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SALVADOR

Guias de turismo falam russo, grego e se arriscam no mandarim

Os mais de 70 mil estrangeiros que vão passar o Carnaval em Salvador este ano também se sentem mais confortáveis falando seu próprio idioma

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01/03/2014 às 10:48 • Atualizada em 02/09/2022 às 3:36 - há XX semanas
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Se não fosse confundir você, leitor, começaria esta matéria “falando” grego. Russo ou mandarim poderiam ser outras opções. Mas, para a comunicação acontecer direito, vamos conversar em bom português. Melhor, mais confortável, mais familiar.
Assim como você, que provavelmente se sente mais em casa falando sua língua nativa, os mais de 70 mil estrangeiros que vão passar o Carnaval em Salvador este ano (dados da Setur) também se sentem mais confortáveis falando seu próprio idioma. Pelo menos, essa é a filosofia seguida por monitores e guias de turismo de Salvador como Márcio Santos, de 29 anos.
Formado em Letras, ele fala inglês, espanhol, alemão, francês e até... russo! Tudo isso para unir a paixão pelos idiomas estrangeiros à vontade de ajudar quem vem de fora. “O turista estrangeiro fica feliz quando ouve a gente falando o idioma deles”, diz ele.
Ele conta que aprendeu russo influenciado por um amigo, com quem começou a estudar o idioma em Salvador. “No começo, era tudo muito estranho, até porque o russo usa o alfabeto cirílico, um alfabeto diferente do usado no português, francês e inglês”, lembra. Mas, hoje, Márcio garante que está preparado para ajudar. “Se vier algum russo, ele vai ser atendido no idioma dele”, garante.
Até hoje, ele nunca precisou usar o russo em uma situação de trabalho, mas lembra da felicidade de um turista alemão quando foi atendido por ele no idioma natal. “Começamos falando inglês, mas depois mudei para o alemão. Ele ficou feliz quando viu que eu falava o idioma dele”, lembra.
Mandarim
Por sua vez, a baiana filha de chineses Lau Shiao Lin fala mandarim fluente e vai se aventurar como monitora de turismo pela primeira vez no Carnaval. Já acostumada a trabalhar como intérprete para chineses que vêm à Bahia a negócios, ela vai se lançar este ano, pela primeira vez, no programa da Setur. “Grandes e pequenas empresas chinesas têm se instalado aqui, o que tem aumentado o número de chineses vindo para cá”, conta. Hoje, eles já são responsáveis por 1,5% do fluxo de turistas internacionais que vêm a Salvador.
Para o secretário Pedro Galvão, da Setur, apesar de os chineses ainda não estarem entre os principais emissores de turistas, esse é um público que pode crescer no médio e longo prazo. “A China tem crescido economicamente, levando a população a um estágio econômico melhor.
A esperança é grande de que isso aumente o número de turistas chineses no médio
e longo prazo”, afirmou. Mas a inexistência de avião direto para o país ainda é um dos empecilhos para que isto aconteça.
O guia de turismo Luciano Munduruca, 34 anos, gosta tanto de idiomas que virou professor de inglês e francês. Além das duas línguas, ele fala espanhol, alemão, francês, italiano e está estudando russo. Até mesmo o grego clássico, utilizado na escrita de mestres da filosofia como Sócrates e Platão, é objeto de estudo de Luciano.
E ele não quer parar por aí. “Quero também estudar japonês, mandarim e árabe”, acrescenta. Apaixonado pela possibilidade de ter contato com outras culturas, o guia de turismo se diz “alimentado” pela sensação de ajudar outras pessoas a se sentirem mais confortáveis, mais “próximas do lar”, quando chegam a Salvador.
“Essa sensação que me alimenta, de romper com a ideia: ‘Eles que tratem de aprender nossa língua’”, diz. “Não é bem assim. Eles aprendem o básico, mas cabe a nós ajudá-los também”, acrescenta.
Outra vantagem de falar vários idiomas é abrir-se para o mundo, aprofundar o contato com outras culturas, como destaca Luciano. “Você se torna cidadão do mundo quando ajuda um turista que vem de fora”, diz Luciano. “Com isso, faz contatos, ganha informação, melhora como pessoa”.
Ele assume que o uso profissional de idiomas mais distantes como o russo e o grego são praticamente nulos, mas descreve a reação positiva de um estrangeiro quando encontra alguém falando um idioma não muito divulgado: “A primeira coisa que eles fazem é arregalar os olhos. Depois, perguntam: ‘você fala alemão? Você fala italiano? Que legal!’”. “Imagine alguém falando português com você na Rússia. Acho que eles devem pensar: ‘Caraca, não acredito’”, brinca.
Luciano aponta, porém, que casos como o dele e de Márcio não são comuns. “Ouço reclamações de turistas com dificuldade de encontrar gente até com bom inglês”, critica.
Turistas na Bahia em 2013
Argentina 19%
Espanha 13%
Itália 10%
França 8,7%
Alemanha 7,7%
Estados Unidos 7,1%
Inglaterra 6%
Portugal 4,5%
Japão 1,5%
China 1,5%
Grécia 1,5%
Rússia 1,5%
Outros países diversos 18%
Programa da Setur oferece auxílio em até seis idiomas
Pelo sétimo ano consecutivo, os mais de 70 mil turistas estrangeiros que chegarão à cidade para curtir o Carnaval de Salvador têm desde ontem auxílio de profissionais do Projeto Guias e Monitores do Carnaval, da Secretaria Estadual do Turismo (Setur). Os guias são habilitados em até seis idiomas.
Os mais de 300 profissionais estão distribuídos em 21 localidades, como os principais hotéis, portões de entrada de Salvador, a exemplo do porto, aeroporto e rodoviária. Eles também estarão nos circuitos da folia e pontos estratégicos da capital baiana. Haverá atendimento em português, inglês, espanhol, alemão, francês e italiano. De acordo com o titular da Setur, Pedro Galvão, nos últimos sete anos foram feitos cerca de 500 mil atendimentos. “Somente em 2013, 144 mil pessoas utilizaram o serviço”, disse. A operação funciona 24 horas e vai até as 12h da Quarta-Feira de Cinzas.

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