que foi requalificada pela prefeitura e entregue na semana passada. “A gente comemora e celebra com uma cara nova, com Salvador cada vez mais bonita. A Avenida Sete mereceu novos investimentos por parte da prefeitura. Essa semana, devolvemos o relógio e esse é o momento que a gente olha para o passado valorizando o presente e começa a refletir sobre a Salvador do futuro”.
Foto: Marina Silva/CORREIO |
Neto ainda reforçou que o município tem um compromisso com o equilíbrio fiscal da cidade, especialmente diante da crise econômica enfrentada pelo Brasil. “Felizmente, não precisamos paralisar nenhum investimento. Todos os projetos com recursos do município serão continuados e concluídos, porque fazemos o dever de casa todos os dias”.
Já o governador Rui Costa disse que o Sete de Setembro deve ser tão referenciado quanto o Dois de Julho é, pelos baianos. “É uma data a ser reverenciada e construída todos os dias da nossa vida”. Ao lado do prefeito ACM Neto, o governador ainda disse que não é o momento de dar espaço a disputas políticas.
Segundo ele, a prefeitura e o governo do estado têm trabalhado juntos para a construção de encostas na cidade. “Às vezes, preferem colocar como disputa o que, na verdade, é somatório de esforços. Eleição tem data para acontecer e a gestão acontece todos os dias. Da parte do prefeito e do governador, a prioridade é cuidar do povo de Salvador”.
Foto: Evandro Veiga/CORREIO |
Para o comandante da 6ª Região Militar, general Artur Moura, o dia da Independência do Brasil é o momento de olhar o passado. “E também de verificarmos o que os brasileiros fizeram pela nossa independência, homenageá-los e olhar para o nosso futuro, para ver o que podemos fazer para construir o Brasil de nossos sonhos”.
O desfile durou cerca de três horas. Ao todo, participaram mais de 3,5 mil militares, 740 pessoas ligadas a entidades civis e 965 estudantes. Logo após o fim da parada, foi a vez das manifestações do Grito dos Excluídos, que traziam bandeiras de apoio à presidente Dilma Rousseff, assim como protestos contra o atual governo. “Somos contra todo tipo de discriminação, estamos aqui pelos desfavorecidos. Também somos contra a intervenção militar. Se tivemos uma luta para tirar isso, qual é o sentido de retroceder?”, comentou a técnica em enfermagem Ana Marta Rodrigues, 44, referindo-se aos manifestantes que pediam pela volta dos militares.
Yeda Coelho, 63, levou uma faixa pedindo intervenção militar e desafiou os livros de História do Brasil (Foto: Marina Silva/CORREIO) |
Eram pessoas como a pedagoga Yeda Coelho, 63, que levava uma faixa pedindo intervenção militar e desafiava os livros de História do Brasil. “Todo o sistema está doente hoje. Nós não tivemos uma ditadura. Tivemos presidentes militares. E não havia perseguição política para as pessoas de bem. Os comunistas dizem que a gente quer golpe, mas são eles que são golpistas”.
No resto do Brasil, os desfiles pela Independência vieram acompanhados por protestos. Em São Paulo, manifestantes pediam explicações ao governador Geraldo Alckmin sobre a chacina que matou 19 pessoas no mês passado, enquanto outros traziam cartazes de “fora PT”. Em Brasília, membros do Movimento da Resistência Popular queimaram pneus, enquanto gritavam contra a presidente Dilma Rousseff.
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