Com dívidas, a Superintendência de Trânsito e Transporte de Salvador (Transalvador) aplica a partir de hoje uma marcha a ré na fiscalização de trânsito da capital baiana. A escala dos agentes de trânsito foi reformulada e metade dos funcionários ficará em pé nos cruzamentos e pontos fixos da cidade. O motivo: 64 veículos foram retirados das ruas para serem devolvidos para a locadora de automóveis Tradekar Transporte e Serviço Ltda por falta de pagamento.
O superintendente da Transalvador, Renato Araújo, admite que a redução do número de viaturas nas ruas tem o objetivo principal de quitar débitos atrasados de nove meses do órgão de trânsito com a empresa. “Nosso contrato é de 157 veículos e estamos devolvendo 64. Vamos ficar com 93 entre motos e carros. O custo mensal desses aluguéis é de R$ 322 mil. Com essa redução, vamos economizar R$ 197 mil, que será abatido da dívida, que é de R$ 2,6 milhões”, afirma. Dos 93 veículos que ficaram, dois são kombis e quatro carros administrativos. O restante é para fiscalização.
O presidente da Associação dos Servidores em Transporte e Trânsito do Município (Astram), Adenilton Junior, afirma que a devolução dos veículos afeta o trabalho de fiscalização nas ruas. “Redistribuíram os agentes. Antes, 80% trabalhavam em viaturas. A partir de amanhã (hoje), metade ficará sem carros, parados nos cruzamentos das avenidas, sem poder se deslocar. Isso vai dificultar o acompanhamento das ocorrências na cidade. Vamos perder a mobilidade”, acredita.
Araújo, que era diretor de trânsito e assumiu a superintendência do órgão na quarta-feira passada, ressalta que a redução da frota não vai impactar na qualidade da fiscalização. “Boa parte dos fiscais vai trabalhar em pontos fixos onde costumeiramente há mais demanda de fiscalização. Eles vão estar ali onde vão poder resolver pessoalmente o problema”, argumenta o superintendente que assumiu no lugar de Alberto Gordilho.
“Quando assumi o cargo, identifiquei a dívida e busquei uma forma de resolver o problema. A única solução foi reduzir a frota temporariamente. Não cancelamos o contrato com a empresa. Quando terminarmos de pagar o débito, os carros voltarão a ser usados pela Transalvador”, diz Araújo, que já foi superintendente do órgão no ano de 2010.
Em nota, a Transalvador reforça que a frota atual, que é de 93 veículos, “atende perfeitamente à demanda. Além disso, não houve e nem haverá a redução do efetivo de pessoal, que estará integralmente nas ruas cumprindo o seu papel”.
redução O presidente da Astram aponta a redução na frota de motos como a principal perda para a fiscalização. “Só ficaram 14 motos nas ruas. Eram umas 30. Com o trânsito do jeito que está, o deslocamento ficará mais complicado do que é hoje”.
A assessoria de imprensa da Transalvador informou ainda que as viaturas devem ficar no pátio do órgão nos Barris devendo ser acionadas quando acontecer uma emergência.
O superintendente da Transalvador indicou que com a devolução dos veículos – motos modelo Yamaha e carros modelo Gol/2011 – o órgão poderá economizar dinheiro para investir na melhoria do trânsito da cidade. “Com a economia que vamos fazer pretendo, além de pagar o débito, sinalizar a Avenida Paralela, que precisa de melhorias nesse aspecto”, garante.
PagamentosO diretor da Tradekar Transporte e Serviço Ltda., George Gustavo, confirma o débito e as devoluções dos veículos. “Temos um contrato com a Secretaria Municipal de Planejamento, Tecnologia e Gestão (Seplag) há dois anos para fornecer veículos para locação para diversas secretarias. Há alguns meses a Transalvador está atrasando o pagamento das faturas”, afirmou.
Segundo o diretor da empresa, a Transalvador tomou a iniciativa de devolver os veículos. “O superintendente deu a alternativa de reduzir a frota locada para conseguir quitar o débito. Recebemos alguns veículos. Até novembro, devemos devolver todos”. Novembro é o prazo que a Transalvador estabeleceu para quitar o débito. Uma parcela de R$ 322 mil foi paga ontem. Faltam oito.
Além da Transalvador, Gustavo indica que outras secretarias da prefeitura estão com os pagamentos atrasados das locações dos veículos. “Várias estão com atraso, mas nenhuma está como a Transalvador”, pontua. Ele, no entanto, não quis revelar os nomes.
Especialista critica redução na fiscalizaçãoEspecialista em trânsito, o professor da Universidade Federal da Bahia Elmo Lopes Felzemburg criticou a decisão da Transalvador de manter fiscais parados. “Não tem motivo técnico para fazer isso. Não há justificativa técnica. Esse tipo de descontinuidade é reflexo da má gestão do trânsito”.
Felzemburg, que é mestre em transporte pela University of Birmingham (Reino Unido) e pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, aponta que é necessário haver um planejamento estratégico do uso de pessoal e tecnologia.
“Às vezes, vemos viaturas estacionadas sem diretriz de fluxo de trabalho. Cada hora mudam as formas de fiscalização e isso reflete no caos que o trânsito da cidade vive. Falta planejar”. O reflexo da dita falta de planejamento, segundo Felzemburg, provoca “um Deus nos acuda no trânsito da cidade. Enquanto não houver mudança na postura da gestão do trânsito, Salvador - e outras cidades do Brasil - viverão em caos”.
Matéria Original: CorreioDívida de R$ 2,6 milhões faz Transalvador devolver 64 carros e motos
Dívida de R$ 2,6 milhões faz Transalvador devolver 64 carros e motos |
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