O nome é meio complicado: Huayetalla Pilar. Idade? 63 anos. Naturalidade: Cusco, Peru. Raça: indígena. Ofício: baiana de acarajé. Ponto de venda: Copacabana. Não sei se o leitor entendeu bem, mas existe uma índia peruana que vive no Rio de Janeiro vendendo acarajé. Como conseguimos localizá-la? Fácil. Em uma espécie de “mapa do acarajé” que será oficialmente lançado em julho, claro, na Bahia.
Inserido em uma plataforma digital na internet, o mapa poderá ser encontrado no endereço www.oyadigital.com.br. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) investiu R$ 100 mil no desenvolvimento do projeto de organização e digitalização do acervo documental e na implantação da plataforma, produzida em parceria com o Instituto Palmares e a Associação das Baianas de Acarajé, Mingau e Receptivo (Abam). Dona Pilar, a peruana, pode ser encontrada no mapa com mais de 5 mil baianas de acarajé espalhadas pelo Brasil, incluindo as que não são exatamente nascidas na Bahia, como ela. No início da década de 1980, Pilar veio ao Brasil como doméstica de uma família baiana que morava no Rio. Nas férias, vinha à Bahia e adorava comer acarajé em Itapuã, onde aprendeu o ofício. Há 27 anos, vende o bolinho ao lado do Copacabana Palace. Hoje, além de tudo, é filha de Iemanjá e pratica o candomblé. “Pra mexer com o dendê tem que ser assim, né”, indica. Sonho antigo da Abam, a plataforma dá a mesma visibilidade às baianas. Em um clique, todas podem ser encontradas e têm seus perfis exibidos - de Fátima Solier, que vende o bolinho em Portugal (sim, há muitas baianas que trabalham fora do Brasil), até Mary de Jesus, 44, que desde que se entende por gente ganha a vida fazendo a alegria do paladar dos turistas bem no meio da Praça da Sé. “Tudo o que venha nos unir é importante. Juntas nós temos uma força que não sabemos”, afirmou Mary.
PesquisaMontar o projeto foi um exercício de muita pesquisa e paciência, com cruzamento de informações e organização de dados por parte da Fundação Palmares. O resultado só foi possível graças aos cadastros da Abam, da Secretaria Municipal da Ordem Pública (Semop) e da Federação do Culto Afro-Brasileiro (Fenacab). Antes de virar plataforma digital, uma empresa especializada em tratamento e digitalização de acervos realizou a higienização, classificação, catalogação, acondicionamento e disponibilização do arquivo físico de documentos. “Cruzamos os dados de cadastros que estavam em arquivos físicos, em estado precário. Agora está tudo digitalizado”, explica Maria Paula Adinolfi, antropóloga do Iphan, que esteve à frente do projeto. O nome Plataforma Oyá Digital é uma homenagem ao orixá patrono do ofício de baiana de acarajé - Oyá ou Iansã. No total, 5.261 já baianas entraram no cadastro. Além de permitir sua localização em um mapa, a plataforma dispõe de ferramentas de pesquisa para se obter dados de gênero, cor/raça, idade, religião, tipo de produto produzido, grau de escolaridade e até dias e horários que trabalham. Mas ainda não é possível traçar os perfis socioeconômicos completos, já que muitas baianas ainda não disponibilizaram todas as informações. Sabe-se, por exemplo, que das mais de 5,2 mil, apenas 240 são homens. Das 116 que até agora declararam sua cor, 69 são pretas, 44 pardas, uma branca, uma amarela e uma indígena - esta última, dona Pilar, claro.
Foto: Arquivo Correio |
Foto: Reprodução |
Veja também:
Leia também:
AUTOR
AUTOR
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!
Acesse a comunidade