Foto: Yne Manuella/Correio |
Em entrevista ao CORREIO na 11ª Delegacia (Tancredo Neves), o motorista comentou o caso. "Era a 4° viagem do dia. O carro estava cheio, tinha muita gente. Eu não vi muita coisa, só ouvi o pessoal gritando. Quando abri a porta e vi o sangue descendo, me desesperei", disse o motorista, que não quis se identificar. "Começou a juntar gente, então eu fui para a estação Pirajá buscar orientação".
Segundo o condutor, os moradores do bairro costumam forçar a entrada nos coletivos que transitam pela área, e que ele já chegou a ser ameaçado por alguns usuários do transporte coletivo. "O pessoal lá tem o hábito de pular no ônibus e forçar a porta", disse.
Ao CORREIO, testemunhas do acidente relataram que os motoristas não param no ponto de ônibus da área, e que a morte da Gabriel era uma "tragédia anunciada".
A Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob) investiga a denúncia dos moradores. De acordo com o secretário Fábio Rios Mota, as paradas de ponto de ônibus, maior alvo de reclamações dos usuários do transporte público, já são fiscalizadas em toda a cidade.
"Hoje a gente tem a frota monitorada 24 horas e sabemos onde o ônibus passa ou não passa. Vamos apurar isso, ver se as linhas que passam pelo Calabetão estão deixando de parar no ponto. Caso seja comprovado isso, a empresa será autuada. Além disso, vamos montar no local a operação 'Pare no Ponto', que já está em curso na avenida Suburbana desde o início do mês", disse Mota.
"Se o ônibus estiver acima de 20km/h, fica comprovado que não houve parada no ponto e a empresa é autuada e acionada para fazer a defesa dela e explicar o que aconteceu. Se a defesa for improcedente, a empresa será multada por cada ponto não parado", explicou o secretário. A primeira multa é de R$ 30. Em caso de reincidência, o valor sobe para R$ 50.
Corpo do jovem ficou preso ao ônibus e foi arrastada por sete metros, diz perito
Gabriel Soares Marques trabalhava há 20 dias como ajudante na transportadora Star Log, e estava a caminho do trabalho quando o acidente aconteceu, por volta das 6h30 desta sexta-feira (6). De acordo com a Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador), a vítima tentou embarcar no ônibus da empresa OP Trânsito quando as portas do coletivo já estavam fechadas.
Gabriel não conseguiu se segurar e caiu, sendo atropelado pelo veículo que fazia a linha 1398 - Estação Pirajá/Calabetão, de número de ordem 27029. Ele não resistiu aos ferimentos e morreu no local.
A vítima, Gabriel Soares Marques, tentou embarcar no ônibus em movimento e caiu. Ele trabalhava em uma transportadora (Foto: Yne Manuella/Correio) |
Um representante da OT Trans informou ao CORREIO que o motorista do ônibus entrou em contato com a Polícia Militar e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) após o acidente, e que fugiu do local para não ser linchado pela população, conforme orientações da própria empresa.
Ao CORREIO, os moradores comentaram que os coletivas não costumam parar no ponto de ônibus do local, e geralmente passam sem parar. "Sempre tem caso do pessoal caindo do ônibus, escorregando, indo pendurado. Isso que aconteceu já estava anunciado, a gente já estava esperando que acontecesse", afirmou um morador do Calabetão, que não quis se identificar.
"Moro aqui desde criança e sempre foi assim. Muita gente para pouco ônibus. O pessoal tem que ir trabalhar e como não tem outra solução, tem que se apertar pra não perder o horário do trabalho", disse o lavador de estofados Carlos Jesus.
A estudante Amanda Portugal, 16 anos, que estava dentro do coletivo no momento do acidente, disse ao CORREIO que o motorista do ônibus não costuma parar no ponto de ônibus onde Gabriel estava porque sempre vai muito cheio no horário das 6h.
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Segundo a adolescente, Gabriel tentou entrar pela porta do meio do coletivo, que estava fechada. "Acho que ele [Gabriel] não queria se atrasar, deu um pulo e caiu. Muitos fazem isso - pulam, se seguram e com a força eles abrem a porta do meio fechada".
Um perito do Departamento de Polícia Técnica (DPT) confirmou que o ajudante foi atropelado pelo coletivo. "O que se nota é que o ônibus estava fazendo a curvatura normal, trafegando abaixo de 20 km/h. Não dá para saber se o rapaz caiu do ônibus ou passava pelo local na hora, mas já sabemos que ele foi atropelado pela roda dianteira do lado direito do ônibus", disse o perito, que não quis se identificar.
"Ele [Gabriel] ficou preso na parte inferior do ônibus e foi arrastado por 7 metros. Ele teve a cabeça amassada, o braço atingido e a clavícula quebrada".
Mãe está em estado de choque; pai lamenta tragédia
Segundo o pai de Gabriel Soares Marques, Carlos José dos Santos, o jovem pegava esse mesmo ônibus todos os dias para ir ao trabalho. "Eu não moro com a família, sou separado da mãe dele, e estava em casa quando recebi a notícia que ele tinha caído do ônibus", disse o homem ao CORREIO.
Segundo o pai de Gabriel, o jovem estava empolgado com a contratação e cheio de planos - entre eles a compra de uma motocicleta. "Ele estava doido querendo trabalhar, e ficou super feliz quando consegui esse emprego para ele. E aí aconteceu uma fatalidade dessa", lamentou.
A mãe da vítima não teve condições de ir ao local do acidente. "Eu falei com ela por telefone, e ela está muito abalada. É uma coisa muito chocante para uma mãe, perder um filho de 20 anos, único filho homem, ainda mais dessa forma", comentou seu Carlos José.
Além dos pais, Gabriel era o caçula e deixou duas irmãs. O motorista do ônibus se encontra na 11ª Delegacia (Tancredo Neves), onde vai ser ouvido sobre o caso. O corpo da vítima foi encaminhado ao Departamento de Polícia Técnica (DPT), onde deverá passar por uma perícia antes de ser liberado para os familiares.
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