Um bairro charmoso, onde, com o tempo, casarões e sobrados deram o lugar a luxuosos hotéis e pousadas no meio do Centro Histórico de Salvador. Ainda assim, o Santo Antônio Além do Carmo foi palco nesta semana de dois assassinatos em apenas dois dias, deixando moradores e comerciantes amedrontados. O crime mais recente aconteceu na noite de quarta (30), quando Sócrates Guilherme dos Santos, 27 anos, foi executado com três tiros à queima-roupa, na Chácara do Santo Antônio. Na segunda, a estudante de Direito Lorena Castro Ferreira Novais, 28, foi morta a tiros na porta de casa, no largo do Santo Antônio. De acordo com moradores da região, a morte de Sócrates, conhecido como Sossó, está relacionada à disputa pelo controle das bocas de fumo na comunidade da Chácara, que fica na encosta ao lado do Forte do Santo Antônio. O crime, ainda segundo vizinhos da vítima, foi cometido pelo traficante apelidado de Beira-Mar, que estaria “eliminando” os concorrentes da área. Moradores da chácara contam que ele pretende tomar o espaço deixado por Chiquinho, que comandava o comércio de drogas ali e morreu há cerca de um ano. Sossó foi morto na porta da casa da mãe, por volta das 18h. Testemunhas relataram que ele foi abordado por Beira-Mar e iniciaram uma discussão. “Aí, Sossó disse: ‘Ah, me deixa em paz’ e virou. Foi quando Beira-Mar sacou a arma e deu dois tiros na cabeça dele. Depois, chegou perto, deu o (tiro) de misericórdia no ouvido”, contou um dos moradores da localidade. O mesmo homem relatou que, após o crime, Beira-Mar ainda voltou para casa e foi dormir. “Ele anda espalhando que é capaz de matar a própria mãe. Um cara que diz isso, não tem piedade de ninguém”, declarou a testemunha. Familiares de Sossó não quiseram comentar o caso, investigado pelo Departamento de Homicídios. Ontem, a unidade não passou informações sobre as investigações. TráficoQuem mora na região afirma que o comércio de drogas já subiu da encosta da Chácara de Santo Antônio e se instalou no largo da igreja. “Como não temos policiamento constante, porque o módulo foi desativado, o povo sobe e faz do largo ponto de venda de maconha e crack. Antes, a gente circulava tranquilamente. Hoje, vivemos à base dos cadeados”, contou uma dona de casa que mora por ali há 35 anos. Com o tráfico, chegaram os assaltos. “Muitos jovens roubam para comprar a droga. A pé ou de moto, os bandidos tocam o terror. Deixei de fazer minha caminhada matinal no largo e antes das 19h já estou trancado em casa”, declarou um comerciante que trabalha na região há 45 anos. Polícia Ontem, o CORREIO encontrou uma dupla de policiais do 18º Batalhão durante ronda de moto, no Largo de Santo Antônio. “Isso aqui é uma falsa tranquilidade. A bandidagem está espalhada. Abordamos vários suspeitos e não encontramos nada. Vem muita gente de fora para cá. Sem falar que a encosta dá para a Avenida Jequitaia, região de fuga”, declarou um dos policiais. A Polícia Militar foi procurada para informar o efetivo do 18º Batalhão, mas o comandante não foi localizado. Um policial lotado no batalhão e preferiu não se identificar disse que o módulo, apesar de defasado, funciona em dias úteis, das 7h às 19h. PousadasA “falsa tranquilidade” chegou aos turistas. Segundo a gerente da Pousada Beija-flor, Lamia Zatte, em março duas chilenas foram assaltadas na porta da pousada. Em janeiro, o mesmo ocorreu a um casal de argentinos. “Levaram dinheiro e câmera”. Funcionária da Pousada e Restaurante Hilmar, Sandra Borges disse que a ocupação na região despencou. “Nessa época, mais da metade dos 15 apartamentos estava ocupada. Hoje, só cinco. A imagem do Centro Histórico lá fora é de local perigoso”, contou ela. Um dos hotéis mais luxuosos de Salvador, o Pestana Convento do Carmo, fica a cerca de 850 metros do local onde Sossó foi executado. Funcionários falam em queda na ocupação e no valor das diárias, mas a gerência não foi encontrada para comentar. Já a dona do Solar do Carmo Hotel, Flávia Taiano, tem um método para dar mais segurança aos hóspedes. “Eles já saem com a fitinha do Bonfim para evitar abordagens. Faço um mapa indicando aonde devem e não devem ir. Oriento para não andar com correntes, celulares e câmeras”. Caça-níqueisA morte da estudante de Direito Lorena de Castro Novais, 28, executada na sua casa no Santo Antônio, segunda-feira, estaria relacionada a um acerto de contas. Ao menos é o que dizem moradores do bairro ouvidos pelo CORREIO. Segundo os vizinhos, Lorena trabalhava numa empresa de caça-níqueis ligada a bicheiros. “Ela era tranquila, mas estava envolvida com esse tipo de negócio. Todo mundo aqui sabe disso”, disse um vizinho. A família de Lorena não quis comentar o assunto. Já o delegado Jorge Figueiredo, diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), disse, sem dar detalhes, que “a equipe está com a investigação bem avançada e já tem um indicativo da autoria”. A delegada responsável pela investigação, Klaudine Passos, não foi localizada. Lorena, que era aluna da Faculdade Pedro II, estava na garagem e foi atingida por seis tiros. *Matéria original Correio 24h: Nova execução no Santo Antônio faz temor crescer no Centro Histórico
Veja também:
Leia também:
AUTOR
AUTOR
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!
Acesse a comunidade