Construída para dar fluxo ao trânsito de uma das áreas com tráfego mais complicado de Salvador, a Via Expressa Baía de Todos os Santos está facilitando a vida dos motoristas. Os pedestres, porém, não podem dizer o mesmo. O projeto previa quatro passarelas nos 4,5 km da nova rota. Mas, passados mais de 30 dias desde a entrega da obra, nenhuma delas está completamente pronta. Em maio deste ano, ao ser assinada a ordem de serviço para a construção das passarelas, foi estipulado o prazo de seis meses para que todas estivessem prontos, ao custo de R$ 16 milhões. Mas, até agora, somente as passarelas da Estrada da Rainha e no início da Avenida Heitor Dias, próximo à Rótula do Abacaxi, foram liberadas para o uso. Ainda assim, incompletas: não contam com elevador para pessoas com deficiência física.
Ainda falta o segundo equipamento da Heitor Dias, na altura da Vila Laura - que está com dois pilares e uma estrutura metálica -, e um previsto para a Avenida Barros Reis. Na opinião de quem precisa passar pela região, como o pintor Weslley Oliveira, os equipamentos prontos não atendem à demanda. “Deveriam ter feito primeiro essa aqui (próximo à Ladeira do Capoteiro). Aquela lá de baixo fica vazia, não tem muita gente que passa ali. Aqui é que tem gente que vem da Vila Laura ou da Cidade Nova, e que precisa do ônibus. Pouca gente desce lá e vem andando”, opina. Carlos Souza, que oferece serviço de mototáxi na região, também reclama da demora para entrega das passarelas. “Na verdade, era para ter inaugurado tudo junto. Como é que inaugura uma via sem as passarelas?”, questiona. A situação ficou ainda difícil para quem trabalha ou mora no entorno da Cidade Nova ou Vila Laura e precisa atravessar a Heitor Dias, depois do dia 29 de outubro, quando um passadiço improvisado foi desativado pela Companhia de Desenvolvimento do Estado da Bahia (Conder) para a inauguração da Via Expressa. Desde então, para fazer a travessia, é preciso andar até o Largo dos Dois Leões ou até a passarela no início da avenida. Mesmo com os riscos da antiga passarela de madeira, há quem sinta saudade. “Com a passarela de antes (improvisada pela Conder), era muito mais rápido pra atravessar”, diz o vendedor Marcos Silva, também reclamando da demora da construção. “Eu não vejo ninguém trabalhando aqui. Pelo jeito que as coisas estão, isso vai demorar muito de ficar pronto, e aqui todo mundo precisa atravessar a pista”, diz. Sem prazo Apesar das reclamações, o diretor de Obras Estruturantes e Mobilidade Urbana da Conder, Sérgio Silva, afirma que estudos preliminares determinaram a ordem de construção de cada passarela. “Fizemos estudos para começar pela que tivesse condição de dar funcionalidade à Via Expressa, que não interferisse a rede de energia, foi por conta das condições mesmo. E nós conseguimos em tempo recorde fazer essas passarelas mesmo com as chuvas”, argumenta Silva. Segundo ele, não há uma data determinada para que todos equipamentos sejam entregues completos. “No final da Heitor Dias, a previsão de entrega e finalização é até o final do ano. Eu não quero dizer um prazo porque às vezes atrasa. Como as vias já estão em operação, fica mais difícil fazer a montagem da passarela. Então, a gente está tentando fazer tudo o mais rápido possível”, disse.
