Diogo foi baleado em ônibus |
O soldado Diogo Santos Freire, 29 anos, lotado há seis anos na 49ª Companhia Independente (CIPM/São Cristóvão), viajava à paisana em um ônibus da empresa São Cristóvão, que fazia a linha Barroquinha-Sussuarana, quando tentou evitar um assalto promovido por uma dupla armada.
Ao entrar em luta corporal com um dos bandidos, ele acabou baleado pelo comparsa e, horas depois, morreu no Hospital Geral do Estado (HGE).
Diogo é o 28º PM morto na Bahia em 2014 - o 26º que não estava em serviço.
No tarde da quinta-feira (11), os dois bandidos foram localizados e abordados por policiais da Rondesp, em Pau da Lima. Segundo a polícia, Eliomar Gomes dos Santos, o Boquinha, abordado na Rua Maria Chica, resistiu à prisão, entrou em confronto com os PMs e acabou morto.
Já Carlos Alberto Oliveira dos Santos, 22, foi abordado na Rua do Progresso e preso, com a pistola 380 que pertencia ao policial. A arma utilizada no assalto ao ônibus, um revólver calibre 38, foi encontrada em poder de Boquinha.
Segundo o delegado Odair Carneiro, titular da Delegacia de Homicídios Múltiplos (DHM), que está à frente das investigações, o bando já é contumaz na prática de crimes contra o patrimônio. A polícia suspeita ainda que outros três ou quatro bandidos estejam envolvidos, dando suporte em um carro.
Segundo o comandante-geral da PM, Alfredo Castro, ultimamente, os bandidos têm assaltado coletivos com apoio de comparsas em veículo próximo, para facilitar a fuga.
Rotina
Diariamente, quatro coletivos, em média, são assaltados em Salvador. Do total de crimes, somente pouco mais de 20% foram solucionados.
Os dados são do Grupo Especial de Repressão a Roubos em Coletivos (Gerrc) e indicam também que de janeiro até o último dia 7 de dezembro, quando foi feito o levantamento mais recente, foram registrados 1.381 assaltos a ônibus em Salvador, 18% a mais do que no mesmo período de 2013, quando as estatísticas apontavam 1.170 assaltos.
O titular do Gerrc, delegado José Mario da Silva Mota, afirmou que há uma dificuldade em solucionar os casos por conta da precariedade dos equipamentos de videomonitoramento dentro dos veículos, embora a presença de câmeras seja obrigatória por decreto municipal desde 2007.
“Hoje, posso lhe afirmar que cerca de 90% dos coletivos que circulam em Salvador, apesar de possuírem câmeras de segurança, rodam com os equipamentos desativados. Sabendo disso, o bandido se sente mais confortável para executar o crime, pois a identificação dele será dificultada”, afirmou o delegado, citando como exemplo o caso que terminou com a morte do policial Diogo Santos Freire.
“No próprio caso do PM, em Nazaré, entrei em contato com o gerente da empresa e ele me informou que o aparelho que armazena as imagens estava com defeito”, lembrou.
Vistoria
Para dificultar ainda mais, o delegado José Mário relatou que, mesmo nos casos em que a empresa fornece as filmagens à polícia, a baixa qualidade dificulta a identificação dos responsáveis, fazendo com que a principal ferramenta de apuração seja a descrição dos bandidos com testemunhas.
“Hoje, temos uma falta de investimento muito grande por parte das empresas. Além disso, a Transalvador, que é responsável por fiscalizar se os ônibus estão circulando com esses equipamentos, não tem realizado essa operação da forma devida”, apontou.
O CORREIO tentou contato com o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Público de Salvador (Setps), Horácio Brasil, e com a assessoria do órgão, mas não teve as ligações atendidas.
Já o superintendente da Transalvador, Fabrizzio Muller, reconheceu que atualmente as equipes de fiscalização do órgão têm flexibilizado as operações, devido à renovação da frota, fato que, de acordo com ele, tem demandado uma extensão no período de adaptação.
“Nós temos realizado vistorias de amostragem nas garagens das empresas, mas com o tamanho da nossa frota é impossível que todos sejam vistoriados todos os dias”, comentou Muller. “Caso o veículo não tenha as câmeras, a empresa é notificada e o ônibus é recolhido”, relatou.
Perigo maior
Os dados do Gerrc indicam que, para os assaltantes de coletivos, não existem dias da semana ou período do mês favoritos. No entanto, o maior volume de ataques ocorre entre as 18h e 20h30.
A incidência de assaltos também aumenta no período das festas de final de ano.
“Hoje, o mapa de atuação está bastante pulverizado. Contudo, existe uma preferência maior pelas avenidas Bonocô e Paralela, já que os criminosos podem embarcar e descer em pontos distintos da mesma via”, explicou o delegado José Mário.
“Outras áreas também têm preferência dos assaltantes. No próprio Vale de Nazaré (onde o PM foi morto), já foram registrados ao menos seis assaltos este mês. Inclusive, não descartamos o envolvimento desses bandidos com o caso”, afirmou.
Policial queria concurso e mudar de área de atuação
O corpo do soldado da PM Diogo dos Santos Freire, 29 anos, foi sepultado na tarde da quinta-feira (11) no cemitério do Campo Santo, na Federação. O comandante geral da Polícia Militar, coronel Alfredo Castro, compareceu ao velório e lamentou o ocorrido.
“A violência está na sociedade como um todo e o policial também é integrante da sociedade. É uma perda lamentável”, afirmou o coronel. Segundo ele, os militares são orientados a não reagir em situações de assalto.
No entanto, o comandante disse que entende a reação e que elas são motivadas por instinto. “Nós preparamos a sociedade de maneira preventiva, mas preparamos o policial para ser preventivo e reativo e, por isso, muitas vezes, mesmo à paisana, ele defende a sociedade de maneira reativa”, disse.
De acordo com o comandante Castro, 44 policiais militares morreram este ano na Bahia, 28 deles por assassinatos diretos, sendo que 26 desses PMs não estavam de serviço e dois trabalhavam no momento em que foram assassinados.
Enquanto outros 16 foram vítimas de causas não relacionadas à violência, como acidentes e suicídio. Já a Associação de Policiais e Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra) registrou 30 mortes de policiais militares na Bahia, vítimas da violência, este ano.
“O número mostra o quanto os policiais estão expostos à violência e o despreparo do poder público para lidar com a violência”, afirmou o presidente da associação, Fábio Brito. Emocionados, parentes, amigos e colegas do policial lotaram o cemitério para se despedir de Diogo.
Segundo os amigos do soldado, ele pensava em mudar de área e estava se preparando para fazer um concurso público. Diogo era o filho caçula de três irmãos e o único policial da família.
“Ele era um menino muito alegre, brincalhão. Adorava o que fazia. Sempre bem-humorado. A família está arrasada”, contou o comerciante Ubaldino Alves, primo da vítima. Segundo ele, Diogo contou que estava preocupado com a violência.
“A gente estava junto no São João e ele falou de como estava preocupado com a violência, com essa onda de crimes crescendo cada vez mais”, afirmou o comerciante. Durante o sepultamento, o pai de Diogo precisou ser amparado por familiares e os irmãos do soldado não quiseram comentar o assunto.
Diogo foi sepultado com honrarias militares e, durante a cerimônia, policiais cantaram o hino da corporação, fizeram orações e aplaudiram o PM. Diogo não era casado e não tinha filhos.
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