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SALVADOR

Orla de Salvador é dominada por atletas mesmo antes de renovação

Nos últimos anos, a orla de Salvador perdeu as barracas, foi se degradando e ficou esquecida, mas não por todos

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30/12/2013 às 9:47 • Atualizada em 02/09/2022 às 1:47 - há XX semanas
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O silêncio é tanto que dá para ouvir a inspiração enchendo os pulmões. São 5h, as luzes dos postes ainda estão acesas e os primeiros raios de sol ensaiam atravessar as frestas das nuvens para tocar o mar. Enquanto boa parte da cidade aproveita o último sono, centenas de pessoas em ação na Orla de Salvador transpiram com o último esforço físico.
Na cidade com a vista para o mar mais degradada do Brasil, os atletas do amanhecer oxigenam as praias e calçadões e ocupam os espaços públicos. De uns tempos para cá, seja com praticantes de triátlon ou polichinelo, entre 5h e 8h, a orla se tornou uma grande faixa de prática esportiva e vida saudável. Mesmo com o sol ameno, gente que participa de clubes de corrida, grupos de assessoria esportiva, escolinhas de vôlei de praia, futevôlei, beach soccer, remo e, mais recentemente, de equipes de treinamento funcional, suam em bicas bem no iniciozinho do dia. No meio de todos deles, há os atletas solitários. “Apesar da orla sucateada, a população que acorda cedo abraçou esse espaço. Um fenômeno que se iniciou há dez anos e hoje atinge seu ápice”, diz Diogo Andrade, do grupo de corrida Triação, um dos pioneiros na Bahia. Às vezes, só às vezes, falta espaço pra todos (ver box). “O pessoal vai se ajeitando. Tem orla para todo mundo”, observa Diogo. Pouco depois das 5h, na praia do Porto da Barra, muita gente já está entrando na água. O professor de matemática Jorge Foppel, 35 anos, só passa o dia bem se fizer isso. Integrante do grupo de triátlon Pace Sport, há oito anos tem fôlego suficiente para levantar da cama às 4 da matina. Chega na praia uma hora depois.“É a minha cachaça, uma boa cachaça. Pouco tempo atrás a orla estava vazia a essa hora. Ainda bem que muita gente está conhecendo esse vício. Um bom vício”, diz Foppel. Bem antes de os carros começarem a engarrafar as ruas, o professor de Educação Física Henrique Marinho pedala em alta na orla. Acordar cedo, diz ele, nem sempre é uma escolha. “Para o pessoal do ciclismo é preciso ir para a rua antes dos veículos”, destaca. RedesLogo após o Jardim de Alá, a praia de Armação, que até tempos atrás era uma das mais vazias da capital, hoje fica tomada logo cedo. “Comecei colocando uma rede aqui em Armação. Hoje chego a montar oito redes de uma vez”, afirma a professora de vôlei Gal Campos, que hoje divide espaço com outros grupos. “Quando cheguei, 15 anos atrás, essa praia era completamente inabitada. Quer coisa melhor que trabalhar sem engarrafamento?”. Entre os que cedo madrugam há, inclusive, os que não gostam do acordar com o cacarejar do galo, como o educador físico Alex Oliveira, da ACC Treinamento Funcional. “Se dependesse de mim só levantava depois das 10h”. Não parece. Às 6h, Alex já está correndo para um lado e para o outro gastando o gogó com instruções, marcando o tempo e mostrando como se completa os circuitos.
Naquele horário, às terças e quintas, tem a companhia de outros dois grupos do mesmo tipo de atividade. “A verdade é que, na academia é só empurra e puxa, empurra e puxa. Ninguém aguenta mais. Nada como um treino desse ao ar livre”, diz Alex. Mas, como abandonar o sedentarismo e entrar nessa rotina? “Tem que dormir cedo e criar um ritual. Quando chegar em casa à noite não ir para o computador, Facebook ou WhatsApp”, aconselha Jonga Pessoa, criador do grupo Iron Minds. Ele precisa acordar ainda mais cedo que os outros, já que não abre mão da própria atividade. “Levanto 3h40 para fazer o meu treino antes. Às 6h já estou dando instruções”. PrazerMas a orla e praia são também, e principalmente, de solitários corredores, nadadores e ciclistas. O orçamentista Ângelo Carvalho, 49 anos, é tudo isso junto e mais um pouco. Todos os dias enfrenta uma prazerosa maratona contra