Por terem que seguir um modelo único para toda a cidade, as peças que compõem as passarelas são fabricadas pela Companhia de Desenvolvimento Urbano de Salvador (Desal). “A gente faz por etapa, lança as vigas, faz a soldagem e depois coloca as estruturas pré-moldadas, que são fabricadas pela Desal, e estamos aguardando essas estrutura. Mas também não podemos dizer que é culpa da Desal”, observa o representante da Conder. A Desal, por sua vez, só conta com duas formas para produzir as peças pré-moldadas e uma delas chegou a quebrar durante a construção de uma das passarelas da Via Expressa, segundo o presidente do órgão, Marcílio Bastos. “Já estamos com as duas de novo e existe o planejamento de fazer mais duas. Estamos comprando material para que tenhamos as duas formas até julho de 2014. Vamos passar para quatro unidades e vamos ter formas reservas caso aconteça algum acidente ou a demanda aumente”, diz Bastos. Vans Enquanto todas as passarelas não ficam prontas, na Avenida Heitor Dias, os futuros usuários se apertam em vans e kombis disponibilizadas gratuitamente pelas empresas responsáveis pela obra para ir de um lado para o outro da Via Expressa. E conseguir uma vaga em um dos veículos não é fácil. Nos horários de pico, o empurra-empurra é grande. “É muito desconfortável isso aqui. Tem horário que é difícil conseguir entrar . Fora que a gente sempre pega engarrafamento ali na Rótula para fazer a volta”, reclama o técnico em mecânica Balmiro Cerqueira. O transporte é realizado por cinco veículos, que comportam 12 pessoas cada. Ou mais, porque na hora da pressa, tem passageiro que vai até no colo do outro, como a diarista Maria Silva. “Não tem como ficar esperando, porque aí eu chego atrasada no trabalho. Eu estou vindo até menos dias trabalhar aqui por causa dessa complicação. Eu não gosto de ficar me estressando por causa disso”, diz ela, que faz faxinas na Vila Laura. O motorista Alan Neves, que dirige uma das vans, confirma que em alguns momentos os passageiros vão até em pé. “Não pode, mas às vezes não tem jeito. Quando está engarrafado lá na frente e a outra van não volta, não tem como, tem que ir em pé mesmo”. Ele concorda que o número de veículos disponíveis não é suficiente para levar todos os passageiros. “Eu acho que deveria ter mais carro, porque cinco não dá, pelo menos não até as 8h30, que é quando tem mais gente esperando. E as pessoas reclamam e brigam com a gente, mas a culpa não é nossa”, justifica. Especialista espera agilidade na construção Na opinião da especialista em trânsito Cristina Aragón, a programação das obras da Via Expressa já deveria ter incluído a construção das passarelas desde o início. “Foi entregue a via para os carros, mas esquecendo-se dos pedestres”, diz.
Para Cristina, é preciso que todos os equipamentos fiquem prontos com urgência, para garantir a segurança de quem precisa atravessar as faixas. “Como a Via Expressa é larga e vai ter um fluxo maior de carros e caminhões, é necessária a conclusão das passarelas”, analisa a especialista. O uso das vans é uma boa alternativa para amenizar o problema da travessia, na opinião da especialista, mesmo com as reclamações de alguns passageiros que perdem os ônibus ao fazer a volta na Avenida Heitor Dias. “O mais importante é garantir a segurança dos pedestres. Melhor do que a travessia”. Nos locais onde o limite de velocidade não é alto, Cristina sugere que sejam mantidas as faixas de pedestres. “Enquanto a passarela não for entregue, devem ter semáforos em caráter preliminar para que as pessoas não corram risco ao atravessar”, concluiu. Passarela de Pituaçu virou marco de atraso Essa não é a primeira vez que Salvador sofre com o atraso na construção de passarelas. O caso que chamou mais atenção foi a montagem do equipamento em frente ao Estádio de Pituaçu, na Avenida Paralela, um único equipamento com custo de R$ 17 milhões – R$ 1 milhão a mais do que o destinado para as quatro passarelas da Via Expressa. A ordem de serviço da obra foi assinada em dezembro de 2010 e a passarela só foi liberada para a população em maio de 2012. E ainda assim, inacabada, sem os elevadores que garantem a acessibilidade de pessoas com deficiência - os mesmos que estão faltando na Via Expressa. A passarela do bairro de São Cristóvão também fez história. A montagem começou em 2009, mas a licitação só ocorreu em dezembro de 2010. Um ano depois, o Derba, responsável pelo serviço, garantiu que o equipamento estaria pronto em janeiro de 2012. Só que mais uma vez o prazo foi descumprido e só em março do ano passado a passarela foi liberada. Sem ela, os pedestres utilizavam um passadiço improvisado, feito de tapumes e estrutura metálica em péssimo estado. Matéria original do iBahia Inaugurada há mais de um mês, Via Expressa tem poucas passarelas para pedestres
No final da Heitor Dias, passarela está com pilares e parte da estrutura |
Para não cruzar a pista entre os carros, é preciso utilizar vans e kombis que lotam nos horários de pico |
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