A ex-deusa do Ébano e professora de dança afro Gisele Soares usou as redes sociais, neste domingo (13), para denunciar uma abordagem truculenta que teria sofrido por agentes da Guarda Civil Municipal, na última sexta-feira (10), na região do Centro Histórico de Salvador. As informações são do g1 Bahia.
No vídeo postado, Gisele diz que estava com amigos em frente a uma banca de livros na região da Ladeira do Ferrão, no Pelourinho, quando sofreu a abordagem. "Fomos não abordados, mas violentados completamente por um guarda municipal", disse.
Segundo a professora, o grupo estava próximo da calçada, quando um agente teria chegado com um carro para estacionar no local. "Ninguém que estava comigo viu que ele tentava estacionar o carro. Ele chegou muito truculento e começou a me xingar, e eu sem entender, e ninguém entendeu. A gente parou e olhou para a cara dele", contou.
Gisele diz que retrucou o agente e disse que não havia percebido que ele tentava colocar o veículo no local. A professora conta que nesse momento, o agente teria engatilhado a arma e seguiu em sua direção.
"É muito doloroso lembrar. Hoje eu passei pelo local e fiquei muito abalada porque me senti totalmente coagida, oprimida e impotente com um guarda municipal com a arma engatilhada em minha frente, sem eu ter feito nada, me chamando de desgraça, me agredindo verbalmente como se eu tivesse cometido algum delito muito grave e isso no meio do Centro Histórico", disse.
Ela conta ainda, que após a situação sentiu medo ao andar nas ruas. Ela ainda afirmou que a abordagem só teria ocorrido desta forma por se tratarem de pessoas negras.
"Hoje eu me senti totalmente insegura na rua. Eu moro aqui e tenho certeza que se fosse um grupo de pessoas brancas paradas em frente a livros, elas não seriam tratadas assim. Eram três pessoas pretas vestidas de branco em uma sexta-feira vendo livros. Quando eu cheguei em casa recebi um abraço da minha filha de cinco anos. Eu tive medo de morrer por uma guarda municipal", disse.
A professora de dança, que também trabalha como guia turística, pediu que agentes públicos parem de tratar pessoas negras de forma truculenta. "Estou cansada e não quero morrer na mão da Guarda Municipal, nem da Polícia Militar, nem de quem quer que seja. Quero ter a liberdade de andar onde quer que seja. Parem de nos tratar como animais, parem de nos matar. Estou cansada e com medo," disse.
Ilê Aiyê manifesta apoio
O bloco afro Ilê Aiyê, um dos mais tradicionais de Salvador, divulgou nota de apoio a Gisele, que em 2017 foi Deusa do Ébano, espécie de rainha do bloco.
O Ilê diz ser "inadmissível que uma instituição que deveria dar segurança a população atue dessa forma". O comunicado do bloco diz ainda que "precisamos saber se estas pessoas estão realmente preparadas para portar armas de fogo".
O bloco diz ainda que, nesta semana, irá se reunir com as instâncias superiores, da Prefeitura de Salvador, para tratar sobre esse assunto. A nota diz ainda que "o Ilê Aiyê se solidariza com a nossa Rainha" e exige um posicionamento da Guarda Municipal de Salvador.
Guarda Municipal apura caso
Em nota, a Guarda Civil Municipal diz que já solicitou a apuração do fato. Segundo a Guarda, o agente vai prestar depoimento e Gisele será convidada para formalizar a denúncia para que os fatos possam ser apurados e esclarecidos pela Corregedoria da instituição.
Em relação à acusação de abordagem diferenciada para pessoas negras e brancas, o órgão disse que os agentes "recebem treinamentos e orientações voltadas para o combate ao racismo, em ações de parceria com a Secretaria Municipal da Reparação".
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Redação iBahia
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