si mesmo. Morador do Politeama, acorda às 4h20 e desce correndo pela avenida Centenário até o Porto. Nada um pouco e sobe correndo pela Ladeira da Barra. Ao chegar em casa toma um banho, se arruma, toma uma vitamina e vai para o trabalho no Lucaia. Detalhe: vai andando. No total, se exercita por 80 minutos diariamente. “Faço isso há 29 anos e só agora a galera tá entendendo que o corpo precisa de atividade. Além de fazer bem à saúde, economizo R$5,60 de transporte”, gaba-se Ângelo. RemadaMas, ultimamente, talvez nenhum grupo de atletas da praia tenha crescido tanto quanto o dos praticantes de stand up paddle. Bem cedinho, os pranchões movidos a remadas já estão singrando as águas do Porto da Barra. Alguns remam até a Ponta de Humaitá, na Cidade Baixa. Junto com eles, a galera da canoa havaiana desponta. As duplas deixam as canoas na praia e, com a primeira luz, remam até sumir no horizonte. Prestes a colocar a embarcação na água do Porto, um casal ajeitava a sacola. “É o lanche?”, perguntei. “É o lanche, a água e tudo o mais”, disse o rapaz. São dias de saúde, bem estar e, ao menos dentro d´água, total tranquilidade na orla de Salvador. Divisão de espaços na areia ainda é feita na base da cordialidadeAntiguidade é posto. Pensando assim, os grupos de assessoria esportiva convivem bem na orla. Mas, já houve casos de falta de espaço. Em Armação, a areia era só de grupos de vôlei, futevôlei e beach soccer. Agora, clubes de treinamento funcional estão na área. “O pessoal chega dizendo que ‘a praia é pública’. Ok, mas cada um tem que conquistar seus espaços”, diz a professora de vôlei de praia Gal Campos, primeira a chegar no local. Já os grupos de corrida enchem o Jardim de Alá. Nada que provoque confusão. “A gente já sabe mais ou menos onde cada um fica e há respeito”, diz Henrique Marinho, do grupo ATP Run. Entre todos, há o receio de que aconteça o que já se vê no Rio e em Fortaleza. “Nesses locais, a falta de espaço já tá dando problema. Um dia vamos ter que organizar aqui”, acredita Alex Oliveira, professor de Treinamento Funcional.
Insegurança e infraestrutura geram queixasSe o volume de pessoas praticando esportes ao ar livre cresce, a cidade não acompanha esse ritmo. Há problemas estruturais e de serviço, a começar pela falta de segurança. “Acabamos de ser abordados. Não tem polícia esse horário na rua”, diz o vendedor Fernando Del-Rey, que pratica stand up no Porto da Barra. “Outro dia uma aluna foi assaltada e, volta e meia, tem um vidro de carro estourado”, conta Henrique Marinho, da ATP Run. “Depois que o comandante da polícia foi assaltado, passaram quatro policiais no dia seguinte. Aí parou”, afirma Olavo Gadelha, professor de futevôlei. Quanto à estrutura, há trechos do calçadão danificados e as praias não têm chuveiro ou escadas de acesso. “A gente traz a água em garrafões e toma banho aqui mesmo para ir para o trabalho”, revela o triatleta Jorge Foppel. Gal Campos, professora de vôlei, construiu por conta própria uma escada em Armação. “Não fazem, a gente faz por conta própria”. Stand up e Funcional viram febre nas praiasNo mar, praticantes de stand up padlle, que remam de pé com seus pranchões, se multiplicam e vão popularizando o esporte. às vezes, dezenas são vistos juntos no Porto ou em Itapuã. “As pessoas começam a despertar para as possibilidades do esporte náutico”, observa Fernando Del-Rey, entrando na água às 5h20 para remar do Porto até a Ponta de Humaitá.
Enquanto isso, na areia, em um circuito montado com pequenos cones, cordas, pneus e elásticos, o treinamento funcional começa a virar febre. Em uma atividade só, trabalha força, explosão e equilíbrio. “A rotina da academia é chata. Hoje as pessoas querem mais qualidade de vida do que o corpo perfeito”, diz Alex Oliveira, da ACC Treinamento Funcional. O trabalho é pesado. “Ai meu Deus, acho que não vou aguentar” e “Ai meu pai, não acabou ainda não?”, são algumas das frases que se ouve dos alunos. Após 50 minutos de treino, uma aluna larga: “Glória a Deus!”. Matéria original: Correio24h Mesmo antes da revitalização, orla de Salvador é dominada por atletas

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