Diferente da maioria dos enterros, a dor, o choro e a comoção não foram as únicas marcas do adeus ao estudante Itamar Ferreira de Souza, 25 anos, encontrado morto sábado em uma fonte, no Largo do Campo Grande. É que, enquanto participavam do velório no Cemitério Campo Santo, na manhã de ontem, amigos e familiares recebiam a todo o momento informações sobre o crime — o que não só ampliou o desejo de justiça como deu margem a cobranças por segurança. Parentes, colegas e professores da Ufba pediram a punição dos culpados.
Pai e mãe de Itamar estavam inconsoláveis, sem forças para falar. Mas não faltou quem cobrasse um trabalho rigoroso da polícia. “O momento é de perplexidade e de solidariedade com a família, mas também de cobrar uma investigação exemplar do caso”, disse a reitora da Ufba, professora Dora Leal, presente no sepultamento.
Ao saber que dois dos quatro envolvidos no assassinato haviam sido presos, o irmão de Itamar, Moisés Ferreira, desabafou aos prantos: “tem que achar todo mundo. Eu quero justiça, meu Deus”. O número de pessoas que marcou presença no sepultamento mostrou o quanto Itamar era querido. “Uma unanimidade. Se relacionava muito bem com todos, com funcionários, professores e alunos. Agora é com a polícia, né?”, disse Giovandro Ferreira, diretor da Faculdade de Comunicação (Facom), onde Itamar cursava Produção Cultural.
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O fato de a vítima ser assumidamente gay levantou a possibilidade de o crime ter relação com homofobia. E, apesar de a polícia apontar para a ocorrência de um assalto seguido de assassinato, o Grupo Gay da Bahia (GGB) acredita em crime homofóbico.
“A homofobia não é apenas individual, mas também social e cultural. Ainda que não alimentassem ódio por homossexuais, os culpados certamente escolheram um gay para assaltar pela sua vulnerabilidade. O gay precisa se esconder, andar por lugares complicados para fugir das perseguições da sociedade. De modo que se trata de um crime de homofobia”, afirmou Luiz Mott, fundador do GGB, no Campo Santo.
Itamar Ferreira não chegava a ser um ativista do movimento gay. Mas fazia mais do que revelar sua orientação sexual. No Facebook, por vezes, defendia a liberdade de escolha e postava banners defendendo os gays. “Tinha uma postura de convicção em relação a isso e tratava com naturalidade”, diz a amiga, Adriana Santana.
Itamar tinha acabado de retornar de um intercâmbio nos EUA. Iria se formar em setembro desse ano. Apesar de não ser um ativista do movimento negro, simpatizava com a causa. Havia iniciado um estudo comparativo da representação do negro nas televisões brasileira e americana. “A polícia tem a obrigação de encontrar todos os culpados não só desse, mas de todo e qualquer crime covarde”, também cobrou o professor Fernando Conceição, que orientava Itamar em sua pesquisa.
Familiares, amigos, colegas e professores acompanharam o cortejo no Cemitério Campo Santo |
Nos dois meses logo após a volta ao Brasil, Itamar trabalhou com assistente de pesquisa do Programa A Cor da Bahia, na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH), que desenvolve pesquisa sobre relações raciais no Brasil. “Ele voltou focado. Iria se formar com uma tendência de fazer mestrado. Infelizmente, esse tipo de crime se repete no Brasil por conta da impunidade”, disse uma das pesquisadoras associadas ao programa, Zelinda Barros.
Itamar gostava de fazer exatamente o que fez na última noite antes de morrer: sair com os amigos. Um dos locais preferidos era o Rio Vermelho. Entre os colegas, é apontado como um sujeito bem humorado, extrovertido e que fazia a alegria de quem estava por perto. “Era aquela pessoa do grupo que despertava gargalhadas, agradável, não perdia a piada”, diz Adriana, que esteve com o amigo no Rio Vermelho no fim de semana passado.
Matéria original Correio 24h
"Eu quero justiça, meu Deus" desabafa irmão de estudante da Ufba morto
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