Por quatro anos, muita gente falou pela médica Kátia Vargas. Juristas, policiais, jornalistas, pessoas comuns que acompanharam o caso pelo noticiário. Todos tinham sua própria versão para o que aconteceu em 11 de outubro de 2013, quando ela foi acusada de ter provocado o acidente de trânsito que resultou na morte dos irmãos Emanuel e Emanuelle Dias.
Mas, desde dezembro de 2013, momento em que sua então assessoria de comunicação divulgou um vídeo no qual Kátia falava por pouco menos de três minutos, ela ficou em silêncio. Nunca tinha conversado com a imprensa até esta semana, quando concedeu uma entrevista exclusiva ao CORREIO.
A dois dias do julgamento, Kátia sabe que sua vida nunca mais será a mesma. Depois de um período sem sair de casa, ela voltou a trabalhar e retomou o trabalho voluntário que fazia em organizações sociais de Salvador. Por outro lado, nunca mais dirigiu um carro. “Vivo à base de remédios e a minha família está destruída”, revelou.
Ela conta que sempre teve vontade de conversar com a família dos irmãos, mas a repercussão do caso impediu a aproximação. Em vários momentos, Kátia reitera que é inocente e que confia na Justiça, mesmo que tenha sido “transformada em um monstro”. “Eu me envolvi em um acidente, trágico, mas não sou criminosa”, diz ela, que deve comparecer ao júri acompanhada do marido, da mãe e dos dois filhos.
Por e-mail, ela respondeu às perguntas feitas pelo CORREIO. A única pergunta que ficou de fora foi: ‘O que aconteceu no dia do acidente?’. Segundo o advogado de Kátia, José Luis Oliveira Lima, “em respeito aos jurados e juíza, essa indagação será respondida no plenário”.
Confira a entrevista na íntegra:
A poucos dias do julgamento, qual é a expectativa da senhora?
Tudo o que peço é um julgamento justo. Eu confio na justiça. Sou inocente.
Como lidou com a pressão e a ansiedade nos últimos anos, enquanto aguardava o julgamento?
Minha vida parou. Deixei de trabalhar durante um tempo, não tive coragem de sair de casa, vivo à base de remédios e a minha família está destruída. Aos poucos consegui voltar a trabalhar. Nunca mais dirigi um veículo. Minha vida nunca mais será a mesma, assim como a da família das vítimas. Não estou comparando as dores das duas famílias, ambas vítimas de uma tragédia. A minha dor não exclui a dor da outra.
Qual foi a importância da religião nesse processo?
Eu sempre fui religiosa. A fé me acalmou e não permitiu que eu tivesse feito algo pior contra a minha vida.
Em 2013, quando divulgou o vídeo de seu depoimento, a senhora afirmou que gostaria de encontrar a mãe de Emanuel e Emanuelle e conversar com ela, olho no olho. Em algum momento, a senhora tentou essa aproximação? Hoje, em 2017, ainda tem essa vontade?
Sempre tive vontade de falar com a família da vítima, mas a repercussão que o meu caso teve foi tão grande que impediu esse contato. Eu gostaria de estar com a mãe de Emanuelle e Emanuel e dizer a ela que não consigo imaginar a dor que ela sente por essa tragédia, pela morte de dois filhos. Dizer também que não matei os seus filhos, que não bati na motocicleta. Me envolvi numa tragédia, em um acidente, mas nunca quis matar alguém.
A senhora acompanha, de alguma forma, o que é dito sobre o caso nas redes sociais?
Alguma coisa, fico assustada com a vontade que as pessoas têm de me matar. Fui transformada em um monstro, numa criminosa perigosa. Tenho dois filhos, sou casada há mais de vinte anos, nunca tive nenhum problema na minha vida. Por que tanta raiva, tanto ódio. Eu me envolvi em um acidente trágico, mas não sou criminosa.
Muito se falou sobre como o acidente afetou também a sua família. Como é a sua relação com sua família hoje?
Vivo à base de remédios e tratamento psiquiátrico. Meus filhos sofreram muito, pois tiveram que lidar com a exposição da sua mãe, que ficou presa. Paulo, meu marido, foi um companheiro de todos os momentos e me apoiou sempre.
Quais são os seus planos para a vida após o julgamento?
Não consigo fazer planos, tudo o que sonho é provar que sou inocente.
Nesses quatro anos, a senhora voltou a trabalhar. Conseguiu retornar a fazer mais alguma outra atividade?
Voltei aos poucos a trabalhar na clínica e retomei os meus projetos comunitários e sociais, Solidariação e Corrente do Bem, que atende várias creches da cidade de Salvador.
A senhora acredita que vai ser absolvida?
Apesar de todo o massacre que a imprensa fez comigo, eu acredito na justiça, continuo acreditando nas pessoas de bem. Sei que esse acidente acabou com a família da vítima. Não consigo imaginar o sofrimento da mãe dos meninos, deve ser uma dor indescritível. Mas eu não matei ninguém, foi um acidente que criou uma tragédia para duas famílias.
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Redação iBahia
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