Que Salvador tem poucos espaços para a realização de eventos culturais, todo mundo sabe. Essa é uma reclamações recorrente em mesa de bar, fila de bilheteria e reuniões de amigos. Mas o problema se intensificou nos últimos tempos depois que alguns dos principais endereços onde eram realizados shows e espetáculos foram fechados. Se já existia um déficit, ele se tornou ainda maior.
Concha Acústica do TCA fechou em dezembro de 2013 para início das obras de requalificação. (Foto: Divulgação/Secom) |
Primeiro foi a Concha Acústica do Teatro Castro Alves, que fechou em dezembro de 2013 para início da primeira etapa das obras de requalificação do complexo. Em junho de 2014, o Clube Fantoches foi embargado pela Superintendência Municipal de Controle e Ordenamento do Uso do Solo (Sucom) por falta de um plano de segurança e emergência, dentre outras coisas.
Depois foi a vez do Parque da Cidade trancar os portões, em novembro do mesmo ano, após ordem de serviço assinada pelo prefeito, também para requalificação. Em abril desse ano, o Bahia Café Hall encerrou suas atividades para ser reintegrado ao estado, depois de cinco anos de briga judicial com seus antigos administradores.
E no mês passado, foi a vez da Arena Fonte Nova, que enfrentou obstáculos judiciais para a realização de eventos não esportivos e teve que cancelar o projeto Som na Fonte, que reuniria oito atrações de peso da música brasileira.
Em janeiro, a Arena já tinha passado pelo mesmo problema, devido a uma liminar que impedia a realização de shows até que fossem adotadas providências de isolamento acústico.
Concha Acústica deve reabrir em agosto deste ano. (Foto: Divulgação/Secom) |
Queixas
“Sempre foi difícil, mas esse é o pior momento pelo qual estamos passando. Em 31 anos de produção, nunca passei por coisa igual. Porque, coincidentemente, a Concha, um dos espaços principais da cidade, entrou em reforma; o Bahia Café Hall, que supria uma demanda, fechou; a outra opção que era o Clube Fantoches está com problemas... A gente hoje só tem teatro, mas eles não têm espaço para grandes shows e já têm sua própria demanda”, explica a produtora Irá Carvalho, da Íris Produção.
Ela não está sozinha no coro dos insatisfeitos. Dalmo Peres, diretor da produtora Caderno 2, também lamenta a carência de locais para eventos culturais. “Eu acho que Salvador está bastante defasada nessa questão. No Nordeste, existem exemplos melhores em Recife e Fortaleza, por exemplo. E não era para ser assim, já que Salvador é uma cidade muito importante para o Nordeste”, diz.
Para o maestro Ricardo Oliveira, diretor-fundador dos Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (Neojiba), a deficiência fica ainda maior quando se fala do Subúrbio.
“Salvador sempre esteve carente, mesmo com os espaços abertos que tem. Mas precisa de equipamentos culturais não só no Centro da cidade, como também na Suburbana, Plataforma”, avalia. Para ele, a criação desses espaços contribuiria, inclusive, com a diminuição da violência. “A falta de acesso à estética, à beleza, faz a pessoa perder suas referências”, pondera.
Adaptação
Se o cenário é negativo, é preciso buscar alternativas. Por isso, muitos produtores encontraram a saída em outros espaços. O antigo parque aquático Wet’n Wild se tornou uma das principais opções para grandes shows. Com capacidade para 20 mil pessoas, o local é hoje um dos destinos centrais das produções musicais que chegam à cidade.
Outra possibilidade foi criar estruturas de shows em hotéis. O Gran Hotel Stella Maris, por exemplo, tem recebido grandes eventos. “Mas fica muito complicado para a receita cobrir o investimento. Porque tem que investir em estrutura, palco e, além disso, é preciso vender alguns pacotes de apartamentos da ala que fica próxima ao show e que não é comercializada para hóspedes”, esclarece Irá.
Tem ainda quem tente achar locais similares, mas sem o mesmo suporte. O Parque Costa Azul se tornou a alternativa para o projeto Música no Parque, realizado há 12 anos no Parque da Cidade. Já Zelito Miranda levou o Forró no Parque - também realizado no local - , para o Pelourinho.
“É a opção que se encaixa no momento. O nosso projeto não tem muita verba e o Parque Costa Azul já tem um palco, a Concha, vamos ter que complementar a estrutura. Se fôssemos para outro parque, por exemplo, seria complicado”, explica Dalmo, que realiza o Música no Parque.
A possibilidade de reabertura de alguns dos espaços é o único alento para quem depende deles para o fomento de projetos culturais. “Em alguns casos, como o do Parque da Cidade, a gente sabe que é para o bem da população. Mas a população sofre de qualquer jeito porque essa carência aumenta. Mas, pelo menos nesse caso, o sofrimento tem data para terminar”, conclui Dalmo.
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